24 janeiro 2012

Auroras boreais

Uma aurora boreal fotografada na Noruega em 20 de janeiro de 2010 (Foto: Ørjan Bertelsen)

As auroras boreais são fascinantes fenómenos luminosos, que se observam por vezes, durante a noite ou o crepúsculo, no céu das regiões do planeta situadas nas proximidades do Polo Norte. Nas proximidades do Polo Sul também se podem observar fenómenos iguais. Neste caso, estes fenómenos chamam-se auroras austrais.

As auroras boreais e austrais manifestam-se sob a forma de cortinas de luz coloridas, que ondulam magicamente pelo céu. A sua cor predominante é o verde, mas também podem ter outras cores, como vermelho, azul, etc.

Estes estranhos fenómenos resultam do choque de partículas eletricamente carregadas, que o Sol lançou para o espaço, com as camadas mais altas da atmosfera da Terra. São fenómenos que acontecem quando ocorre uma erupção solar, à qual está associada a existência de manchas escuras na superfície do Sol, chamadas manchas solares. O número de manchas solares aumenta ciclicamente de 11 em 11 anos, aproximadamente. Presentemente, estamos a entrar num período de maior número de manchas, que se prolongará por mais três ou quatro anos. Isto quer dizer que há agora uma maior probabilidade de ocorrência de auroras boreais e austrais nas regiões próximas dos polos.

A probabilidade de acontecer uma aurora boreal em Portugal é extremamente pequena, porque Portugal está muito afastado do Polo Norte. Teria que haver uma ejeção de matéria solar em direção à Terra verdadeiramente gigantesca para que acontecesse uma aurora boreal no nosso país. Nos dias 1 e 2 de setembro de 1859 ocorreu uma ejeção assim. Foi a maior tempestade solar que foi registada até agora, a qual provocou auroras boreais no México, em Cuba e em Itália, entre outros países. Não sei se também se viu alguma em Portugal nesses dias, mas pode ter acontecido.

A origem e as causas das auroras boreais e austrais são explicadas de forma muito simples num sugestivo vídeo. Infelizmente não há nenhuma versão deste vídeo em português; só há em norueguês e em inglês. A versão em inglês é a que se pode ver a seguir, mas antes de a apresentar, permito-me fazer a seguinte tradução para português do que nele é dito:

«Nas noites árticas, a aurora boreal flameja frequentemente à noite no inverno. O que é e de onde é que ela vem?

É aqui que a história da aurora boreal e austral começa: no Sol, uma estrela de tamanho médio, entre milhares de milhões de outras estrelas da nossa Via Láctea.

O Sol funciona como uma enorme central produtora de energia. A energia é criada bem dentro do núcleo do Sol. Aqui, a temperatura é superior a 14 milhões de graus e a pressão é tão gigantesca que os átomos de hidrogénio são fundidos uns nos outros, de modo a constituírem-se num outro elemento, o hélio. Esta reação nuclear liberta energia.

 Esta energia irradia a partir do núcleo do Sol. Nas camadas exteriores, a energia dirige-se para a superfície em gigantescas correntes elétricas induzidas de gás, chamadas células de convecção. Estas correntes de gás com carga elétrica criam campos magnéticos dentro do Sol. Em alguns lugares, fortes campos magnéticos irrompem através da superfície. Eles desaceleram as correntes induzidas de gás quente. A superfície arrefece e aparecem manchas solares mais escuras. O gás eletricamente carregado é chamado plasma. O plasma estende os campos magnéticos ainda mais para fora do Sol.

O campo magnético estica-se e torce-se como um elástico. A seguir, o elástico rompe-se. Vários milhares de milhões de toneladas de plasma são ejetados para longe do Sol. A isto dá-se o nome de tempestade solar.

A tempestade solar pode atingir velocidades de mais de 8 milhões de quilómetros por hora. Seis horas depois, ela passa pelo planeta Mercúrio. Doze horas depois, pelo planeta Vénus. E depois de passadas dezoito horas, a tempestade solar atinge a Terra.

Quando a tempestade solar atinge o nosso planeta, algo estranho acontece. Um escudo invisível -- o campo magnético da Terra -- desvia a tempestade. Os campos magnéticos do plasma solar e da Terra unem-se um ao outro e criam um funil, através do qual as correntes de gás se dirigem para o lado diurno dos polos. Estas são as auroras boreal e austral diurnas. A seguir, os campos magnéticos esticam-se mais para trás e unem-se um ao outro. O elástico magnético rompe-se e gás da tempestade solar encaminha-se através das linhas magnéticas em direção aos polos no lado noturno. Estas são as auroras boreal e austral noturnas.»



A seguir podemos ver um outro vídeo, que mostra uma aurora boreal registada no norte da Noruega. Neste vídeo, de belos efeitos, as imagens estão aceleradas.

22 janeiro 2012

Oração do Anjo Custódio

Anjo Custódio, por Joan de Joanes (1523-1579), pintor renascentista espanhol

Espécie de diálogo entre o Diabo e a pessoa que está disposta a resistir-lhe:

Diabo: Custódio amigo, tu queres ser santo?

Pessoa:
Custódio sim, amigo não!
Quero sim pela graça de Deus,
e do divino Espírito Santo.

Diabo:
Hás-de dizer-me doze palavras ditas e retornadas. Quais (sic) delas é a primeira?

Pessoa:
A primeira é a casa santa de Jerusalém,
donde Cristo, senhor nosso, padeceu por nós, amen.

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas é a segunda?

Pessoa:
A segunda são as tabuinhas de Moisés
Donde (sic) Cristo, senhor nosso, pôs os seus divinos pés;
e a primeira (repete), etc.

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas é a terceira?

Pessoa:
A terceira são as três pessoas da Santíssima Trindade; e a segunda, etc. (repete 1ª e 2ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas é a quarta?

Pessoa:
A quarta são os quatro evangelistas; a terceira, etc. (repete a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas é a quinta?

Pessoa:
A quinta são as cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo; a quarta, etc. (repete a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas é a sexta?

Pessoa:
As seis são os seis celebrantes; a quinta, etc. (repete a 5ª, a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas são as sete?

Pessoa:
As sete são os sete pecados mortais; as seis, etc. (repete a 6ª, a 5ª, a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas são as oito?

Pessoa:
As oito são os oito coros de anjos; as sete, etc. (repete a 7ª, a 6ª, a 5ª, a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas são as nove?

Pessoa:
As nove são os nove meses de Nossa Senhora, que trouxe o seu amado filho no seu divino ventre; as oito são, etc. (repete a 8ª, a 7ª, a 6ª, a 5ª, a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas são as dez?

Pessoa:
As dez são os dez mandamentos; as nove, etc. (repete a 9ª, a 8ª, a 7ª, a 6ª, a 5ª, a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas são as onze?

Pessoa:
As onze são as onze mil virgens do Algarve (sic); as dez, etc. (repete a 10ª, a 9ª, a 8ª, a 7ª, a 6ª, a 5ª, a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas são as doze?

Pessoa:
As doze são os doze apóstolos; as onze, etc. (repete a 11ª, a 10ª, a 9ª, a 8ª, a 7ª, a 6ª, a 5ª, a 4ª, a 3ª, a 2ª e a 1ª).

Diabo:
Custódio, amigo meu, etc.

Pessoa:
Custódio sim, etc.

Diabo:
Hás-de dizer-me, etc. Quais delas são as treze?

Nossa Senhora respondeu:

Treze raios tem o Sol,
Treze raios tem a Lua;
Arrebenta Diabo,
Que esta alma é de Deus, não é tua!

Nota -- Esta oração também é eficaz contra as bruxas; apenas se começa a rezar tal oração as bruxas vêm ter com a pessoa e pedem-lhe que a acabe (Terra da Feira).

Dita por uma velha da Terra da Feira, in Contribuições para uma Mitologia Popular Portuguesa e Outros Escritos Etnográficos, de Consiglieri Pedroso. Comparar esta oração com uma outra, publicada no blogue Sexto Sentido, do Brasil.

17 janeiro 2012

Algumas músicas velhinhas de Angola

Kalumba ("Mocinha"), por Elias dia Kimuezo ("Elias das Barbas")


Maria dia Pambala, por Fernando Sofia Rosa


Ngongo ya biluka, por Lourdes van Dunem


Belita Kiri-Kiri, pelos Ngoma Jazz


Sant'Ana, pelo músico cego Minguito

10 janeiro 2012

São Pedro das Águias

A ermida de São Pedro das Águias, Granjinha, Tabuaço (Foto: jorgsant)

Há lugares que parecem ter feitiço. Depois de os termos visitado, não mais voltamos a ser os mesmos, porque uma parte nós ficou presa nesses lugares. A ermida cisterciense de São Pedro das Águias é um lugar assim. Parece que tem feitiço.

A ermida de São Pedro das Águias é um pequeno templo em estilo românico, supõe-se que construído por volta do séc. XIII, a avaliar pelos motivos escultóricos que apresenta. Fica nas proximidades de uma localidade chamada Granjinha, que pertence ao concelho de Tabuaço, e acede-se a ela a partir da estrada nacional que liga Tabuaço a Moimenta da Beira. A ermida fica situada sobre uma espécie de plataforma inclinada, entre um fraguedo e o fundo do vale do rio Távora, que é um afluente da margem esquerda do Douro.

A entrada principal da ermida (Foto: Município de Tabuaço)

O que mais surpreende nesta bela ermida é a sua extraordinária proximidade de uma escarpa rochosa, da qual dista muito menos de um metro, e é, sobretudo, o facto de a sua porta principal estar virada para a escarpa e não para o rio. Os fiéis que quiserem entrar na capela pela porta principal só conseguirão entrar um a um, porque terão que se esgueirar entre a capela e a escarpa! A razão para este facto aparentemente estranho reside na tradição cristã de construir os templos com a porta principal virada a poente e a capela-mor virada a nascente. Neste caso, o poente fica do lado da escarpa; logo, a porta principal está do lado da escarpa e não do lado contrário.

O portal da ermida, em estilo tipicamente românico (Foto: Município de Tabuaço)

Como tudo o que é antigo neste país tem uma lenda associada, a ermida de São Pedro das Águias também tem a sua lenda. E como quase todas as lendas neste país envolvem mouros, esta também envolve. A lenda de São Pedro das Águias é a seguinte:

Dois cavaleiros de Entre-Douro-e-Minho, D. Rosendo e D. Tendo, teriam passado o Douro para dar combate aos Sarracenos, então firmados na vertente meridionasl do rio Douro. A fama das façanhas dos dois guerreiros espalhou-se entre os próprios Mouros, a tal ponto que duas filhas do emir de Lamego teriam decidido fugir do alcácer paterno, disfarçadas em trajos masculinos, para se entregarem aos dois paladinos da cruz. Uma dessas jovens mouras, principalmente, de nome Ardinga, sentir-se-ia irresistivelmente propensa a abjurar da sua religião, para se consagrar à crença do guerreiro cristão, D. Tedo, que, ansiosamente, procurava, fugindo à perseguição dos emissários do Emir lançados no seu encalço. Ao cabo de muitos perigos, alcançaram um sítio ermo onde encontraram um eremita, a quem Ardinga teria pedido a aceitação da sua nova fé, a fim de poder contrair matrimónio com o guerreiro cristão, nessa ocasião, ausente. Consumada a abjuração, apareceu de súbito o Emir, com os seus homens de armas. As fugitivas foram aprisionadas e a mais rebelde foi, sem mais hesitações, degolada pelo próprio pai. D. Tedo, vindo pouco depois, quando já o chefe mouro havia regressado aos seus domínios de Lamego e Resende, e sendo informado pelo ermitão do que se passara na sua ausência, teria ficado tão abalado pela morte da jovem sarracena, por ele apaixonada e morta, que nesse mesmo momento teria feito voto de celibato, entregando-se à exclusiva luta pela doutrina de Cristo até à morte, ocorrida em combate em terras de Tabuaço, nas margens do rio que passaria a ter o seu nome, o rio Tedo.

Sant'Anna Dionísio, in Guia de Portugal, volume V (Trás-os-Montes e Alto-Douro), tomo II (Lamego, Bragança e Miranda)


Uma outra versão desta lenda conta que os dois nobres seriam de origem leonesa e que Ardinga, a princesa moura, apaixonada e correspondida num amor impossível, teria fugido não com sua irmã, mas com uma escrava para encontrar D. Tedão (e não D. Tedo), abrigando-se no Mosteiro de S. Pedro de Águias.

Joel Cleto e Suzana Faro, in S. Pedro das Águias, Tabuaço: Os Amores de D. Tedo e Ardinga. O Comércio do Porto. Revista "Domingo", 26 de Setembro de 1999, págs. 21-22

A ermida vista pelo lado norte (Foto: Carlos Castro)

08 janeiro 2012

Uma história do Cebolinha


Um filme de desenhos animados com os incomparáveis bonecos criados por Maurício de Souza

01 janeiro 2012

Exílio

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades

Sophia de Mello Breyner Andresen