31 dezembro 2013

Rock ao vivo para a passagem de ano



Twist and Shout, por The Beatles


Proud Mary, por Ike and Tina Turner


Black Magic Woman, por Santana


Thick as a Brick, por Jethro Tull


Heroes, por David Bowie

30 dezembro 2013

Escultura de Anthony Caro

Uma peça de Anthony Caro (1924-2013), feita de aço e ferro fundido. Sir Anthony Alfred Caro foi um destacado escultor abstrato inglês que utilizava habitualmente metal recuperado (Foto: Mitchell-Innes & Nash)

25 dezembro 2013

O Menino recém-nascido


Cantata Das neugeborne Kindelein, das herzeliebe Jesulein, BuxWV 13 (nº 13 do catálogo das obras de Buxtehude), do compositor alemão Dietrich Buxtehude (1637-1707), pela soprano Maria Keohane, o contra tenor Pascal Bertin, o tenor Hans Jörg Mammel, o baixo Stephan Macleod e o agrupamento instrumental Ricercar Consort dirigido por Philippe Pierlot

24 dezembro 2013

Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira (1927-1996), in Cancioneiro de Natal


20 dezembro 2013

Ondas de luz no espaço

(Foto: NASA/ESA/Hubble Heritage (STScI/AURA)-Hubble/Europe Collab.)

Esta imagem não é de um postal de Natal, mas parece. Trata-se de uma fotografia feita pelo telescópio espacial Hubble. Brilhando intensamente no meio dela, encontra-se a estrela RS Puppis, que é visível no hemisfério sul. Em volta desta estrela e iluminada pela sua luz, está uma nuvem de poeiras cósmicas mostrando elaboradas e complexas formas. Um pouco por toda a fotografia, brilham ainda muitas outras estrelas.

A estrela RS Puppis tem dez vezes a massa do nosso Sol, é 200 vezes maior do que ele e o seu brilho é, em média, 15 mil vez mais intenso! No entanto, o brilho desta estrela não é constante. Varia periodicamente de seis em seis semanas. Esta estrela encontra-se no final da sua existência e a sua luz "tremula", à semelhança da luz de uma vela que está prestes a apagar-se.

A velocidade da luz não é infinita, embora pareça. No vácuo, a luz propaga-se à seguinte velocidade:

299 792 458 metros por segundo.

Arredondando este número, costuma-se dizer que a velocidade da luz no vácuo é de 300 mil quilómetros por segundo. No ar, por outro lado, a luz propaga-se a uma velocidade ligeiramente menor. No vidro, esta velocidade é substancialmente menor ainda: "apenas" cerca de 200 mil quilómetros por segundo.

Como o espaço sideral é constituído sobretudo por vácuo, a velocidade da luz no espaço é a mesma do vácuo. A luz do Sol, por exemplo, demora cerca de oito minutos a chegar à Terra e o luar demora pouco mais de um segundo a percorrer o espaço que separa a Lua do nosso planeta azul. A propagação das "ondas" de luz através da nuvem de poeiras, que se vê na imagem, permitiu aos astrónomos calcular, com grande rigor, que a luz da estrela  RS Puppis demora 6500 anos a chegar até nós. Diz-se, portanto, que esta estrela está a uma distância de 6500 anos-luz da Terra. Fazendo as contas, podemos dizer que RS Puppis está a uma distância de cerca de 61 495,2 biliões (milhões de milhões) de quilómetros da Terra!

Como ficou escrito acima, o brilho da estrela RS Puppis varia segundo um ciclo de seis semanas. A nuvem de poeiras que envolve a estrela é tão vasta, que a luz desta demora muito mais do que seis semanas a propagar-se através da nuvem, até que atinja os seus limites exteriores e se perca no espaço. Se observarmos esta fotografia, podemos ver "ondas" de luz propagando-se a partir da estrela em circunferências sucessivas cada vez mais largas, como as ondas de um lago tranquilo ao qual se tenha atirado uma pedra. As formas caprichosas da nuvem de poeiras disfarçam as circunferências, mas mesmo assim elas são facilmente visíveis. O efeito é magnífico, como se vê.

16 dezembro 2013

Cantemos com os poetas de Haiti

Cruzo os braços, Baby, e deixo-me ficar
Apreensivo e triste, meditando:
Tu, Baby, e os poetas nossos irmãos
Que escrevem cânticos no Haiti,
Sabem da vida incerta e vazia
Dos negros das ilhas e Américas
Dos que sofrem em África e Oceânia.

Lembras-te daquele poema universal
Que falava de desumanidade?
Lembras-te dos segredos nas entrelinhas
Dos poemas verticais da Noémia de Sousa
Sempre em papel amarelo?

Ah, se tudo fosse como nos sonhos belos
Cheio de romance e fantasia doce
Não haveria, Baby, o desespero
Nos cânticos dos poetas de Haiti
Nem segredos havia, fundos de angústia
Nos poemas verticais de desespero!

Ah, nem tudo, Baby, nem mesmo eu
Faríamos da poesia um cântico triste
E só falaríamos de paz, amor,
E numa sede constante do azul do céu!
Mas se é dor o mundo que nos cerca,
Cantemos com os poetas de Haiti
Uma canção amarga que se não perca,
Cantemos em uníssono, porque lá ou aqui,
Os segredos são iguais, fundos de angústia,
E os poemas verticais, também de desespero.

Virgílio de Lemos (1929-2013), poeta moçambicano


Virgílio de Lemos, poeta e jornalista moçambicano, falecido no passado dia 6 de dezembro (Foto: Inez Andrade Paes)

14 dezembro 2013

Música angolana para o fim de semana


Kalumati, cantada em umbundo por Justino Handanga


Pilima Yange, cantada em umbundo por Bela Chicola


Ngandala, cantada em quimbundo por Célsio Mambo


Uma canção não identificada cantada em quimbundo pelas Gingas do Maculusso

13 dezembro 2013

A Cidade Incerta, de Nadir Afonso

A Cidade Incerta, acrílico sobre tela feito em 2010 por Nadir Afonso (1920-2013) 

12 dezembro 2013

Os índios Zo'é

(Foto: Sebastião Salgado)

Há poucos anos, vi na televisão (talvez na RTP 2) um documentário sobre uma das tribos mais isoladas da Amazónia: os Zo'é, que são uma pequena tribo de índios tupis, de apenas 256 pessoas (dados de 2010), que vivem algures no meio da floresta, no norte do estado do Pará, Brasil. Fiquei impressionado com o que vi, a começar pelo enorme toco de madeira que os membros desta tribo usam, suspenso do seu lábio inferior furado, e que constitui a sua imagem de marca, digamos assim. Mas além do seu horrível (aos meus olhos) piercing, se assim lhe podemos chamar, o que mais me fascinou no que vi sobre os Zo'é foi a sua extraordinária amabilidade, imensa ternura e enorme doçura. Eles mostraram-se mais gentis do que eu alguma vez tinha visto em qualquer outra população. Aqueles índios, que muitos de nós poderiam considerar primitivos e até selvagens, aparentando viver ainda na Idade da Pedra, surgiram no programa como sendo os mais civilizados dos seres humanos.

Há poucos dias, o meu interesse pelos Zo'é renasceu, quando encontrei no Facebook uma chamada de atenção para uma página na internet contendo algumas excelentes fotografias relativas a esta tribo, da autoria de Rogério Assis. O álbum de fotografias que vi referido no Facebook está em http://www.rogerioassis.com.br/album/zo e é o que se segue.



Procurei na internet o documentário que tinha visto na televisão. Não o encontrei. Em seu lugar, encontrei um documentário espanhol, também sobre os Zo'é, que me parece ser bastante objetivo, ao dar-nos uma visão global desta tribo, do seu modo de vida e de alguns dos seus costumes. O documentário tem a duração de perto de uma hora e é o que se vê a seguir.



Se acha que este documentário é muito longo, pode ver um outro mais curto, mas também muito interessante, no qual se mostra o modo como os Zo'é entraram em contacto pela primeira vez com índios de uma outra tribo cuja existência desconheciam. É um vídeo de 1993, chamado A Arca dos Zo'é, que não posso partilhar aqui. Pode vê-lo, se desejar, nesta página do sítio Lugar do Real.

10 dezembro 2013

Cantigas de amor do rei D. Dinis

Verso e reverso do muito danificado Pergaminho Sharrer, contendo sete cantigas de amor do rei D. Dinis, incluindo a música. Uma desastrada tentativa de restauro deste pergaminho em 1993 ainda o deixou mais estragado do que já estava!


O rei D. Dinis (1261-1325) foi um dos monarcas mais importantes de toda a história de Portugal. Culto e letrado, ele deixou uma marca indelével nos mais variados campos da governação. Não contente com isso, D. Dinis foi também um notável trovador, à semelhança, aliás, do seu avô materno, que foi Afonso X, rei de Leão e Castela (1221-1284), cognominado "O Sábio".

Presentemente, conhecem-se 137 poemas escritos por D. Dinis: 73 cantigas de amor, 51 cantigas de amigo e 10 cantigas de escárnio e maldizer. Não é por acaso que estes poemas se chamam cantigas. Chamam-se cantigas porque foram escritos para serem cantados. Mas até ao ano de 1990 não se conhecia a música correspondente a nenhum deles. Por isso, quando se pretendia cantar uma das cantigas do rei-trovador, adaptava-se-lhe a música de um outro autor seu contemporâneo.

Habitualmente, adaptava-se uma das seis músicas conhecidas do jogral galego Martim Codax, o celebrado cantor das Ondas do Mar de Vigo, que constam do chamado Pergaminho Vindel. Martim Codax foi mais ou menos contemporâneo de D. Dinis, escreveu em galaico-português, tal como D. Dinis o fez, e as suas cantigas abordam assuntos profanos, assim como as de D. Dinis.

Um outro trovador, de quem se tem adaptado a música para fazer o acompanhamento das cantigas de D. Dinis, foi o seu avô Afonso X, que, apesar de ser leonês e castelhano, também escreveu os seus poemas em galaico-português. Além de 44 cantigas de escárnio e maldizer e também de amor, conhecem-se de Afonso X nada mais nada menos do que 430 cantigas dedicadas à Virgem, chamadas Cantigas de Santa Maria, incluindo a sua música. Apesar de ter um cariz religioso, alguma desta música também tem sido adaptada a cantigas de D. Dinis.

Em 1990, um investigador norte-americano, chamado Harvey L. Sharrer, descobriu no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, um pergaminho contendo sete cantigas de amor de D. Dinis, acompanhadas pela respetiva música. Infelizmente, este pergaminho, que passou a ser chamado Pergaminho Sharrer, estava muito danificado, pois tinha sido usado na encadernação de um livro de registos notariais do séc. XVI. De qualquer modo, tornou-se possível (finalmente!) conhecer alguma da música que D. Dinis compôs para as suas cantigas, senão de uma forma integral, dado o mau estado do pergaminho, pelo menos de uma forma bastante aproximada.

As cantigas de amor que constam do Pergaminho Sharrer são as seguintes:

— Poys que vos Deus, amigo, quer guisar

— A tal estado me adusse, senhor

— O que vos nunca cuidei a dizer

— Que mui grão prazer que eu hei, senhor

— Senhor fremosa, no posso eu osmar

— Não sei como me salva a minha senhor

— Quis bem amigos, e quero e querrei

Alguns grupos e intérpretes que se dedicam à divulgação da música antiga têm vindo a gravar as cantigas de D. Dinis pertencentes ao Pergaminho Sharrer, na totalidade ou só algumas. É o caso do grupo que se pode ouvir nos dois vídeos que se seguem e que é o Grupo de Música Antiga Meendinho, da Galiza, tendo como solista a meio-soprano polaca Paulina Ceremużyńska.




O que vos nunca cuidei a dizer,
com gram coita, senhor, vo-lo direi,
porque me vejo já por vós morrer;
ca sabedes que nunca vos falei
de como me matava voss'amor;
ca sabe Deus bem que doutra senhor,
que eu nom havia, mi vos chamei.

E tod[o] aquesto mi fez fazer
o mui gram medo que eu de vós hei
e des i por vos dar a entender
que por outra morria — de que hei,
bem sabedes, mui pequeno pavor;
e des oimais, fremosa mia senhor,
se me matardes, bem vo-lo busquei.

E creede que haverei prazer
de me matardes, pois eu certo sei
que esso pouco que hei de viver
que num prazer nunca veerei;
e porque sõo desto sabedor,
se mi quiserdes dar morte, senhor,
por gram mercee vo-lo [eu] terrei.




A tal estado mi adusse, senhor,
o vosso bem e vosso parecer
que nom vejo de mi nem d'al prazer,
nem veerei já, enquant'eu vivo for,
u nom vir vós que eu por meu mal vi.

E queria mia mort'e nom mi vem,
senhor, porque tamanh'é o meu mal
que nom vejo prazer de mim nem d'al,
nem veerei já, esto creede bem,
u nom vir vós que eu por meu mal vi.

E pois meu feito, senhor, assi é,
querria já mia morte, pois que nom
vejo de mi nem d'al nulha sazom
prazer, nem veerei já, per bõa fé,
u nom vir vós que eu por meu mal vi;

pois nom havedes mercee de mi.


Estas interpretações e algumas outras, nomeadamente as do barítono inglês Paul Hillier e do seu grupo Theatre of Voices, juntamente com os poemas correspondentes e as pautas musicais resultantes da transcrição feita por Manuel Pedro Ferreira, podem ser escutadas a partir do seguinte endereço: http://cantigas.fcsh.unl.pt/pergaminhosharrer.asp.


NOTA:
A tal estado mi adusse - A tal estado me trouxe


06 dezembro 2013

Uma nação arco-íris

Monumento a Nelson Mandela (1918-2013) em Howick, a 90 km a sul da cidade de Durban, na África do Sul, da autoria de Marco Cianfanelli (Foto de autor desconhecido)

Majestades, altezas, distintos convidados, camaradas e amigos,

Pela nossa presença aqui hoje, e pelas nossas celebrações noutras regiões do país e do mundo, glorificamos esta liberdade que acaba de nascer e depositamos nela todas as nossas esperanças.

De um dramático desastre humano que durou demasiado tempo deverá nascer uma sociedade que será o orgulho da Humanidade.

Os nossos comportamentos quotidianos de sul-africanos devem construir uma verdadeira realidade sul-africana que consolidará a fé da Humanidade na justiça, que afirmará a sua confiança na nobreza da alma humana e que alimentará todas as nossas esperanças para que a vida de todos nós seja uma vida feliz.

Tudo isto se deve a nós próprios e aos povos do mundo inteiro que estão hoje aqui bem representados.

Aos meus compatriotas, digo sem hesitar que cada um de nós está profundamente enraizado no solo deste país magnífico, tal como as mimosas ou os famosos jacarandás de Pretória. De cada vez que cada um de nós pisa o solo deste país, sente um profundo sentimento de alegria e exaltação. O humor nacional muda com as estações. Somos levados pela alegria e pelo entusiasmo quando a erva fica mais verde e as flores se abrem.

Esta sensação espiritual e física de ser um único, com a pátria, explica a intensidade do sofrimento que transportávamos nos nossos corações enquanto víamos o nosso país destroçado por um conflito terrível e, além disso, rejeitado, boicotado e isolado pelos povos do mundo inteiro, precisamente porque se tornou o símbolo de uma ideologia perniciosa, do racismo e da opressão racial.

Nós, povo da África do Sul, estamos hoje encantados por ver que a Humanidade nos acolhe de novo no seu seio, e que nós, os fora-da-lei de ontem, temos hoje o raro privilégio de receber no nosso solo todas as nações do mundo.

Agradecemos aos nossos distintos convidados internacionais terem vindo comemorar, com o nosso povo, o que é, antes demais, uma vitória comum em matéria de justiça, de paz e de dignidade humana.

Esperamos que continuem ao nosso lado quando enfrentarmos o desafio de construir a paz, a prosperidade, a democracia, e de trabalhar contra o racismo e contra o sexismo.

Admiramos o papel desempenhado pelo nosso povo e pelas suas classes políticas, os líderes democráticos, religiosos, as mulheres, os jovens, as empresas, os líderes tradicionais e os outros líderes, com o objetivo de chegar a este resultado. Entre estes, e não o menos importante, encontra-se o meu segundo presidente-adjunto, Frederik Willem de Klerk.

Gostaríamos igualmente de saudar as nossas forças de segurança, qualquer que seja o seu posto, pelo papel notável que desempenharam na proteção das nossas primeiras eleições democráticas e na transição para a democracia contra as forças sedentas de sangue que recusam sempre ver a luz.

Chegou o tempo de curar as feridas.

Chegou o tempo de preencheer as lacunas que nos separam.

Chegou o tempo de construir.

Chegámos enfim ao momento da nossa emancipação política. Comprometemo-nos a libertar o nosso povo da escravização devida à pobreza, à privação, ao sofrimento, ao sexismo e a todas as outras discriminações.

Conseguimos passar as últimas etapas no caminho para a liberdade em condições de relativa paz. Comprometemo-nos a construir uma paz completa, justa e duradoura.

Conseguimos implantar a esperança no coração de milhões de pessoas do nosso povo. Comprometemo-nos a construir uma sociedade na qual todos os sul-africanos, sejam brancos ou negros, poderão manter-se em pé e caminhar sem medo, seguros do seu direito inalienável à dignidade humana — uma nação arco-íris, em paz com ela própria e com o mundo.

Como prova do seu compromisso na renovação do nosso país, o nosso governo de unidade nacional toma a decisão, como questão urgente, de amnistiar todos os compatriotas que estejam a cumprir atualmente a sua pena de prisão.

Dedicamos este dia a todos os heróis e heroínas deste país e do resto do mundo que se sacrificaram ou deram a vida para que nós pudéssemos ser livres. Os seus sonhos tornaram-se realidade. A liberdade é a sua recompensa.

Sentimo-nos tão orgulhosos da honra e do privilégio que o povo da África do Sul nos deu ao nomear-nos o primeiro presidente de um governo de união democrática, não racista e não sexista.

Estamos conscientes de que o caminho para a liberdade não é fácil.

Estamos conscientes de que nenhum de nós, sozinho, pode chegar ao fim.

Devemos pois agir em conjunto, como um povo unido, para uma reconciliação nacional, para a construção de uma nação, para o nascimento de um novo mundo.

Que a justiça seja a mesma para todos.

Que a paz exista para todos.

Que haja trabalho, pão, água e sal para todos.

Que cada um de nós saiba que o seu corpo, o seu espírito e a sua alma foram libertados para que pudessem prosperar.

Que nunca, nunca mais este país magnífico reviva a experiência de opressão de uns pelos outros, nem sofra a indignidade de ser o pária do mundo.

Que a liberdade reine.

Que o sol jamais se ponha sobre uma realização humana tão radiosa!

Que Deus abençoe a África!

Obrigado.

Discurso proferido por Nelson Mandela, por ocasião da sua tomada de posse como presidente da África do Sul, em 10 de maio de 1994

03 dezembro 2013

Dois palácios do rei D. Pedro I, "O Justiceiro"

Neste local devem ter ocorrido vários encontros amorosos entre Pedro e Inês. Paço Real da Serra de El Rei, concelho de Peniche (Foto: Jorge Maia)

Ao longo dos séculos, os reis de Portugal foram mandando construir diversos palácios e residências régias um pouco por todo o país, a fim de serem utilizados durante as suas deslocações pelo reino, para a realização de caçadas, etc. Destes, o desaparecido Paço de Almeirim foi um dos mais famosos. Um dos menos conhecidos, por outro lado, terá sido uma residência com uma tapada de caça anexa, a que foi dado o nome de Quinta Rei, mais ou menos entre Susão e Alfena, no concelho de Valongo, a qual está hoje reduzida à condição de reles eucaliptal pertencente a uma empresa de celulose.

Do rei D. Pedro I (1320-1367), nomeadamente, conhecem-se pelo menos dois palácios. Numa pequena serra situada perto de Peniche, que a partir de então passou a ser chamada Serra de El Rei, D. Pedro I mandou construir um palácio num local onde ele teria tido diversos encontros amorosos com a bela Inês de Castro. Há mesmo quem afirme que o casal de apaixonados se casou em segredo neste local. Este palácio, que é agora propriedade privada, é o chamado Paço Real da Serra de El Rei, no qual já muito pouco se pode ver da traça original. Sucessivos restauros e ampliações feitos ao longo dos séculos alteraram a fisionomia do palácio, acabando o estilo manuelino por se tornar predominante. Seja como for, é uma construção digna de registo.

Um outro palácio que pertenceu a D. Pedro I situa-se em Belas, perto de Queluz, Sintra, e está classificado como Imóvel de Interesse Público. O chamado Paço Real de Belas, mais conhecido por Palácio do Marquês de Belas, fica quase à sombra de um grande viaduto da CREL, que passa por cima de uns terrenos pertencentes à quinta que lhe está anexa. Este palácio já existia no tempo de D. Pedro I, tendo sido expropriado pelo rei ao seu proprietário Diogo Lopes Pacheco. Também este palácio sofreu muitas alterações ao longo dos séculos, mas merece igualmente uma atenção muito cuidada.

Paço Real de Belas ou Palácio da Quinta do Marquês de Belas, no concelho de Sintra (Foto de autor desconhecido)