13 janeiro 2021

Amigo, entendo que non ouvestes

Amigo, entendo que non ouvestes
poder d'alhur viver e veestes
a mia mesura, e non vos val ren,
ca tamanho pesar me fezestes,
  que jurei de vos nunca fazer ben.

Quisera-me eu non aver jurado,
tanto vos vejo viir coitado
a mia mesura. Mais que prol vos ten?
Ca, u vos fostes sen meu mandado,
  jurei que nunca vos fezesse ben.

Por sempre sodes de mi partido
e non vos á prol de seer viido
a mia mesura, e gran mal m'é en,
ca jurei, tanto que fostes ido,
  que nunca jamais vos fezesse ben.

Cantiga de amigo de João Baveca, provavelmente jogral do séc. XIII

GLOSSÁRIO

alhur — algures, noutro lugar
mesura
 — cortesia, generosidade
rem (em frases negativas) — nada
prol/proe — proveito
u — quando
mandado — consentimento, acordo

EXPLICAÇÃO

Compreendendo que o seu amigo não conseguiu estar muito tempo longe dela, e regressa agora a contar com a sua generosidade, a donzela diz-lhe que é talvez um pouco tarde: pois, quando ele partiu contra a sua vontade, jurou nunca mais lhe conceder os seus favores. E agora, embora tendo dó dele, custa-lhe quebrar essa jura.

Por sempre serdes de mi partido, / nom vos há prol de seer viido / a mia mesura, e gram mal m'é en — porque estais sempre longe, não vos adianta ter vindo apelar à minha generosidade, e isso aflige-me muito.



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