01 janeiro 2023

Escrevemos docemente

Escrevemos docemente. Se a figura
sobe de estar tão funda a essa mesa
é que escrever se lembra. E só da altura
de se lembrar percorre a linha acesa

a ponta de escrever, que traça a pura
forma de rosto que abre na tristeza.
E a tristeza ilumina de escultura
penumbras de volumes com que pesa.

Por isso é docemente que da linha
de estar ali aonde sempre esteve
aparece figura de rainha

que sempre foi e agora só se escreve.
E escrevermos é como se na vinha
o sol se iluminasse. E fosse breve.
Fernando Echevarría

Comentários: 3

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

:)

NEM SE ME RESTAM FORÇAS
*


"O sol se iluminasse. E fosse breve"

Este cansaço imenso que me prende

A mão que quer escrever e nada escreve,

A Musa que fraqueja e que se rende
*


Esquecida já do tanto que me deve

Ou, de longe, dizendo que me entende

Tão só quando o que peço seja leve

Qual pequenina chama que se acende...
*


Sendo porém complexo o que lhe exijo

E pesada a tarefa de o escrever,

Recolhe, exausta, a Musa ao esconderijo
*


A que não chego por desconhecer

O peso das palavras que redijo,

Nem se me restam forças prás colher.
*


Mª João Brito de Sousa

01.01.2023 - 16.20h
***









01 janeiro, 2023 16:38  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Caríssima Maria João,
Muito obrigado por este seu belo soneto. Foi a melhor prenda de anos que este blog poderia receber. Iniciei-o em 1 de janeiro de 2006 e espero poder continuá-lo. Bem haja.

03 janeiro, 2023 18:37  
Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Sou eu quem lhe agradece, Fernando. Estava tão dorida e "desmusada" que não teria conseguido escrever rigorosamente nada se não fosse este empurrãozinho dado pelo soneto de Fernando Echevarría que em boa hora aqui publicou.

Um 2023 tão bom quanto possível para si e todos os seus!

Abraço!

06 janeiro, 2023 14:57  

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