29 março 2017

Recortes chineses em papel



Proposta de candidatura à UNESCO dos recortes chineses em papel como Património Imaterial da Humanidade, que foi aprovada


A arte dos recortes em papel atingiu níveis extremamente refinados na China, onde ela é chamada jiǎnzhǐ (剪纸). Diz-se habitualmente que esta arte nasceu no séc. II, com a invenção do papel por Cai Lun, ou mesmo só no séc. VI, mas não falta quem refira que esta arte já existia anteriormente, quando os recortes eram feitos em couro, folhas de árvores, tecidos de seda, folhas de ouro e outros materiais.

Originalmente, os recortes em papel eram feitos na China com propósitos religiosos, de adoração aos deuses e de veneração aos antepassados. Atualmente, quase sempre são feitos para terem apenas uma função decorativa e destinam-se a exprimir emoções, anseios e desejos de felicidade. A cor vermelha é a mais usada, pois esta cor está associada na China à alegria e à sorte.


(Foto: U China Visa)

(Foto: U China Visa)

(Foto: Fanghong)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

(Foto: Wuhan Folks Art Publishing House)

26 março 2017

Uma pintura com tintas insólitas



A imagem acima mostra um aquartelamento do Exército Português em Quibala, Zaire, Angola, observado e pintado em 1966 a partir do morro existente no interior da própria Unidade. Pintura de Sérgio O. Sá, historiador e artista plástico, que foi primeiro-cabo enfermeiro da Companhia de Caçadores 1463.

Palavras do autor:
(…)por falta de materiais apropriados, teve de os produzir a partir de comprimidos de quinino diluídos, para os amarelos; tinta de escrever, para os azuis, cor que misturada com a dos quininos dava um esverdeado indefinido; anilina de pintar as botas, para os pretos; mercúrio cromo, para os vermelhos. O branco era o próprio papel suporte ou produzido com comprimidos de aspirina, em pasta. Os pincéis também foram improvisados a partir de pontas de cordel. Com o passar dos anos, as cores mais luminosas desapareceram, restando quase só o desenho da composição.
Sérgio O. Sá, in De Quibala a Malele (Norte de Angola) — No Decorrer de uma Guerra, edição do autor, pág. 289

20 março 2017

Oda a la Primavera

Primavera
temible,
rosa
loca,
llegarás,
llegas
imperceptible,
apenas
un temblor de ala, un beso
de niebla con jazmines,
el sombrero
lo sabe,
los caballos,
el viento
trae una carra verde
que los árboles icen
y comienzan
las hojas
a mirar con un ojo,
a ver de nuevo el mundo,
se convencen.
Todo está preparado,
el viejo sol supremo,
el agua que habla,
todo,
y entonces
salen todas las faldas
del follaje,
la esmeraldina,
loca
primavera,
luz desencadenada,
yegua verde,
todo
se multiplica,
todo
busca
palpando
una materia
que repita su forma,
el germen mueve
pequeños pies sagrados,
el hombre
ciñe
el amor de su amada,
y la tierra se llena
de frescura,
de pétalos que caen
como harina,
la tierra
brilla recién pintada
mostrando
su fragancia
en sus heridas,
los besos de los labios de claveles,
la marea escarlata de la rosa.
Ya está bueno!
Ahora,
primavera,
dime para qué sirves
y a quién sirves.
Dime si el olvidado
en su caverna
recibió tu vista,
si el abogado pobre
en su oficina
vio florecer tus pétalos
sobre la sucia alfombra,
si el minero
de las minas de mi patria
no conoció
más que la primavera negra
del carbón
o el viento envenenado
del azufre.

Primavera,
muchacha,
te esperaba!
Toma esta escoba y barre
el mundo.
Limpia
con este trapo
las fronteras,
sopla
los techos de los hombres,
escarba
el oro
acumulado
y reparte
los bienes
escondidos,
ayúdame
cuando
ya
el
hombre
esté libre
de miseria,
polvo,
harapos,
deudas,
llagas,
dolores,
cuando
con tus transformadoras manos de hada
y las manos del pueblo,
cuando sobre la tierra
el fuego y el amor
toquen tus bailarines
pies de nácar,
cuando
tú, primavera,
entres
a todas
las casas de los hombres,
te amaré sin pecado,
desordenada dalia,
acacia loca,
amada,
contigo, con tu aroma,
con tu abundancia, sin remordimiento
con tu desnuda nieve
abrasadora,
con tus más desbocados manantiales
sin descartar la dicha
de otros hombres,
con la miel misteriosa
de las abejas diurnas,
sin que los negros tengan
que vivir apartados
de los blancos,
oh primavera
de la noche sin pobres,
sin pobreza,
primavera
fragante,
llegarás,
llegas,
te veo
venir por el camino:
ésta es mi casa,
entra,
tardabas,
era hora,
qué bueno es florecer,
qué trabajo
tan bello:
qué activa
obrera eres,
primavera,
tejedora,
labriega,
ordeñadora,
múltiple abeja,
máquina
transparente,
molino de cigarras,
entra
en todas las casas,
adelante,
trabajaremos juntos
en la futura y pura
fecundidad florida.

Pablo Neruda (1904–1973), poeta chileno


19 março 2017

Dinu Lipatti



Concerto para piano e orquestra em lá menor, op. 16, do compositor norueguês Edvard Grieg (1843–1907), pelo pianista romeno Dinu Lipatti (1917–1950) e a Orquestra Philharmonia dirigida por Alceo Galliera


Completam-se hoje cem anos sobre o nascimento de Dinu Lipatti, um dos maiores pianistas do séc. XX, nascido na Roménia e falecido prematuramente aos 33 anos de idade, vítima de uma doença oncológica, o linfoma de Hodgkin.

Dinu Lipatti é um nome que eu conheço quase desde a minha infância, porque em minha casa existia uma coleção de dois discos de vinil, de formato pouco comum, contendo a gravação do último recital por ele dado, em 1950, no Festival de Besançon, três meses antes de morrer. Foi só à força de medicamentos que ele tocou e, mesmo assim, não foi capaz de interpretar a última peça prevista para o recital, que era uma valsa de Chopin. Saiu de cena profundamente combalido e voltou algum tempo depois para tocar, num último fôlego, Jesus, Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach. Esta última peça, porém, não ficou registada em disco.

Estive fortemente tentado a colocar aqui uma das peças por ele tocadas nesse recital, mas desisti. É angustiante ouvi-lo tocar no estado de saúde em que se encontrava. Dinu Lipatti tocou divinamente, como sempre, mas mais morto do que vivo, o que deu uma atmosfera de certo modo etérea ao seu desempenho.

Resolvi colocar aqui uma outra gravação de Dinu Lipatti, quando ele ainda tinha forças e era ovacionado de pé onde quer que atuasse. É o popular concerto para piano e orquestra de Edvard Grieg, uma das obras mais tocadas nas salas de concerto.

Se, mesmo assim, quiser ouvir o conteúdo integral dos discos que referi acima, com o último recital dado por Lipatti em vida, queira apontar para o link seguinte: https://www.youtube.com/watch?v=y8gG7lQdr_0.

16 março 2017

Nas estepes da Ásia Central



Nas Estepes da Ásia Central, poema sinfónico do compositor russo de origem georgiana Alexander Borodin (1833–1887), pela Orquestra Sinfónica Nacional Checa


O compositor Alexander Borodin descreveu assim o seu poema sinfónico Nas Estepes da Ásia Central:

«No silêncio das monótonas estepes da Ásia Central ouve-se o som pouco familiar de uma canção russa. Vinda de longe, ouvimos a aproximação de cavalos e camelos, assim como as notas bizarras e melancólicas de uma melodia oriental. Uma caravana aproxima-se, escoltada por soldados russos, e segue com segurança o seu caminho através do imenso deserto. Desaparece lentamente. As notas das melodias russa e asiática juntam-se numa harmonia comum, que se desvanece à medida que a caravana desaparece na distância.»

10 março 2017

"Renda" de granito


Remate superior do cruzeiro de São João, Castelo Branco (Foto: Direção Geral do Património Cultural)


Castelo Branco é uma cidade assente sobre granito. O granito é uma pedra pouco própria para a escultura, por causa da sua dureza e do grão grosseiro que habitualmente o caracteriza. Porém, não faltam em Castelo Branco esculturas de granito. Só no Jardim do Paço Episcopal há-as aos montes, figurando reis, apóstolos, santos e não sei que mais. Não há forasteiro que visite Castelo Branco e não dê uma volta por este jardim.

Não é, por isso, para as esculturas do Jardim do Paço que eu quero chamar a atenção, pois elas são bem conhecidas, mas sim para um cruzeiro que existe num largo vizinho do jardim, o Largo de São João. É o cruzeiro de S. João, também chamado cruzeiro de Castelo Branco, e está classificado como monumento nacional. Este cruzeiro é uma autêntica "renda" de granito, digna de toda a nossa admiração. Esculpido no séc. XVI, este cruzeiro situava-se em frente a uma igreja, a igreja de São João, que foi demolida em princípios do séc. XX. Segundo o Guia de Portugal, esta igreja não tinha grande interesse. Mesmo assim, foi património que se perdeu. Ficou o cruzeiro que, esse sim, tem muito interesse e merece que nos detenhamos a observá-lo.


Vista geral do cruzeiro de São João, Castelo Branco (Foto: Direção Geral do Património Cultural)

04 março 2017

Pontos


Dots, um filme de animação feito em 1940 por Norman McLaren (1914–1987), cineasta escocês naturalizado canadiano. Este filme foi desenhado por Norman McLaren diretamente na película de celuloide, fotograma a fotograma. O som deste filme também foi gerado por McLaren através de marcas feitas diretamente na banda sonora da película