27 março 2022

Napoléon avait cinq cents soldats


Napoléon avait cinq cents soldats, uma cantiga infantil francesa acompanhada por silêncios e por gestos, explicada em francês por Stephen Stone

Este vídeo remete-me diretamente para os tempos da minha infância, em que se cantavam diversas cantigas infantis de origem francesa, como "Frère Jacques", "Quand trois poules vont au champ", etc. Nesse tempo, a cultura francesa predominava ainda sobre a inglesa e a minha família, que era essencialmente urbana, recebia as influências vindas do estrangeiro de forma evidente.

Nada disto mereceria uma referência da minha parte, se não se desse o caso de, no presente vídeo, esta cantiga corresponder exatamente à da minha infância. Embora este vídeo tenha sido feito há pouco tempo por um canadiano, ele mostra-nos rigorosamente a mesma música, a mesma letra, os mesmos silêncios e os mesmos gestos de há dezenas de anos. Tal e qual, sem diferença alguma, apesar da distância no espaço e no tempo!

Esta brincadeira é um bom exercício de coordenação motora e não só, para as crianças fazerem, mas até os adultos se atrapalham às vezes.

20 março 2022

Chegou a primavera


Primavera (1896), óleo sobre tela do pintor, decorador e artista gráfico checo Alphonse Mucha (1860–1939). Coleção particular

17 março 2022

Odessa, Ucrânia


A célebre cena da fuga da população civil diante das tropas imperiais russas na escadaria de Odessa, do filme mudo de 1925 O Couraçado Potemkine, do realizador soviético Serguei Eisenstein (1898–1948). Música de Telmo Marques, interpretada pela Orquestra Jazz de Matosinhos

11 março 2022

Canção do verdadeiro abandono


Podem todos rir de mim,
podem correr-me à pedrada,
podem espreitar-me à janela
e ter a porta fechada.

Com palavras de ilusão
não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mão
não tem vislumbres de além.

Não sou irmã das estrelas,
nem das pombas nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
de bicho que sofre as pedras
e se desloca de rastos.

Natércia Freire (1919–2004)


Lagarto verde (Foto: Manuel Estébanez Ruiz)

10 março 2022

War pigs


War pigs, pelo grupo britânico de rock Black Sabbath, criador do género heavy metal

Generals gathered in their masses
Just like witches at black masses
Evil minds that plot destruction
Sorcerer of death's construction
In the fields the bodies burning
As the war machine keeps turning
Death and hatred to Mankind
Poisoning their brainwashed minds...
Oh Lord yeah!

Politicians hide themselves away
They only started the war
Why should they go out to fight?
They leave that role to the poor

Time will tell on their power minds
Making war just for fun
Treating people just like pawns in chess
Wait 'till their judgment day comes, yeah!

Now in darkness, world stops turning
Ashes where the bodies burning
No more war pigs have the power
Hand of God has struck the hour
Day of Judgment, God is calling
On their knees the war pigs crawling
Begging mercy for their sins
Satan, laughing, spreads his wings...
Oh Lord, yeah!

08 março 2022

No Dia Internacional da Mulher


"Guerreiras" no deserto. Tômbua, província do Namibe, Angola (Foto: Jessé Manuel)

07 março 2022

Quando gordura era formosura


Vénus ao espelho, c. 1615, óleo sobre tela de Peter Paul Rubens (1577–1640). Liechtenstein Museum, Viena, Áustria

05 março 2022

"Se a gente não aprender a pisar suavemente na Terra, o céu cai sobre a nossa cabeça" — Ailton Krenak



O índio brasileiro Ailton Krenak pintou a cara de preto enquanto discursava perante a Assembleia Nacional Constituinte em Brasília, no dia 4 de setembro de 1987, em representação dos povos indígenas do país. Com este seu discurso, Ailton Krenak conseguiu convencer os deputados a inscreverem os direitos inalienáveis dos índios nos artigos 231 e 232 da Constituição brasileira 

Há centenas de narrativas de povos que estão vivos, contam histórias, cantam, viajam, conversam e nos ensinam mais do que aprendemos nessa humanidade. Nós não somos as únicas pessoas interessantes no mundo, somos parte do todo. Isso talvez tire um pouco da vaidade dessa humanidade que nós pensamos ser, além de diminuir a falta de reverência que temos o tempo todo com as outras companhias que fazem essa viagem cósmica com a gente.


Ailton Krenak, na conferência Ideias para adiar o fim do mundo, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 12 de março de 2019


Aqui, do outro lado do rio, há uma montanha que guarda a nossa aldeia. Hoje ela amanheceu coberta de nuvens, caiu uma chuva e agora as nuvens estão sobrevoando seu cume. Olhar para ela é um alívio imediato para todas as dores. A vida atravessa tudo, atravessa uma pedra, a camada de ozônio, geleiras. A vida vai dos oceanos para a terra firme, atravessa de norte a sul, como uma brisa, em todas as direções. A vida é esse atravessamento do organismo vivo do planeta numa dimensão imaterial. A vida que a gente banalizou, que as pessoas nem sabem o que é e pensam que é só uma palavra. Assim como existem as palavras “vento”, “fogo”, “água”, as pessoas acham que pode haver a palavra “vida”, mas não. Vida é transcendência, está para além do dicionário, não tem uma definição.


Ailton Krenak, A vida não é útil, Companhia das Letras, 2020


A proposta de desacelerar nosso uso de recursos naturais pode sugerir a ideia de adiar o fim deste mundo, mas, em alguns lugares, esse fim já aconteceu — ontem, hoje cedo, vai acontecer depois de amanhã. Alguém pode dizer: “Ah, mas isso é muito apocalíptico, ele está apavorando a gente!” Na verdade, estou dando notícias velhas. Inclusive nas religiões dos brancos há uma história de que, nos seus primórdios, essa humanidade se espalhou pelo planeta como uma praga. O Deus deles ficou muito bravo, pois estavam deixando o mundo muito sujo, e o destruiu com um dilúvio. Em seguida criou outro, novinho em folha, mas sua humanidade voltou a se comportar da mesma maneira caótica e predatória. Ou seja, na cosmovisão dos brancos também já houve um fim de mundo, eles olham para nós com estranhamento quando falamos disso porque não têm memória.


Ailton Krenak, A vida não é útil, Companhia das Letras, 2020


Nós estamos, devagarzinho, desaparecendo com os mundos que nossos ancestrais cultivaram sem todo esse aparato que hoje consideramos indispensável. Os povos que vivem dentro da floresta sentem isso na pele: veem sumir a mata, a abelha, o colibri, as formigas, a flora; veem o ciclo das árvores mudar. Quando alguém sai para caçar tem que andar dias para encontrar uma espécie que antes vivia ali, ao redor da aldeia, compartilhando com os humanos aquele lugar. O mundo ao redor deles está sumindo. Quem vive na cidade não experimenta isso com a mesma intensidade porque tudo parece ter uma existência automática: você estende a mão e tem uma padaria, uma farmácia, um supermercado, um hospital.

Na floresta não há essa substituição da vida, ela flui, e você, no fluxo, sente a sua pressão. Isso que chamam de natureza deveria ser a interação do nosso corpo com o entorno, em que a gente soubesse de onde vem o que comemos, para onde vai o ar que expiramos. Para além da ideia de “eu sou a natureza”, a consciência de estar vivo deveria nos atravessar de modo que fôssemos capazes de sentir que o rio, a floresta, o vento, as nuvens são nosso espelho na vida. Eu tenho uma alegria muito grande de experimentar essa sensação e fico procurando comunicá-la, mas também respeito o fato de que cada um tem a sua passagem por este mundo.


Ailton Krenak, A vida não é útil, Companhia das Letras, 2020


O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo, acham que o trabalho é a razão da existência. Eles escravizaram tanto os outros que agora precisam escravizar a si mesmos. Não podem parar e experimentar a vida como um dom e o mundo como um lugar maravilhoso. O mundo possível que a gente pode compartilhar não tem que ser um inferno, pode ser bom. Eles ficam horrorizados com isso, e dizem que somos preguiçosos, que não quisemos nos civilizar. Como se “civilizar-se” fosse um destino. Isso é uma religião lá deles: a religião da civilização. Mudam de repertório, mas repetem a dança, e a coreografia é a mesma: um pisar duro sobre a terra. A nossa é pisar leve, bem leve.


Ailton Krenak, A vida não é útil, Companhia das Letras, 2020


Citações retiradas do blog Templo Cultural Delfos, de Elfi Kürten Fenske

01 março 2022

O Mamma, Mamma Cara, aliás O Carnaval de Veneza, aliás O Meu Chapéu Tem Três Bicos


O meu chapéu tem três bicos, versão portuguesa da canção popular napolitana O mamma, mamma cara

No princípio, havia uma canção napolitana chamada "O Mamma, Mamma Cara". Um dia, o violinista e compositor italiano Niccolò Paganini pegou nela e escreveu vinte variações sobre ela. O êxito alcançado foi tal, que vários outros compositores escreveram novas variações e a canção acabou por se espalhar pela Europa. Foi adotada por vários povos, entre os quais o de Portugal, como uma canção infantil chamada "O meu chapéu tem três bicos" em português, "My Hat, It Has Three Corners" em inglês, "Mein Hut, der hat drei Ecken" em alemão ou "Min hatt, den har tre kanter" em sueco.


O Carnaval de Veneza, vinte variações sobre o tema napolitano O mamma, mamma cara, de Niccolò Paganini (1782–1840), por Salvatore Accardo e uma orquestra não identificada

Variaciones sobre El Carnaval de Venecia, de Francisco Tárrega (1852–1909), por Marko Topchii