27 fevereiro 2021

Concerto pelo Bangladesh





O Concerto pelo Bangladesh foi o primeiro grande concerto rock de beneficiência da história, muito anterior ao Live Aid. A sua realização deve-se ao músico indiano Ravi Shankar, que teve a ideia, e ao Beatle George Harrison, que a pôs em prática com o apoio de Phil Spector. O concerto teve lugar no Madison Square Garden, em Nova Iorque, no dia 1 de agosto de 1971 e contou com a presença de 40 mil espetadores.

Em 1971, o Bangladesh vivia um desastre humanitário de proporções inimagináveis. Por um lado, o país travava uma guerra pela sua independência contra o Paquistão, que causou mais de 250 mil mortos civis e 7 milhões de refugiados na Índia. Por outro lado, no ano anterior o Bangladesh tinha sido atingido por um ciclone, que matou mais 500 mil pessoas e provocou uma fome generalizada. Perante este cenário aterrador, o músico indiano Ravi Shankar contactou o seu amigo George Harrison para que se realizasse um concerto com vista à recolha de fundos para apoio às vítimas. O concerto propriamente dito, assim como o álbum discográfico e o vídeo que dele se fizeram renderam até à década de 90 um total de 45 milhões de dólares, que foram entregues à UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, segundo o próprio George Harrison.

21 fevereiro 2021

Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém


(Gadamael Porto, Guiné, 1973)

Nos gritos silenciados
Pelos esgares multiplicados desta metralha horrenda,
Se eu de vós me não lembrar, meu monte e meu rio sagrados,
Que a minha língua se prenda,
Que a minha língua se prenda!

        Junto ao Rio de Cacine me sentei chorando,
        Com saudades consagradas
        Ao meu chão;
        Nos palmares do chão manjaco desfiando
        Um rosário de granadas
        De mão.

Partem de Kandiafara mísseis Strela em demanda da minha vida,
Quando eu demando a minha terra da promissão:
Tão longe está o doce favo da partida,
A cama desfeita, os olhos embaciados amarrados ao vulcão.

Não é este o Rio que eu desejo engrossar com as lágrimas salgadas
Desta saudade tamanha;
Jazem a harpa e a G3, dependuradas
No tarrafe da bolanha.
Não é este o rio das bogas, dos barbos, das enguias e dos mexilhões
Que eu demando. Este rio não é
O rio que eu desejo. O rio Cacine tem candambas, tem bicudas, tubarões,
Nasce e morre em quatro horas de maré.

Aqui as bajudas balançam com altivez os chalavares dos camarões
E os flamingos parecem levitar num golpe d'asa;
Mas a água do meu rio, como o fogo dos vulcões,
É ferro em brasa.

O meu Tâmega sagrado foi rasgado com um grito,
Marcado pelo lume que a profecia diz,
Um pássaro de fogo voando no infinito,
Doce cicatriz.

        Junto ao Rio de Cacine me sentei chorando,
        Com saudades consagradas
        Ao meu chão;
        Nos palmares do chão manjaco desfiando
        Um rosário de granadas
        De mão.

Nos gritos silenciados
Pelos esgares multiplicados desta metralha horrenda,
Se eu de vós me não lembrar, meu monte e meu rio sagrados,
Que a minha língua se prenda,
Que a minha língua se prenda!


Luís Jales de Oliveira, Corre-me um Rio no Peito, edição de autor, Mondim de Basto, 2010


Pelicanos no Rio Cacine, Guiné-Bissau (Foto: Pedro do Vale)

Em primeiro plano o Rio Tâmega e em último plano o Monte Farinha, Mondim de Basto, Portugal (Foto: Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega)

GLOSSÁRIO

Chão manjaco - território habitado pelo povo manjaco da Guiné-Bissau

Kandiafara - localidade na República da Guiné (Guiné-Conacri)

Mísseis Strela - mísseis terra-ar com sensores de infra-vermelhos, que podiam ser disparados a partir do ombro de um atirador

Vulcão - alusão ao Monte Farinha, nas proximidades de Mondim de Basto, que não é um vulcão, embora pareça; no seu cume não existe qualquer cratera, mas sim um santuário dedicado a Nossa Senhora da Graça

Tarrafe - o mesmo que tamargueira ou tramagueira, árvore de pequenas dimensões

Bolanha - extensão de terreno alagadiço na Guiné-Bissau

Bajudas - jovens do sexo feminino

Chalavar - instrumento de pesca dotado de rede camaroeira, usado para apanhar marisco

18 fevereiro 2021

"Adieu, je pars!"


Adieu, je pars!, romance (também chamado romanza) em mi maior, op. 71, n.º 1, de Artur Napoleão, compositor português de ascendência italiana, nascido no Porto em 1843 e falecido no Rio de Janeiro em 1925. São intérpretes o violinista brasileiro Elias Barros e a pianista brasileira Guida Borghoff

14 fevereiro 2021

Exaltação da Santa Cruz


Exalçamento da Santa Cruz, c. 1530, óleo sobre madeira de Cristóvão de Figueiredo (ativo entre 1515 e 1543), Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra, Portugal

Heráclio (ca. 575 – 641) foi um dos mais importantes imperadores bizantinos, ou seja, do Império Romano do Oriente. Quando subiu ao trono no ano 610, Heráclio herdou um império em iminente desmoronamento por causa de uma guerra que travava contra a Pérsia pré-islâmica, guerra esta que os persas estavam a levar de vencida. Graças ao seu génio militar, Heráclio inverteu a situação, conseguiu recuperar todos os territórios perdidos e, na situação de vencedor, estabeleceu por fim a paz com a Pérsia.

Durante os confrontos que opuseram os bizantinos aos persas, estes conseguiram a dado momento tomar a cidade de Jerusalém, onde se apoderaram da Vera Cruz, que era supostamente a verdadeira cruz em que Cristo tinha sido crucificado. Quando, por fim, o Império Romano do Oriente derrotou o Império Persa, Heráclio trouxe a Vera Cruz de volta para Jerusalém, integrado num cortejo rodeado de grande pompa. Este cortejo foi chamado "exaltação" ou "exalçamento" da Santa Cruz e foi objeto de diversas representações pictóricas, entre as quais esta, da autoria de Cristóvão de Figueiredo.

Cristóvão de Figueiredo foi um dos mais notáveis pintores portugueses do Renascimento e pertenceu à chamada Escola de Lisboa. Não se sabem as datas e locais do seu nascimento e da sua morte, apenas se conhecendo a sua atividade artística, a qual terá sido exercida entre 1515 e 1543. O seu quadro Exaltação da Santa Cruz começou por fazer parte de um políptico que esteve na capela-mor da igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. O quadro encontra-se atualmente no Museu Nacional de Machado de Castro, também em Coimbra.

06 fevereiro 2021

Os donos da floresta em perigo




Em face da reiterada violação dos seus territórios por parte de madeireiros, garimpeiros e outros invasores, que empreendem uma vasta e sistemática destruição da floresta amazónica perante a indiferença ou mesmo a conivência das autoridades, os índios Guajajara, do estado brasileiro do Maranhão, resolveram tomar nas suas próprias mãos a sua própria defesa, assim como a defesa de uma tribo de indígenas isolados que com eles partilham os mesmos territórios, os índios Awá Guajá.

Assim nasceu um grupo organizado chamado "Guardiões da Floresta", que patrulha as terras indígenas, denuncia às autoridades a sua violação e até captura e entrega à Polícia Federal os invasores que encontrar. Esta é uma luta de vida e de morte, pois os invasores não hesitam em matar quem se atravessar no seu caminho. Já morreu gente nesta luta e tudo indica que vai continuar a morrer. As ameaças de morte sucedem-se.

O vídeo acima documenta a ação de um grupo de "Guardiões da Floresta" no Maranhão, incluindo a troca de olhares que tiveram com um Awá Guajá isolado. Os vídeos que se seguem documentam (em inglês) aspetos da vida dos índios Awá que já não vivem isolados, assim como os seus sentimentos relativamente aos seus parentes que continuam a viver nas profundezas da floresta.