28 novembro 2015

O túmulo de D. João I e D. Filipa de Lencastre

O túmulo do rei D. João I e sua esposa, D. Filipa de Lencastre, no centro da Capela do Fundador, no Mosteiro da Batalha (Foto: Mosteiro da Batalha)

Não há português nenhum que nunca tenha ouvido falar no Mosteiro da Batalha, mandado construir pelo rei D. João I para assinalar a vitória portuguesa sobre os castelhanos na batalha de Aljubarrota, ocorrida no dia 14 de agosto de 1385. Podemos dizer, portanto, que o Mosteiro da Batalha, de seu nome oficial Mosteiro de Santa Maria da Vitória, não tem segredos para os portugueses, mesmo para aqueles (que não devem ser muitos) que nunca o visitaram.

Não é necessário afirmar que o Mosteiro da Batalha é um dos monumentos mais importantes que existem em Portugal. É-o por razões históricas e por razões arquitetónicas. As razões históricas, já eu as disse. Quanto às razões arquitetónicas, este mosteiro é particularmente grandioso e marca o apogeu do estilo gótico em Portugal.

Não faltam ao Mosteiro da Batalha motivos para nos fazer abrir a boca de espanto perante tanta beleza e tanta perfeição, seja na imponente nave da igreja, nas chamadas Capelas Imperfeitas, na Sala do Capítulo, no Claustro Real ou na Capela do Fundador. O Mosteiro da Batalha é, de facto, uma obra-prima da arquitetura medieval, graças ao enorme talento e à imensa competência técnica do grande mestre Afonso Domingues e graças, também, ao seu continuador, o arquiteto David Huguet, que era irlandês ou catalão.

A Capela do Fundador não estava prevista no plano inicial de Afonso Domingues. Foi Huguet quem a concebeu e orientou a sua construção, por ordem de D. João I, que quis fazer dela uma espécie de panteão para si e para os seus filhos. Huguet fê-la em estilo gótico flamejante. Na parede do lado sul da capela estão os túmulos dos infantes D. Pedro e sua mulher, D. Henrique, D. João e sua mulher e D. Fernando. Na parede do lado poente estão, feitos por ordem do rei D. Carlos nos finais do séc. XIX, os túmulos do rei D. Afonso V, do rei D. João II e do filho primogénito deste, que não chegou a ser rei por ter morrido num acidente, D. Afonso.

No centro da Capela do Fundador está o grandioso túmulo do próprio D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Este túmulo é tão grande e tão alto, que não conseguimos ver convenientemente as estátuas jacentes do rei e da sua esposa. Bem podemos pôr-nos em bicos de pés, dar saltos e fazer toda a espécie de piruetas à volta do túmulo, que quase não conseguimos ver nada. Acabamos por sair da capela frustados. Pois bem, as estátuas de D. João I e de D. Filipa de Lencastre estão nesta fotografia aqui em baixo.


(Foto: Mosteiro da Batalha)

26 novembro 2015

Huka-huka, a luta corpo a corpo dos indígenas do Brasil

(Foto de autor desconhecido)

Na luta “huka-huka” cada aldeia tem seus melhores lutadores, que se apresentam escolhidos pela comunidade como principais. Duas pessoas de joelhos ao chão se seguram em frente uma da outra, com objetivo de tocar a parte de trás da coxa da perna do oponente.

(Foto: Ueslei Marcelino)

Entretanto, muitas vezes quando isso acontece, o vencedor carrega o adversário e o derruba bruscamente na terra. Não há juíz.

(Foto de autor desconhecido)

Essa luta está presente em vários de nossos rituais e significa status para o vencedor. Se ganha o respeito da aldeia e de outras aldeias, felicidade para a família e grande orgulho da comunidade a que pertence. Desde criança já se pratica o huka-huka para se tornar um grande lutador.

in Aldeia Ypawu Kamayurá


A aprendizagem do huka-huka no seio do povo Kalapalo, que vive no Parque Indígena do Xingu

24 novembro 2015

Um talento que desabrocha


1º andamento (Praino) do Concerto para Guitarra e Orquestra Nº 1, op. 3, de Dinis Meirinhos, por Dinis Meirinhos em guitarra clássica e uma orquestra dirigida por André Granjo


2º andamento (Lhaço) do Concerto para Guitarra e Orquestra Nº 1, op. 3, de Dinis Meirinhos, por Dinis Meirinhos em guitarra clássica e uma orquestra dirigida por André Granjo


A música de Miranda do Douro conta agora com um novo nome, o de Dinis Meirinhos. Eu não conheço Dinis Meirinhos de lado nenhum. Apenas o encontrei no Youtube e em mais dois ou três sites da internet.

Pelo que me foi dado consultar, Dinis Meirinhos é um jovem músico natural de Miranda do Douro Albergaria-a-Velha, mas com ascendência mirandesa (de São Martinho de Angueira, onde nas férias dança e toca caixa num grupo de pauliteiros), que toca guitarra clássica e se dedica também à composição. Frequentou o Conservatório de Música da Jobra (Associação de Jovens da Branca), na vila da Branca, concelho de Albergaria-a-Velha, onde concluiu o 12º ano em 2014/2015. Presentemente reside no Porto, onde frequenta a ESMAE (Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo).

O talento de Dinis Meirinhos, como intérprete de guitarra clássica e como compositor, aparece bem evidenciado nos dois vídeos que aqui se anexam, os quais contêm os dois andamentos que constituem o seu Concerto para Guitarra e Orquestra Nº 1, op. 3. Os vídeos foram gravados durante um concerto ao vivo, no qual Dinis Meirinhos toca guitarra como solista, acompanhado por uma orquestra não identificada, dirigida por André Granjo. Presumo que o concerto tenha sido realizado no Centro Cultural da Branca e que a orquestra tenha sido constituída por alunos do Conservatório de Música da Jobra.

Nesta sua composição, Dinis Meirinhos foi buscar inspiração ao planalto mirandês onde nasceu, à sua paisagem e à sua música tradicional. Eu não sou crítico de música e, por isso, não estou em condições de fazer uma avaliação do que aqui se ouve. Também não me parece que isso seja importante. O que é importante, é ouvir o que Dinis Meirinhos criou e tocou para fruição dos nossos ouvidos. Oxalá ele consiga continuar a desenvolver as suas potencialidades e vir a ser um músico consagrado e admirado. O começo é auspicioso.

17 novembro 2015

Algumas das obras de Amadeo de Souza-Cardoso (1887–1918) que estão em Amarante

Amadeo de Souza-Cardoso, Pintura (Abstração), óleo sobre tela, c. 1913, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante


Amadeo de Souza-Cardoso, Paisagem Verde, óleo sobre cartão, c. 1915, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante


Amadeo de Souza-Cardoso, Retrato de Francisco Ferreira Cardoso, óleo sobre cartão, c. 1913, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante


Amadeo de Souza-Cardoso, A Casa de Manhufe, óleo sobre madeira, c. 1913, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante


Amadeo de Souza-Cardoso, Caricatura de Ramiro Mourão, tinta-da-china sobre papel, 1906, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante


Amadeo de Souza-Cardoso, A Ascensão do Quadrado Verde e a Mulher do Violino, óleo sobre tela, c.1916 – c. 1918, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante


Amadeo de Souza-Cardoso, Canção Popular e Pássaro do Brasil, óleo sobre tela, c. 1916, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante

11 novembro 2015

Nestes 40 anos da dipanda, um kandandu em forma de música angolana


O Que Ela Quer, por Aline Frazão



Kilapanga do Órfão, pelos Café Negro



Isto Não É Um Poema, pelo Duo Canhoto



À Cidade Com Amor, por Nelo Carvalho



Ekumbi Lianda, por Jacinto Tchipa

08 novembro 2015

A dança das gotas



A tensão superficial de um líquido é a tendência que esse líquido apresenta para adquirir a menor superfície possível. As gotas de chuva que caem no para-brisas de um carro, por exemplo, tendem a tornar-se esféricas por causa da sua tensão superficial. As bolas de sabão também tendem a ser esféricas por causa da tensão superficial da mistura de água e sabão. Há insetos que se deslocam sobre a água sem se afundarem por causa da tensão superficial da água, que forma uma espécie de película elástica debaixo das patas destes insetos. E muitos mais exemplos se poderiam dar a respeito da tensão superficial.

A tensão superficial de um líquido é o resultado da atração existente entre as moléculas desse líquido. Isto é, cada molécula tende a atrair as moléculas vizinhas. No meio do líquido, a atração exerce-se em todas as direções por igual, pois a toda a volta de uma molécula há outras moléculas que são atraídas por ela e que também a atraem. Na superfície do líquido, pelo contrário, as moléculas não estão rodeadas em toda a sua volta por outras moléculas de líquido. Só as há abaixo da superfície. Acima desta, existem moléculas de ar ou de outra substância gasosa. Estas moléculas gasosas exercem uma atração sobre as moléculas da superfície do líquido que é menor do que a atração exercida pelas moléculas que estão abaixo da superfície. O líquido comporta-se, neste caso, como se estivesse a ser puxado para baixo. Como resultado, ele apresenta uma superfície tensa, a qual se comporta como uma membrana elástica. Este efeito é chamado efeito Marangoni, segundo o nome do físico italiano que o descreveu pela primeira vez em 1865.

O vídeo que aqui se apresenta mostra um conjunto de experiências e brincadeiras, em que se tira partido das tensões superficiais existentes em gotas de vários líquidos, sobre uma superfície de vidro rigorosamente limpa. Os líquidos não são mais do que misturas de água e propilenoglicol em percentagens diferentes. Cada mistura apresenta uma tensão superficial diferente também. A cada mistura foi adicionado um corante igualmente diferente, para permitir a sua identificação e obter os efeitos curiosos que se observam.

02 novembro 2015

Amor Eterno

O chefe índio brasileiro Tashka Peshaho Yawanawa, à esquerda, sendo cumprimentado pelo príncipe Carlos de Inglaterra (Foto: Zimbio)


Com o título em epígrafe, o chefe índio brasileiro Tashka Peshaho Yawanawa, do povo Yawanawa, que vive no estado do Acre, no Brasil, assim como nos territórios vizinhos do Peru e da Bolívia, publicou na sua página pessoal no Facebook o texto que se segue, em homenagem ao seu pai que tinha acabado de falecer. É um texto escrito com a emoção à flor da pele. Como tal, merece o nosso maior respeito. Considero-o um texto muito belo, apesar de estar escrito num português um tanto deficiente. É compreensível que assim seja. O povo Yawanawá tem a sua língua própria, que pertence à família linguística Pano. O português é apenas a sua segunda língua. Transcrevo o texto tal como o seu autor o publicou:

Meu pai,

hoje acordaste para a eternidade e dormiste para o descanso aqui deste mundo.

Minhas melhores lembranças juntos, vem da infância, quando a gente costumava caminhar pela floresta, abrindo caminhos, pescando nos pequenos igarapés e caçando mata adentro. Me lembro de você à frente, e eu, junto com meus irmãos, te seguindo, ouvindo você cantar e assobiar as canções que te faziam lembrar de nossos antepassados. Adorava seus assobios cortando o silencio da mata. Vou continuar seguindo seus passos, vou continuar ouvindo seus conselhos e ensinamentos. Cedo ou mais tarde estaremos juntos

Descance em paz meu pai.

Que o criador, que criou esse nãiwã raká, te dê um descanso merecido. O Pupuwã, que fica sentado bem na porta da estrada dos espíritos, anuncie a sua chegada com buzinas. Que todos venham ao seu encontro, te segurem pelo braço e te levem até a aldeia sagrada para encontrar nossos antepassados. Senta-te e assume o posto que foi preparado para ti.

Peço a Lua, que ilumine a escuridão na sua atravessia entre os dois mundos, mostre o caminho de onde viemos e onde todos iremos.

Peço ao Sol que sempre brilhou entre as matas, que sempre encheu o seu coração de esperança, que mostre a estrada dos espíritos e leve meu pai para a aldeia dos antigos.

Peço que as estrelas guiem seus passos, aquelas estrelas que sempre estiveram contigo nas noites enluaradas pela floresta a fora.

Peço que a floresta, te receba de volta, de onde viemos.

Cumpriste sua missão aqui na terra. Cumpriste como pai, como homem de família, como um pensador, como um visionário, como um grande sábio chefe Yawanawa.

O seu legado ficará para sempre com a gente.

A vida foi muito generosa contigo. Com o andar do tempo, a vida correu.A vida segue e não espera, assim como ela é.

Com amor eterno, Tashka Yawanawa