28 outubro 2012

Uma mensagem intemporal



Discurso de Charlie Chaplin no seu filme O Grande Ditador, de 1940. O filme completo, que pertence ao domínio público dada a sua antiguidade, pode ser visto aqui: http://www.youtube.com/watch?v=LfbTYhX6Dqs.

22 outubro 2012

Acordai!

Acordai!
Acordai, homens que dormis
A embalar a dor
Dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raiz!

Acordai!
Acordai, raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações…

Acordai!
Acendei, de almas e de sóis,
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais.

ACORDAI!

José Gomes Ferreira (1900-1985)



Acordai, de Fernando Lopes-Graça e José Gomes Ferreira, pelo Ensemble Vocal Pro Musica, do Porto, dirigido por José Manuel Pinheiro

20 outubro 2012

Faleceu Manuel António Pina


COISAS QUE NÃO HÁ QUE HÁ

Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia...

Manuel António Pina (1943-2012)

14 outubro 2012

Centum Cellas

A torre de Centum Cellas, em Colmeal da Torre, Belmonte (Foto: arturcs18)

Na freguesia de Colmeal da Torre, no concelho de Belmonte, a um par de quilómetros a norte da sede do concelho, encontram-se as ruínas de uma estranha torre, que ao longo dos tempos intrigou muita gente e sobre a qual se conjeturaram as mais diversas teorias. De que a torre era de origem romana, havia poucas dúvidas. Mas para que serviria ela? Seria uma torre militar de vigia? Seria uma villa? Uma estalagem? Um templo? Uma prisão? Com base nesta última hipótese, houve mesmo quem afirmasse que a torre seria o que restava de uma prisão com cem celas! Daqui veio o nome por que a torre é geralmente conhecida: Centum Cellas. Houve ainda quem acrescentasse que nessa tal prisão de cem celas terá estado cativo o papa São Cornélio...

As escavações arqueológicas que se fizeram entre 1993-94 e 1998, que puseram a descoberto alguma da área envolvente da torre, levaram à conclusão de que esta era a parte central de uma villa, que foi mandada construir no séc. I por um rico cidadão romano para sua residência. Em fins do séc. III, um incêndio terá destruído a villa, após o qual ela foi reconstruída com algumas alterações em relação à sua configuração original. Posteriormente, já na alta Idade Média, sobre as ruínas da villa foi construída uma capela, que teria sido dedicada a São Cornélio. Esta capela acabou por desaparecer no séc. XVIII. De pé só ficou a torre, que é um dos monumentos mais emblemáticos de Belmonte.

10 outubro 2012

Elvira Madigan


2º Andamento (Andante) do Concerto para Piano e Orquestra nº 21 em dó maior, Köchel 467, de Wolfgang Amadeus Mozart, pelo pianista Maurizio Pollini e a Orquestra do Teatro Scala de Milão, dirigida por Riccardo Muti. Esta peça faz parte da banda sonora do filme "Elvira Madigan", do realizador sueco Bo Widerberg, razão pela qual ela passou a ser também chamada Elvira Madigan. O compositor francês Olivier Messiaen afirmou que esta peça é «uma das mais belas melodias de Mozart e talvez, também, uma das mais belas de toda a música».

06 outubro 2012

Balada ditirâmbica do pequeno e do grande filho-da-puta

O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.
todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.

II
o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.
dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.
de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta.

Alberto Pimenta


Alberto Pimenta no Jardim Zoológico de Lisboa em 1977, durante uma performance/happening intitulada Homo Sapiens