28 fevereiro 2020

Contradança dos Saltões


Contradança dos Saltões, de António da Silva Leite (1759–1833), por Ricardo Silva, em guitarra inglesa, e Miguel Luís, em viola toeira

António da Silva Leite foi um compositor português da transição do séc. XVIII para o séc. XIX, natural da cidade do Porto, onde foi organista e professor de música, até se tornar Mestre Capela da Sé do Porto. Além de ter composto abundante música sacra no âmbito destas suas funções profissionais, António da Silva Leite compôs duas óperas, diversas modinhas e uma sinfonia.

A pequena peça de música que aqui se dá a escutar faz parte de um livro de António da Silva Leite intitulado Estudo de guitarra, em que se expoem o meio mais facil para aprender a tocar este instrumento. A guitarra a que o autor se refere é a guitarra inglesa, que alguns especialistas (como Carlos Paredes) consideram ter sido "antepassada" da guitarra portuguesa. Esta teoria é negada por outros estudiosos, que afirmam que a guitarra inglesa e a guitarra portuguesa evoluíram paralelamente a partir de um "antepassado" comum. Independentemente de se saber quem tem razão, a verdade é que a numerosa comunidade inglesa que no séc. XVIII vivia na cidade do Porto introduziu a guitarra inglesa em Portugal. Esta guitarra ganhou uma grande popularidade no nosso país, sendo tocada nos salões da burguesia do Porto, Lisboa, Coimbra e outras cidades como substituta do cravo.

26 fevereiro 2020

Os índios Xavantes


A'uwê Uptabi — O Povo Verdadeiro, documentário sobre os índios Xavantes, uma das mais emblemáticas etnias indígenas do Brasil. Direção de Angela M. Pappiani, Belisário Franca, Jurandir Siridiwê Xavante e Cristina M. Simões Flória. Narração de Milton Nascimento

21 fevereiro 2020

A árvore que enganou o diabo


Amendoeira em flor (Foto: Francisco Clamote)



A amendoeira é a árvore que enganou o diabo. O diabo como a viu florescer em janeiro, sentou-se debaixo dela, à espera que lhe amadurecessem os frutos, para depois ir guardar as outras árvores. Esteve até setembro à espera do fruto, pois é neste mês que a amendoeira o dá. Como nesse mês não estivessem maduras ainda as amêndoas, cansado já de esperar foi espreitar as outras árvores. Estas porém já estavam apanhadas e o diabo todo desapontado voltou para debaixo da amendoeira, mas neste meio tempo tinham-lhe apanhado as amêndoas e o diabo ficou logrado.


Lenda recolhida em Lisboa por Consiglieri Pedroso (1851-1940), Contos Tradicionais do Povo Português, por Teófilo Braga (1843-1924)

19 fevereiro 2020

Igreja de Santo António, Lagos


Fachada principal da igreja de Santo António, Lagos (Foto: Robber Esq)

Situada no centro histórico da cidade de Lagos, no Algarve, a igreja de Santo António está classificada como monumento nacional. Em estilo barroco, esta pequena igreja do séc. XVIII não é muito vistosa exteriormente, mas o seu interior é verdadeiramente digno de apreciação.

É verdade que a sua fachada está muito longe de ser feia, mas apresenta-se bastante lisa, em nada fazendo adivinhar o seu exuberante interior. Interior este que nos deixa de queixo caído de espanto, sobretudo por causa da sua riquíssima talha dourada, dos seus azulejos e do seu teto.

A talha dourada desta igreja é de uma exuberância ornamental verdadeiramente impressionante. Não há nela praticamente nenhuma superfície lisa. Tudo está preenchido com a decoração própria do estilo barroco, isto é, com anjos e anjinhos (papudos e não papudos), com santos e santinhos, com parras e cachos de uvas, com volutas e revolutas, com torcidos e retorcidos, com voltas e revoltas, com atlantes e cariátides, enfim, com todos os recursos de que o barroco dispunha para nos "encher o olho". Mesmo eu, que não sou grande apreciador dos excessos do decorativismo barroco, tive que me render perante a exuberância, tão grande e com tanta qualidade, da talha dourada da igreja de Santo António de Lagos.


Capela-mor da igreja de Santo António, Lagos (Foto: Lacobrigo)

Aonde a talha não chega, estão painéis de azulejos azuis e brancos, com os motivos decorativos característicos da época.

O notável teto da igreja, por seu lado, dá-nos uma impressão, muito bem conseguida, de que é muito mais alto do que é na realidade. Culmina com o escudo real bem lá no alto, parecendo estar muitos e muitos metros acima das nossas cabeças. A ilusão é perfeita.

Falta acrescentar que não se deve deixar de visitar o museu anexo à igreja, que é o Museu Municipal Dr. José Formosinho, o qual contém um magnífico acervo arqueológico, assim como de arte popular, que é característica desta cidade de Lagos e desta província portuguesa única e diferenciada que é o Algarve.


Teto, em trompe-l'œil, da nave da igreja de Santo António, Lagos (Foto: Joan Costa)

12 fevereiro 2020

«Impossível é dissociar as mãos da construção»

Impossível é dissociar as mãos da construção
do mundo. Afloro quase sempre uma palavra abro-a
lentamente com as mãos até que o ritmo
do poema se instale reverbere uma imagem clara
e se desfeche. Escrevo como se estendesse raízes e sou
um ramo adormecido alcançando em silêncio.
Nas mãos repousa o primeiro dia, a primeira vez
de todas as coisas.

Gisela Gracias Ramos Rosa, O Livro das Mãos, Coisas de Ler Editora, Vialonga, 2017



(Foto de autor desconhecido)

05 fevereiro 2020

Epígrafe para a Arte de Furtar


Epígrafe para a Arte de Furtar, música de José Afonso para um poema de Jorge de Sena, por José Afonso

03 fevereiro 2020

Baltazar Gomes Figueira


Baltazar Gomes Figueira (1604–1674), Calvário, 1636, óleo sobre tela, Igreja da Santa Casa da Misericórdia, Peniche, Portugal

«Filho de peixe sabe nadar», diz o provérbio. No caso da pintora Josefa d'Óbidos, esta afirmação é verdadeira, pois ela foi filha de Baltazar Gomes Figueira, um dos mais destacados pintores portugueses da transição do Maneirismo para o Barroco.

Baltazar Gomes Figueira nasceu em Óbidos, em 1604, e em Óbidos faleceu, em 1674. Tendo seguido uma carreira militar ainda no tempo da dinastia filipina, Baltazar Gomes Figueira esteve na Andaluzia, onde se casou com uma sevilhana (mãe de Josefa d'Óbidos) e onde contactou com a pintura de destacados artistas espanhóis cuja mestria assimilou. Quando regressou a Portugal, em 1634, já ele gozava de grande prestígio e passou a trabalhar como pintor e avaliador na Casa de Bragança, primeiro, e na corte de D. João IV e D. Afonso VI, depois. Foi um praticante do Tenebrismo, que foi uma tendência artística caracterizada por grandes contrastes entre luz e sombra, realçados por amplas superfícies enegrecidas. Pintou numerosas naturezas mortas.


Baltazar Gomes Figueira (1604–1674), Natureza Morta com Laranjas, Cebolas, Peixe e Caranguejo, 1645, óleo sobre madeira, Musée du Louvre, Paris, França