26 novembro 2019

Hans Silvester




Hans Silvester é um fotógrafo profissional alemão, nascido em 1938 e residente em França. Das suas viagens pelo mundo resultou um conjunto bastante numeroso de livros, alguns dos quais costumam estar à venda na secção de fotografia ou de arte nas livrarias. Dizem que o seu livro mais popular tem os gatos das ilhas gregas como tema, mas os seus trabalhos mais notáveis são certamente fruto das viagens que ele fez a África, sobretudo ao vale do Rio Omo, no sul da Etiópia.

O Rio Omo nasce no coração da Etiópia e desagua no Lago Turkana, na fronteira com o Quénia. As belíssimas fotografias que Hans Silvester fez das gentes que vivem nas margens deste rio têm causado espanto em todo o mundo. Elas revelam um conjunto de tribos cujos membros fazem dos seus próprios corpos sublimes obras de arte, mas cuja cultura, ao que tudo indica, se encontra ameaçada de extinção a muito curto prazo, em consequência do avanço do dito mundo moderno.

A Etiópia é um país que tem vindo a passar por um período de grande crescimento económico e está apostada em tornar-se num grande produtor de energia elétrica, tanto para consumo interno, como para exportar para os países vizinhos. Com este fim em vista, lançou-se num ambicioso programa de construção de barragens nos seus principais rios. Poucos dias depois de ter sido anunciado que o Prémio Nobel da Paz 2019 era atribuído ao primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, este anunciou a construção de mais uma barragem, desta feita no Rio Nilo Azul, o que provocou um justificado alarme no Egito, país que depende do Nilo de forma crítica. Abiy Ahmed afirmou que a barragem vai mesmo ser construída, ainda que para isso tenha que haver uma guerra entre a Etiópia e o Egito. Nada mau para quem acabou de ganhar um Prémio Nobel da Paz!

O Rio Omo e os seus afluentes também não escaparam ao programa de construção de barragens lançado pelos governos etíopes. Várias barragens já foram construídas, a última das quais é a chamada Gibe III, no próprio Rio Omo, que se tornou na mais alta barragem de toda a África, com a sua parede de betão de 243 metros de altura! Calcula-se que a vida de cerca de meio milhão de pessoas já está a ser seriamente afetada por esta barragem. O enchimento da albufeira, para começar, já provocou uma gravíssima falta de água a jusante e consequentemente a fome na população local.

Além disso, espera-se que a água retida na barragem de Gibe III possa vir a ser usada como meio de irrigação na agricultura industrial. O governo etíope já começou a concessionar vastíssimas extensões de terras, que eram usadas como pastos para o gado pelos habitantes da região, para a monocultura de cana-de-açúcar. O que tenciona então o governo fazer às pessoas que lá vivem? Vai deixá-las morrer sem meios de subsistência?

Tudo leva a crer, portanto, que as imagens feitas por Hans Silvester e outros visitantes ao vale do Rio Omo possam vir a ser, dentro em breve, o último e trágico testemunho de uma civilização original que cultivava a beleza.


(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

(Foto: Hans Silvester)

24 novembro 2019

Frei João Sem Cuidados


(Desenho de autor desconhecido)



O rei ouvia sempre falar em Frei João Sem Cuidados como um homem que não se afligia com coisa nenhuma deste mundo.

— Deixa-te estar, que eu é que te hei de meter em trabalhos.

Mandou-o chamar à sua presença, e disse-lhe:

— Vou dar-te uma adivinha, e se dentro em três dias me não souberes responder, mando-te matar. Quero que me digas:

Quanto pesa a lua?

Quanta água tem o mar?

O que é que eu penso?

Frei João Sem Cuidados saiu do palácio bastante atrapalhado, pensando na resposta que havia de dar àquelas perguntas. O seu moleiro encontrou-o no caminho, e lá estranhou de ver Frei João Sem Cuidados de cabeça baixa e macambúzio.

— Olá, senhor Frei João Sem Cuidados, então o que é isso, que o vejo tão triste?

— É que o rei disse-me que me mandava matar, se dentro em três dias eu lhe não respondesse a estas perguntas: — Quanto pesa a lua? Quanta água tem o mar? E o que é que ele pensa?

O moleiro pôs-se a rir, e disse-lhe que não tivesse cuidado, que lhe emprestasse o hábito de frade, que ele iria disfarçado e havia de dar boas respostas ao rei.

Passados os três dias, o moleiro vestido de frade foi pedir audiência ao rei. O rei perguntou-lhe:

— Então, quanto pesa a lua?

— Saberá vossa majestade que não pode pesar mais do que um arrátel, porque todos dizem que ela tem quatro quartos.

— É verdade. E agora: Quanta água tem o mar?

Respondeu o moleiro:

— Isso é muito fácil de saber; mas como vossa majestade só quis saber da água do mar, é preciso que primeiro mande tapar todos os rios, porque sem isso nada feito.

O rei achou bem respondido; mas zangado por ver que Frei João se escapava das dificuldades, tornou:

— Agora, se não souberes o que é que eu penso, mando-te matar!

O moleiro respondeu:

— Ora, vossa majestade pensa que está falando com Frei João Sem Cuidados, e está mas é falando com o seu moleiro.

Deixou cair o hábito de frade e o rei ficou pasmado com a esperteza do ladino.



Conto popular recolhido em Coimbra.

Contos Tradicionais do Povo Português, por Teófilo Braga

19 novembro 2019

José Mário Branco foi para longe, mas continua tão perto


Eu Vim de Longe, Eu Vou p'ra Longe ("Chulinha"), por José Mário Branco (1942–2019)

18 novembro 2019

Augusto Roquemont


Autorretrato, óleo sobre tela de Augusto Roquemont (1804–1852), Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, Portugal

Augusto Roquemont foi um pintor suíço nascido em Genebra em 1804, filho do príncipe alemão Frederico Augusto de Hesse Darmstadt. Aos 24 anos de idade veio para Portugal e em Portugal ficou até ao fim da vida. Fixou residência em Guimarães, primeiro, e no Porto, depois, além de ter passado cinco anos em Lisboa. Morreu no Porto em 1852. Tornou-se um dos pintores mais importantes do Romantismo em Portugal, do qual foi um dos introdutores, tendo-se dedicado, sobretudo, a pintar retratos de personalidades e cenas de costumes populares portugueses, sobretudo do Minho. Por este facto, Augusto Roquemont é frequentemente considerado um pintor português, apesar da sua origem estrangeira.


Chafariz de Guimarães, de Augusto Roquemont (1804–1852), Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, Portugal

13 novembro 2019

A Sé Catedral da Guarda


Fachada lateral norte da Sé Catedral da Guarda (Foto: Antonio Martins)

Dizia-se que a cidade da Guarda era a cidade dos cinco efes: Forte, Farta, Fria, Fiel e... Feia.

Feia, a Guarda?! Lavro o meu protesto! Eu gosto muito da Guarda e não posso aceitar que alguém diga que ela é feia. A Guarda é a cidade dos cinco efes, sim, mas estes são: Forte, Farta, Fria, Fiel e FORMOSA!

«Formosa, a Guarda?», poderão alguns objetar por sua vez. «Como poderá ser formosa uma cidade que é talhada no duro e cinzento granito? Ainda se fosse em calcário ou outra pedra branda e branca…» E eu respondo: «Visitem a Sé da Guarda e depois venham dizer-me se pode ser considerada feia uma cidade que tem uma tal catedral.» Note-se que é uma catedral talhada no duro granito, como o resto da cidade. Muito trabalho ela deve ter dado aos seus pedreiros!


Fachada lateral sul da Sé da Guarda (Foto: Nuno Tavares)

A diocese da Guarda foi criada na transição do séc. XII para o séc. XIII pelo papa Inocêncio III, a pedido do rei de Portugal D. Sancho I, em substituição da diocese de Egitânia, com sede na atual vila histórica de Idanha-a-Velha. Por esta razão é que os naturais da Guarda são chamados egitanienses, à semelhança dos naturais de Idanha-a-Velha e também dos de Idanha-a-Nova.

A atual Sé Catedral da Guarda começou a ser construída nos finais do séc. XIV, mas só ficou concluída no séc. XVI. É, portanto, uma catedral gótica, mas com uma mistura de diversas variantes do gótico, incluindo o manuelino, fruto da sucessão de vários bispos e de vários arquitetos ocorrida ao longo do tempo. Os restauros que se fizeram nos séculos seguintes levaram ao acrescentamento de elementos de outros estilos, mas na transição do séc. XIX para o séc. XX foi reposta muita da sua traça original, que é a que hoje se vê, graças ao arquiteto Rosendo Carvalheira.

A Sé da Guarda está orientada no sentido nascente-poente e com a capela-mor virada para nascente, como era hábito nas igrejas, mas é a sua fachada lateral virada a norte que mais impressiona. Vêmo-la de baixo para cima, o que nos dá uma sensação de particular grandiosidade deste magnífico templo. O portal principal, que está virado para poente e é em estilo manuelino, também merece a nossa admiração.


Portal principal da Sé da Guarda (Foto: Catarina Leonardo)

Se por fora a Sé da Guarda é um templo notável, ainda mais notável é ela por dentro. A beleza simples mas harmoniosa e a amplidão do seu interior dão-nos uma impressão de grande elevação e misticismo. É, inquestionavelmente, uma catedral gótica, que convida a nossa alma a subir para o céu.


Aspeto do interior da Sé da Guarda (Foto de autor desconhecido)

De grande beleza e enorme valor artístico é também o retábulo do altar-mor, atribuído ao escultor francês João de Ruão (Jean de Rouen), que viveu no séc XVI, passou a maior parte da sua vida em Coimbra e tanta e tão maravilhosa escultura deixou neste cantinho da Europa chamado Portugal.


Retábulo renascentista da Sé da Guarda (Foto: Celestino Manuel)

Dir-me-ão: «Pois sim, a Sé da Guarda é muito bonita, as igrejas da Misericórdia e de São Vicente também são, a antiga Judiaria é um belo bairro medieval e o Museu da Guarda merece uma visita muito atenta. Mas quem é que se atreve a ir à Guarda neste tempo de neves e de geadas?» Eu respondo que a Guarda tem uma hospitalidade franca e aberta, que é própria das gentes beiroas e que compensa, com o aconchego do seu calor humano, o frio, os ventos e as neves desta que é a cidade mais alta de Portugal.

06 novembro 2019

A Menina do Mar


A Menina do Mar, conto de Sophia de Mello Breyner Andresen, narrado por Eunice Muñoz e com a participação dos atores Francisca Maria, António David e Luís Horta. Música de Fernando Lopes-Graça. Direção de Artur Ramos

05 novembro 2019

A Carruagem


Tema musical de Anne Victorino d'Almeida, para o filme de curta-metragem A Carruagem, de Anne Victorino d'Almeida e João Vasco, por um agrupamento musical constituído por Jordi Rodriguez (violino), Pedro Lopes (violino), Pedro Meireles (violeta), Daniela de Brito (violoncelo), Paulo Jorge Ferreira (acordeão) e Alexandra Simpson (piano), sob a direção de Pedro Neves