13 novembro 2019

A Sé Catedral da Guarda


Fachada lateral norte da Sé Catedral da Guarda (Foto: Antonio Martins)

Dizia-se que a cidade da Guarda era a cidade dos cinco efes: Forte, Farta, Fria, Fiel e... Feia.

Feia, a Guarda?! Lavro o meu protesto! Eu gosto muito da Guarda e não posso aceitar que alguém diga que ela é feia. A Guarda é a cidade dos cinco efes, sim, mas estes são: Forte, Farta, Fria, Fiel e FORMOSA!

«Formosa, a Guarda?», poderão alguns objetar por sua vez. «Como poderá ser formosa uma cidade que é talhada no duro e cinzento granito? Ainda se fosse em calcário ou outra pedra branda e branca…» E eu respondo: «Visitem a Sé da Guarda e depois venham dizer-me se pode ser considerada feia uma cidade que tem uma tal catedral.» Note-se que é uma catedral talhada no duro granito, como o resto da cidade. Muito trabalho ela deve ter dado aos seus pedreiros!


Fachada lateral sul da Sé da Guarda (Foto: Nuno Tavares)

A diocese da Guarda foi criada na transição do séc. XII para o séc. XIII pelo papa Inocêncio III, a pedido do rei de Portugal D. Sancho I, em substituição da diocese de Egitânia, com sede na atual vila histórica de Idanha-a-Velha. Por esta razão é que os naturais da Guarda são chamados egitanienses, à semelhança dos naturais de Idanha-a-Velha e também dos de Idanha-a-Nova.

A atual Sé Catedral da Guarda começou a ser construída nos finais do séc. XIV, mas só ficou concluída no séc. XVI. É, portanto, uma catedral gótica, mas com uma mistura de diversas variantes do gótico, incluindo o manuelino, fruto da sucessão de vários bispos e de vários arquitetos ocorrida ao longo do tempo. Os restauros que se fizeram nos séculos seguintes levaram ao acrescentamento de elementos de outros estilos, mas na transição do séc. XIX para o séc. XX foi reposta muita da sua traça original, que é a que hoje se vê, graças ao arquiteto Rosendo Carvalheira.

A Sé da Guarda está orientada no sentido nascente-poente e com a capela-mor virada para nascente, como era hábito nas igrejas, mas é a sua fachada lateral virada a norte que mais impressiona. Vêmo-la de baixo para cima, o que nos dá uma sensação de particular grandiosidade deste magnífico templo. O portal principal, que está virado para poente e é em estilo manuelino, também merece a nossa admiração.


Portal principal da Sé da Guarda (Foto: Catarina Leonardo)

Se por fora a Sé da Guarda é um templo notável, ainda mais notável é ela por dentro. A beleza simples mas harmoniosa e a amplidão do seu interior dão-nos uma impressão de grande elevação e misticismo. É, inquestionavelmente, uma catedral gótica, que convida a nossa alma a subir para o céu.


Aspeto do interior da Sé da Guarda (Foto de autor desconhecido)

De grande beleza e enorme valor artístico é também o retábulo do altar-mor, atribuído ao escultor francês João de Ruão (Jean de Rouen), que viveu no séc XVI, passou a maior parte da sua vida em Coimbra e tanta e tão maravilhosa escultura deixou neste cantinho da Europa chamado Portugal.


Retábulo renascentista da Sé da Guarda (Foto: Celestino Manuel)

Dir-me-ão: «Pois sim, a Sé da Guarda é muito bonita, as igrejas da Misericórdia e de São Vicente também são, a antiga Judiaria é um belo bairro medieval e o Museu da Guarda merece uma visita muito atenta. Mas quem é que se atreve a ir à Guarda neste tempo de neves e de geadas?» Eu respondo que a Guarda tem uma hospitalidade franca e aberta, que é própria das gentes beiroas e que compensa, com o aconchego do seu calor humano, o frio, os ventos e as neves desta que é a cidade mais alta de Portugal.

Comentários: 5

Blogger Ricardo Santos escreveu...

Estive na Guarda algumas vezes. Uma delas em trabalho informático, durante uma semana, na Segurança Social. É uma cidade muito agradável e bonita, ao contrário daquilo que se costuma dizer. Retiro o Feia" dos cinco F's !

14 novembro, 2019 19:27  
Blogger Valdemar Silva escreveu...

Á primeira vista, não sabemos qual é Porta Principal, se a Porta central ou a lateral.

Valdemar Queiroz

16 novembro, 2019 02:31  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Ricardo Santos, retiramos o "Feia", mas deixamos ficar o "Fria". Há cerca de vinte anos, ou pouco mais, acampei na Guarda e, apesar de ser verão, fartei-me de tremer de frio durante a noite. Levantei a tenda de manhã e fui logo a seguir alojar-me no Hotel Turismo...

Valdemar Silva, a sua dúvida tem toda a razão de ser. É habitual dizer-se que a porta ao fundo da nave de uma igreja, oposta à capela-mor, é a porta principal, mas há casos em que isso não é verdade. Estou agora a lembrar-me da igreja do Convento de Jesus, em Setúbal, em que a porta principal é mesmo lateral.

Um abraço

16 novembro, 2019 20:43  
Blogger Valdemar Silva escreveu...

Fernando Ribeiro, assim acontece na Igreja dos Jerónimos, em Belém-Lisboa, inclusivamente esta até está quase escondida por posteriormente se acrescentar o restante corpo do Mosteiro para oeste.
Possivelmente a explicação está no local escolhido para a construção e no posicionamento da 'obrigatoriedade' da porta principal estar virada a poente-sul, oposta ao Altar-Mor, e a lateral (sendo majestosa) 'abrir' para um local mais amplo ou central.

Um abraço

17 novembro, 2019 01:09  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Valdemar Silva, como é possível que eu não me tenha lembrado dos Jerónimos? Ai esta cabeça! Já está como há de ir...

A porta lateral do Mosteiro dos Jerónimos é certamente a mais bela jóia da arquitetura portuguesa de todos os tempos (não desfazendo na Torre de Belém). É insuperável! Mas eu pergunto-me como veríamos nós a porta principal, se ela não tivesse sido metida numa espécie de túnel, em resultado da construção no séc. XIX do comprido corpo para oeste, onde estão alojados os Museus de Arqueologia e de Marinha. Certamente esta porta não foi feita para ficar assim tapada!

Um abraço

17 novembro, 2019 02:04  

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