27 novembro 2014

Um Património de estimação


O cante é, a partir de agora e com toda a justiça, Património Cultural Imaterial da Humanidade


O Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, da agora chamada Vila Nova de São Bento, no concelho de Serpa

25 novembro 2014

Mortu Nega


Trailer do filme Mortu Nega, de Flora Gomes, da Guiné-Bissau

Mortu Nega ("Morte Negada") é o título da primeira longa-metragem realizada pelo cineasta Flora Gomes, da Guiné-Bissau. Com este seu filme de 1988, Flora Gomes (que é um homem, apesar de o nome sugerir que se trate de uma mulher) mostrou ser um realizador de grande nível, de tal maneira que foi condecorado pela República Francesa como Cavaleiro das Artes e das Letras. O seu mais recente filme é A República di Mininus, realizado em 2012.

O filme Mortu Nega aborda o tema da guerra pela independência da Guiné-Bissau, lançando o seu olhar sobre a luta armada propriamente dita e sobre as suas consequências após a independência. Estas consequências são simbolizadas por uma seca e por uma ferida num pé, sofrida em combate e que teima em não se curar, de uma das personagens do filme. A solução para a seca e para a cura da ferida, segundo Flora Gomes, está na própria cultura ancestral africana.

O filme está dividido em duas partes: a guerra (1973) e o após guerra (1977). A transição de uma parte para outra dá-se na cena que a seguir se apresenta.




Em ambas as partes, as personagens principais do filme são as mesmas: Diminga e Sako. É de salientar que todos os atores são amadores e dão uma verdadeira lição de representação a muitos profissionais. O próprio filme, no seu todo, é um grande filme, feito por um grande realizador. Recomendo-o, portanto. No vídeo que se segue ele pode ser visto na totalidade, falado em crioulo e legendado em inglês.



Mortu Nega, filme de Flora Gomes, da Guiné-Bissau

22 novembro 2014

Tradição e modernidade — 4

(Foto: Alex Barbosa dos Santos)

Cada vez mais os indígenas brasileiros vão aderindo às novas tecnologias de informação e participando nas redes sociais, tanto individual como coletivamente, para partilharem vivências e informações e para darem conta das suas reivindicações e das lutas que travam pelos seus legítimos direitos.

Na imagem acima, vemos um índio Kamayurá, em primeiro plano e de costas, registando um momento do kwaryp de 2014 que ocorreu na aldeia Ypawu, habitada por membros do seu povo, no Parque Indígena do Xingu, Brasil. O kwaryp (também grafado kwarup) é um conjunto de ritos, cerimónias e celebrações, que se realiza todos os anos em homenagem aos mortos da aldeia. A palavra kwaryp também designa o tronco ornamentado que se vê à direita, na imagem, o qual representa uma determinada pessoa que faleceu durante o ano que passou. Outros troncos se encontram alinhados com este, representando outros tantos mortos homenageados nos rituais do kwaryp.

21 novembro 2014

Nova Lisboa e a sua toponímia

(2ª evocação de uma Angola colonial)

Norton de Matos,
Paiva Couceiro,
Pereira d'Eça,
José de Almeida.

Nessa cidade
que havia em África,
nomes de brancos
tomavam conta
da toponímia
das avenidas,
ruas e praças.

Da Baixa à Alta:
Craveiro Lopes,
Silva Carvalho,
Sousa Gentil
e outros mais
iguais a tais.

Nesta cidade,
que havia em África,
tão batizada
com apelidos
de homens ilustres
que eram do Puto
— nomes de negros
(como o do soba
Wambo Kalunga
ou o do rei
Katiavala,
que muita gente
desconhecia)
não se escolhiam
no Município,
nem para becos
de serventia...

(publicado em «Cultura, Jornal Angolano de Artes e Letras», nº 64, ano 3, 1 a 14 de Setembro de 2014)

Inácio Rebelo de Andrade, in O que Disparo em Verso (poemas), Edições Colibri, Lisboa


Puto: designação dada a Portugal pelos naturais da ex-Colónia. «Homens do Puto» queria dizer homens naturais de Portugal.

soba: chefe tradicional com jurisdição territorial reconhecida pelo seu povo.


Cidade do Huambo, antiga Nova Lisboa, Angola, na atualidade (Foto de autor desconhecido)

19 novembro 2014

Peraltagem

O canto distante da sariema encompridava a tarde.
E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela.
E quando o grito da mãe nos alcançava a gente já estava do
          [outro lado do rio,
O pai nos chamou pelo berrante.
Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé.
Com receio de um carão do pai.
Logo a tosse do vô acordou o silêncio da casa.
Mas não apanhamos nem.
E nem levamos carão nem.
A mãe só que falou que eu iria viver leso fazendo só essas coisas.
O pai completou: ele precisava de ver outras coisas além de
          [ficar ouvindo só o canto dos pássaros.
E a mãe disse mais: esse menino vai passar a vida enfiando água
          [no espeto!
Foi quase.

Manoel de Barros (1916-2014), poeta brasileiro


O poeta Manoel de Barros, falecido no passado dia 13 de novembro, numa caricatura de André Costa

17 novembro 2014

Um notável matemático deixou-nos

Paulus Gerdes (1952-2014), matemático moçambicano (Foto de autor desconhecido)

Muita gente pensará que as expressões "África a sul do Sahara" e "Matemática" são incompatíveis, partindo do princípio de que os povos desta vasta região de África não possuem conhecimentos próprios no domínio da Matemática, assim como nunca contribuíram em nada para esta ciência.

Nada mais errado, como o demonstrou um notável matemático, de seu nome Paulus Gerdes, que investigou de forma aprofundada a matemática subjacente aos desenhos e motivos geométricos feitos pelos povos africanos negros. A obra de Paulus Gerdes, neste domínio, é de referência obrigatória para todos quantos se debruçam sobre o domínio da Etnomatemática. Ele foi uma autoridade de nível mundial neste ramo da ciência.

Paulus Gerdes nasceu em 1952 na Holanda, no seio de uma família holandesa, mas radicou-se em África e em África morreu, com a nacionalidade moçambicana por naturalização. Este europeu pelo nascimento e africano pelo coração faleceu no passado dia 10 de novembro em Joanesburgo, um dia antes de completar 62 anos de idade, e o seu funeral teve lugar na cidade de Maputo.

A obra deixada por Paulus Gerdes é notável, tanto no ensino como na investigação. No campo do ensino e na sua qualidade de professor catedrático, Paulus Gerdes era, à data do seu falecimento, presidente da comissão instaladora de uma nova universidade pública no norte de Moçambique: a Universidade Lúrio, com polos em Nampula, Cabo Delgado e Niassa.

No domínio da investigação científica, para se ficar com uma pequena ideia da qualidade do trabalho desenvolvido por Paulus Gerdes ao longo da sua vida, reproduzo a seguir uma passagem sobre os desenhos na areia sona, que traduzi para português, de uma sua comunicação intitulada "Ethnomathematics as a new research field, illustrated by studies of mathematical ideas in African history", a um congresso denominado "New Trends in the History and Philosophy of Mathematics".

Um exemplo de estudo histórico-etnomatemático é a minha tentativa de analisar e reconstituir a tradição sona. Esta tradição desenvolveu-se entre os Quiocos (Cokwe) do nordeste de Angola e povos relacionados. A cultura quioca é bem conhecida pela sua arte decorativa, que vai desde as esteiras e cestos entrançados, trabalhos em ferro, cerâmica, escultura e gravura em cabaças até às tatuagens, pinturas nas paredes das casas e desenhos na areia chamados "sona" (singular: "lusona"). Durante os ritos de iniciação, cada rapaz aprendia o significado e a execução dos sona mais fáceis. Os especialistas em desenho (akwa kuta sona) transmitiam os sona mais complicados aos seus descendentes do sexo masculino. Estes especialistas em desenho eram ao mesmo tempo contadores de histórias, que usavam os sona como ilustrações, com referência a provérbios, fábulas, jogos, enigmas, animais. Os desenhos são executados da seguinte maneira: depois de limparem e alisarem o chão, os especialistas em desenho marcam primeiro com as pontas dos dedos uma rede de pontos equidistantes; a seguir desenham uma linha que envolve os pontos da rede. Os especialistas executam os desenhos rapidamente. Uma vez traçados, os desenhos são geralmente apagados de imediato.

A figura 1 apresenta alguns exemplos de sona. O tráfico de escravos, a penetração e a ocupação colonial provocaram um declínio cultural e a perda de muitos conhecimentos sobre os sona. Com base numa análise dos sona relatada por missionários, administradores coloniais e etnógrafos, tentei contribuir para a reconstrução dos elementos matemáticos na tradição sona. Como os exemplos da figura 1 sugerem, a simetria e a unilinearidade desempenhavam um importante papel como valores culturais: a maior parte dos sona quiocos são simétricos e/ou unilineares. Unilinear significa composto por uma única linha; uma parte da linha pode cruzar-se com outra parte da linha, mas uma parte da linha não pode nunca tocar numa outra parte.

Figura 1 - Exemplos de sona simétricos e unilineares

Os especialistas em desenho desenvolveram toda uma série de algoritmos geométricos para a criação de desenhos unilineares e simétricos. A figura 2 mostra dois sona unilineares que pertencem à mesma classe, no sentido em que, embora as dimensões das grelhas subjacentes sejam diferentes, ambos os sona são desenhados através da aplicação do mesmo algoritmo geométrico.

Figura 2 - Dois sona desenhados com o mesmo algoritmo geométrico

Os especialistas em desenho também inventaram várias regras para construir sona unilineares. A seguir apresenta-se um primeiro exemplo. A figura 3 mostra três sona unilineares. Eles são semelhantes entre si: cada um deles apresenta um desenho básico de forma triangular. Eu suponho que os especialistas em desenho que inventaram estes sona começaram provavelmente com padrões triangulares e transformaram-nos em padrões unilineares com a ajuda de uma ou mais voltas amplas (ver o exemplo na figura 4). Os padrões unilineares assim obtidos foram topologicamente adaptados (talvez mais tarde por outros especialistas) de maneira a poderem exprimir as ideias que os desenhadores pretendiam transmitir através deles.

Figura 3 - a) Uma águia transportando uma galinha; b) Uma pessoa morta de cansaço; c) Uma ave thimunga voando

Figura 4 - Transformação de um desenho triangular num desenho unilinear

Os especialistas em sona também descobriram várias regras para encadearem sona unilineares uns nos outros, no sentido de formarem sona unilineares maiores. A figura 5 mostra um exemplo do uso de uma regra de encadeamento: indica como o aspeto do desenho unilinear da figura 5c pode ser explicado com base na unilinearidade dos dois padrões da figura 5a e a forma como eles foram encadeados um no outro (ver figura 5 b).

Figura 5 - Exemplos da aplicação de uma regra de encadeamento

A unilinearidade do lusona da figura 6a pode ser explicada com base em outra regra de encadeamento: se nós juntarmos grelhas quadradas (no exemplo: duas grelhas com as dimensões 2x2) a um retângulo cujas dimensões são primas entre si (no exemplo: 3x5), então a grelha resultante permite um desenho unilinear, se aplicarmos o mesmo algoritmo geométrico que foi usado na figura 6b, com uma grelha retangular com as dimensões 3x5 (algoritmo da 'esteira entrançada diagonalmente').

Figura 6 - a) Representação de um macaco-cão; b) Estrutura da grelha

Enquanto analisava e reconstruía elementos da tradição sona, descobri que foram descritos bastantes sona que claramente não se conformam com os valores culturais da simetria e da unilinearidade. Por vezes a simetria ou a unilinearidade foram quebradas com vista a dar ao desenho um significado específico (a figura 7 dá um exemplo).

Figura 7 - Lusona representando 'kilu' ou 'kalamba', o pensador (unilinear, mas não simétrico)

Muitas vezes parece que nos deparamos com enganos ou erros. A figura 8a dá um exemplo de um lusona reproduzido com erros e a figura 8b o desenho reconstruído sem erros. Os especialistas em desenho podem ter cometido alguns destes erros porque já eram idosos quando foram entrevistados. Disseram que quando eram novos tinham sido muito melhores 'akwa kuta sona'. Podemos estar perante erros de transmissão do conhecimento sona de uma geração para a seguinte ou então perante um engano por parte do entrevistador, que pode ter tido pouco tempo para fazer as suas cópias, já que os especialistas apagam os seus desenhos logo que acabam de contar a história. O apagamento era uma forma de proteger o seu saber, a fim de conservar o seu monopólio sobre o saber sona. Também podemos estar perante uma outra razão provável para cometer erros na ilustração dos sona: uma forma de resistência cultural; os especialistas cometeriam erros conscientemente para enganar o entrevistador — o branco, associado ao tráfico esclavagista, à administração colonial e ao cristianismo —, e assim protegerem o seu saber secreto. No caráter secreto e no monopólio da tradição sona está também uma explicação para a sua gradual extinção: logo que um especialista em desenho era capturado como escravo, o saber desaparecia da sua comunidade; um pouco deste saber pode ter sobrevivido de uma forma ou de outra no 'Novo Mundo'. Em 1997, o autor teve a oportunidade de tomar conhecimento da sobrevivência de um desenho do tipo sona nos Estados Unidos da América. A figura 9 apresenta um desenho na areia que me foi feito por uma senhora que cresceu em Greenwood, Mississipi, que fica no Delta, próximo de Greenville. Ela aprendeu este e outros sona com Mary Reaves — de ascendência africana, nascida há quase cem anos — que foi sua enfermeira (Susan Enger, comunicação pessoal, 1997).

Figura 8 - a) Lusona reproduzido, representando uma leoa com as suas duas crias. O desenho não é simétrico nem unilinear; b) Desenho reconstruído simétrico e unilinear (as caudas são acrescentadas no fim)

Figura 9 - Um desenho do tipo lusona — que sobreviveu ao tráfico de escravos — nos EUA

(...)

Vários livros escritos por Paulus Gerdes podem ser descarregados gratuitamente e de forma completamente legal, em formato digital PDF. É a própria editora que os disponibliza. Quem estiver interessado, pode dirigir-se a este endereço: http://www.etnomatematica.org/home/?p=4473.

14 novembro 2014

Masters of war


Masters of War, de Bob Dylan, pelos Pearl Jam. A letra original desta canção é a seguinte:

Come you masters of war
You that build all the guns
You that build the death planes
You that build all the bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks.

You that never done nothin'
But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly.

Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain.

You fasten all the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion'
As young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud.

You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins.

How much do I know
To talk out of turn
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
That even Jesus would never
Forgive what you do.

Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul.

And I hope that you die
And your death'll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand over your grave
'Til I'm sure that you're dead.

A versão original, na voz de Bob Dylan, pode ser ouvida aqui: http://profjclark.podomatic.com/entry/2012-02-13T08_00_55-08_00

11 novembro 2014

Dia de São Martinho


O Vinho da Clarinha, um dos muitos êxitos do Conjunto de António Mafra


O HOMEM DAS CASTANHAS
Na Praça da Figueira
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do outono, à esquina do inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.

É um cartucho pardo a sua vida
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.

A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.
José Carlos Ary dos Santos (1937-1984)


(Foto de autor desconhecido)

09 novembro 2014

Um penteado tradicional de Angola

Nas províncias da Huíla, Cunene e Namibe, no sul de Angola, os penteados identificam a etnia e a condição de quem os usa. Este penteado identifica a sua portadora como sendo uma moça Muhumbi, do grupo etno-linguístico Nyaneka-Humbi, que já passou pelo rito da puberdade mas ainda está solteira. Província do Cunene, Angola (Foto: Adalberto Gourgel)

08 novembro 2014

Até sempre, Manitas de Plata


Manitas de Plata, cigano francês cujo nome próprio era Ricardo Baliardo, faleceu no passado dia 5 de novembro com 93 anos de idade e foi um extraordinário intérprete da guitarra flamenca. Quando este vídeo foi gravado, ele tinha 84 anos


Guitarras morescas, por Manitas de Plata, acompanhado por José Reyes, Bambo Baliardo, Manero Baliardo e Manuel Arenas

06 novembro 2014

Erro de português

Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Oswald de Andrade (1890-1954), escritor modernista brasileiro


Índios do povo Kamayurá, do grupo etnolinguístico Tupi-Guarani. Parque Indígena do Xingu, MT, Brasil (Foto: Juliano Serra)

02 novembro 2014

Frère Jacques


Terceiro andamento, Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen (Solene e comedido, sem arrastar), da Sinfonia nº 1 em Ré Maior, habitualmente chamada Sinfonia Titã, do compositor austríaco Gustav Mahler (1860-1911). Toca a Orquestra Filarmónica de Los Angeles, dirigida pelo maestro venezuelano Gustavo Dudamel. O compositor pegou na conhecidíssima canção popular infantil Frère Jacques e com ela fez uma marcha fúnebre! A sinfonia completa, que é uma obra cheia de frescura campestre e juvenil, pode ser ouvida aqui: https://www.youtube.com/watch?v=jkwUz4aalDc&list=PL723746A9BDEFB326

01 novembro 2014

Fogo-de-santelmo


Embora tenha habitualmente a forma de faíscas, o fogo-de-santelmo, também chamado fogo de São Telmo, é um fenómeno elétrico atmosférico luminoso diferente do raio. Enquanto o raio é uma descarga, quase sempre de enorme intensidade e poder destruidor, constituída por uma corrente de eletrões, o fogo-de-santelmo é uma descarga, incomparavelmente mais suave, sob a forma de plasma. O plasma, por sua vez, é um gás ou uma mistura de gases eletricamente carregados, em consequência de um atrito ou de uma grande diferença de potencial elétrico, como a que existe no ar por ocasião de temporais.

(Um exemplo muito comum de plasma é o estado em que se encontra o gás existente no interior das lâmpadas fluorescentes quando estão acesas. A luz que estas lâmpadas emitem provém da interação entre a radiação eletromagnética emitida pelo plasma e a camada de fósforo que cobre o interior do invólucro de vidro da lâmpada. O fósforo converte a radiação do plasma em luz visível, quase sempre de cor aparentemente branca. As chamadas lâmpadas economizadoras, muito comuns hoje em dia, também são fluorescentes e também usam, portanto, o poder do plasma para iluminar.)

O fogo-de-santelmo emite habitualmente uma luz de cor azulada e costuma observar-se nos mastros de navios, nos narizes e asas de aviões, nos cimos dos campanários das igrejas, no alto de chaminés, etc. O nome deste "fogo", que não é verdadeiramente fogo mas plasma, como disse, vem de São Pedro Gonçalves Telmo (1190-1246), santo padroeiro dos marinheiros e embarcados, cujos restos mortais estão sepultados na catedral de Tui, na Galiza.



Fogo-de-santelmo observado do cockpit de um avião em pleno voo