31 julho 2015

Lua azul



Blue Moon, canção composta em 1934 por Richard Rodgers e Lorenz Hart, cantada por Billie Holiday



Lua Azul, por Leo Romano, uma canção ligeira que foi muito popular por volta de 1960

28 julho 2015

De Boca a Barlavento


I


Esta
          a minha mão de milho & marulho
Este
          o sol a gema E não
          o esboroar do osso na bigorna
                                        E embora
O deserto abocanhe a minha carne de homem
E caranguejos devorem
                    esta mão de semear
Há sempre
Pela artéria do meu sangue que g
                                                o
                                                t
                                                e
                                                j
                                                a
De comarca em comarca
A árvore E o arbusto
Que arrastam
As vogais e os ditongos
                              para dentro das violas


II


Poeta! todo o poema:
                    geometria de sangue & fonema
Escuto Escuta

Um pilão fala
                    árvores de fruto
                              ao meio do dia
E tambores
                    erguem
                              na colina
                    Um coração de terra batida
E lon longe
Do marulho à viola fria
                    Reconheço o bemol
Da mão doméstica
                              Que solfeja

Mar & monção mar & matrimónio
Pão pedra palmo de terra
                              Pão & património

Corsino Fortes (1933-2015), poeta cabo-verdeano falecido há poucos dias


Um menino da Ilha do Fogo, Cabo Verde (Foto de autor desconhecido)

22 julho 2015

A importância da desminagem



Um vídeo promocional de The HALO Trust gravado em Moçambique

15 julho 2015

Já me transformei em imagem


Ma Ê Dami Xina (Já me transformei em imagem), um vídeo que conta a história do povo índio Huni Kuĩ, também chamado Kaxinawá, que vive no estado do Acre, no oeste do Brasil, desde o primeiro contacto com os brancos até aos nossos dias. O realizador deste vídeo é Zezinho Yube, que é ele mesmo um indígena Huni Kuĩ. Esta é uma história trágica e também cheia de esperança, uma história de doenças, massacres, cativeiro, consciencialização, luta e revalorização da cultura indígena brasileira, em que também intervém Chico Mendes, seringueiro e ativista assassinado em 1988 por defender a preservação da floresta amazónica

09 julho 2015

Beata Joana de Portugal, dita Santa Joana Princesa


Retrato em óleo sobre madeira, da autoria de um pintor português anónimo da segunda metade do séc. XV. Museu de Aveiro, Aveiro


Para mim, este retrato é uma das mais belas obras da pintura portuguesa de todos os tempos. Representa a Beata Joana de Portugal, a quem chamam Santa Joana, embora nunca tenha sido canonizada; foi apenas beatificada.

Filha mais velha do rei D. Afonso V, nascida em 1452, Joana foi declarada sucessora ao trono de Portugal até ao nascimento do seu irmão João. De acordo com os preceitos da época, assim que nasceu, João passou a ser o sucessor ao trono em vez de Joana por ser filho varão, tendo sido o rei D. João II.

A princesa Joana teve várias ofertas de casamento, qual delas a mais aliciante. Foi-lhe proposto casar-se com o rei Carlos VIII de França, com o rei Ricardo III de Inglaterra e com Maximiliano, filho do imperador Frederico III do Sacro Império Romano-Germânico, entre outros. A todos Joana recusou, preferindo recolher-se num convento, acabando por escolher o Convento de Jesus, em Aveiro, pertencente à Ordem Dominicana, depois de uma breve passagem pelo Convento de Odivelas. Morreu em Aveiro com fama de santidade, no ano de 1490. Tinha, portanto, 38 anos de idade apenas. Os seus restos mortais repousam no mesmo convento onde faleceu, que hoje é o Museu de Aveiro, num sumptuoso túmulo de jaspe com trabalhadíssimos embutidos, que o rei D. Pedro II mandou fazer na transição do séc. XVII para o séc. XVIII.

O autor do retrato que acima se mostra é desconhecido. Há quem diga que pode ter sido Nuno Gonçalves, o genial pintor dos painéis de S. Vicente, que era o pintor régio. Mas uma comparação entre este retrato e os referidos painéis afasta esta hipótese, pois a diferença de estilos é evidente. Seja quem for que pintou este retrato, a verdade é que fez uma obra admirável. Apesar de ter sido retratada ricamente vestida e com uma coroa na cabeça, a infanta aparece-nos com um semblante extraordinariamente humano. Ela podia ter sido retratada com um ar altivo e distante, como convinha a uma princesa, mas não foi. Joana surge no retrato como uma bela e jovem mulher com um ar triste e muito português.

05 julho 2015

A Guerra

A hiena uivou toda a noite
o bicho esfomeado uivou toda a noite
as vozes saíram das casas
como o fogo se levanta das cinzas
altas todas juntas no medo
os dentes dos guerreiros
batiam sem parar
os pés das velhas juntaram-se para aquietar a poeira
um companheiro nosso não regressou
o filho único de nossas mães
não vai voltar de pé
é só o seu cheiro que volta agora
e um corpo separado daquilo que era antes
um filho dos nossos não regressou
a hiena uivou toda a noite
a terra ficou dura sob os nossos pés.

Ana Paula Tavares, poetisa angolana


A Apoteose da Guerra (1871), óleo sobre tela do pintor russo Vasily Vereshchagin (1842-1904). Galeria Tretyakov, Moscovo, Rússia