15 dezembro 2017

Os bonecos de Estremoz são Património da Humanidade


Uma oleira de Estremoz fazendo bonecos. Repare-se também na representação do mobiliário tradicional alentejano. Obra de Jorge da Conceição (Foto: Tribuna Alentejo.pt)

Os bonecos de Estremoz foram declarados, com inteira justiça, Património Cultural Imaterial da Humanidade. Porquê os bonecos de Estremoz e não os de Barcelos, das Caldas da Rainha ou de outra terra qualquer? Porque são feitos de maneira diferente. Passemos a palavra ao escritor estremocense Hernâni Matos, investigador entusiasta e divulgador da cultura popular de Estremoz e do Alentejo em geral, na imprensa escrita e no seu blog pessoal Do Tempo da Outra Senhora, que recomendo:

Trata-se de uma manufatura “sui-generis”, distinta de todo o figurado português. Nela, o todo é criado a partir das partes, recorrendo a três geometrias distintas: a bola, o rolo e a placa. São elas que, com tamanhos variáveis, são utilizadas na gestação de cada boneco. Para tal são coladas umas às outras, recorrendo a barbutina e afeiçoadas pelas mãos mágicas dos artesãos, que lhes transmitem vida e significado.

Os bonecos nascem nus e depois vão sendo vestidos e enfeitados, que os bonecos também são vaidosos. Apenas a cara é confecionada com recurso a moldes adequados.

A técnica ancestral de produção de “Bonecos de “Estremoz” transmitiu-se ao longo dos séculos e chegou até nós. Depois da sua manufatura, os bonecos são postos a secar, depois são cozidos no forno e são pintados com cores minerais (…) garridas e alegres, como é timbre das claridades do Sul. Por fim, são protegidos com verniz.

Eu confesso a minha ignorância a respeito das técnicas de trabalhar o barro, apesar de, aqui mesmo ao lado do Porto, ter existido uma grande tradição de manufatura de bonecos (para presépios, cascatas sanjoaninas, etc.) em Vila Nova de Gaia. Não foi por acaso que nasceram em Vila Nova de Gaia alguns dos maiores escultores portugueses, como Soares dos Reis, Teixeira Lopes, Diogo de Macedo, etc. Também na Maia houve grandes santeiros (talvez ainda exista algum), que eram homens do povo cujas imagens se encontram em tudo quanto é capela, igreja ou catedral, em Portugal e no Brasil, e que também trabalhavam o barro, entre outros materiais.


Presépio, de Afonso Ginja (Foto: Hernâni Matos)


O Amor É Cego, de Ricardo Fonseca (Foto: Hernâni Matos)


Primavera, de artista não identificado, Museu Nacional de Etnologia, Lisboa


O Cirurgião ou Barbeiro-Sangrador, de artista não identificado (Foto de autor não identificado)

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