13 novembro 2021

Domingos António de Sequeira


Adoração dos Magos, 1828, óleo sobre tela de Domingos António de Sequeira (1768–1837). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal

Se Domingos António de Sequeira só tivesse pintado um quadro e se esse quadro tivesse sido a Adoração dos Magos, tanto bastaria para que ele merecesse ser incluído na galeria dos maiores pintores europeus.

No quadro Adoração dos Magos, a composição das figuras é magistral, mas não é o mais importante. O mais importante é a luz, uma luz que vem do céu, difusa e no entanto ofuscante, uma luz que ilumina tudo e todos com uma clareza e uma suavidade incomparáveis. É uma luz divina, que deslumbra e acaricia ao mesmo tempo.

A Adoração dos Magos era um quadro que estava na posse de uma entidade particular. Eu não sei em que condições é que ele apareceu à venda por 600 mil euros. O que sei é que era do maior interesse que o quadro ficasse em Portugal, mas o Museu Nacional de Arte Antiga não tinha no seu orçamento uma verba tão avultada que permitisse a sua compra. Foi então lançada uma campanha de subscrição pública na Internet (chamada crowdfunding), sob o lema "Vamos Pôr o Sequeira no Lugar Certo". A campanha foi tão bem feita que resultou em pleno. Nunca uma obra de arte mobilizou tanta gente em Portugal, disposta a pagar tanto dinheiro por ela. O Museu Nacional de Arte Antiga reuniu mais de 750 mil euros no fim da campanha, em 30 de abril de 2016, e o quadro foi comprado.

Domingos António de Sequeira nasceu em Lisboa no ano de 1768, no seio de uma família modesta. Foi educado na Casa Pia de Lisboa e cedo revelou uma notável vocação artística. Aos 20 anos de idade conseguiu uma bolsa atribuída pela rainha D. Maria I e foi estudar para Roma. Quando voltou a Portugal, tornou-se pintor da corte e colaborou ativamente nas pinturas do Palácio da Ajuda, em Lisboa. Politicamente, apoiou, primeiro, as Invasões Francesas e, logo a seguir, a resistência anglo-lusa às tropas invasoras. Mais tarde, apoiou a Revolução Liberal de 1820 e, quando a situação política se inverteu, com a implantação do Absolutismo miguelista, teve que se exilar, primeiro em França e depois em Roma, onde acabou por falecer em 1837. Está sepultado na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma.


O Príncipe Regente Passando Revista às Tropas na Azambuja, 1803, óleo sobre tela de Domingos António de Sequeira (1768–1837). Palácio Nacional de Queluz, Queluz, Sintra, Portugal

Junot Protegendo a Cidade de Lisboa, 1808, óleo sobre tela de Domingos António de Sequeira (1768–1837). Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, Portugal

Retrato do Conde de Farrobo, 1813, óleo sobre tela de Domingos António de Sequeira (1768–1837). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal

Mariana Benedita Sequeira, c. 1822, óleo sobre tela de Domingos António de Sequeira (1768–1837). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal

Comentários: 2

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Magnífica, a luminosidade de "A Adoração do Magos"...

Ainda bem que Sequeira voltou ao seu lugar!

Abraço!

16 novembro, 2021 09:50  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Poderemos ficar surpreendidos com a posição inicial de Sequeira, de apoiar as invasões francesas (que ele logo corrigiu), mas parece-me que ele via nas tropas napoleónicas uma espécie de mensageiros da Revolução Francesa, e não simples tropas ao serviço do projeto de ambição pessoal de Napoleão Bonaparte. Por situação semelhante passou Ludwig van Beethoven, que dedicou a sua Terceira Sinfonia ("Eroica") a Napoleão, dedicatória esta que ele rasgou quando soube que Napoleão se tinha coroado imperador. Dá-me a impressão de que Domingos António de Sequeira e Beethoven tinham posições políticas próximas, posições que agora podemos classificar de esquerda.

18 novembro, 2021 01:52  

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