18 dezembro 2021

Central telefónica automática analógica Strowger


Uma central telefónica manual nos Estados Unidos, em 1943. Em Portugal, até à década de 30 do século passado, as telefonistas não se podiam casar. Sempre que alguma se casasse, era obrigada a abandonar o seu posto de trabalho (Foto de autor desconhecido)

Depois de Alexander Graham Bell ter inventado o telefone, este foi-se pouco a pouco disseminando, até que foi lançado o serviço telefónico público, em que cada pessoa podia falar ao telefone com qualquer outra pessoa que tivesse subscrito o mesmo serviço. Cada telefone que estivesse instalado na residência ou na empresa de um assinante ficava ligado, por um par de fios elétricos, a um edifício chamado central telefónica. Neste, uma equipa de senhoras, as telefonistas, estabelecia as ligações pretendidas, através da introdução de cabos elétricos em cavilhas existentes num painel que elas tinham diante de si. Tudo era feito manualmente e de acordo com os desejos manifestados por voz às telefonistas.

Numa cidade do Kansas, nos Estados Unidos, vivia um cangalheiro chamado Almon Brown Strowger. Na central telefónica da cidade, trabalhava uma telefonista que era casada com um cangalheiro rival do sr. Strowger. Sempre que alguém pedia a esta telefonista para ligar para «a funerária», a senhora ligava sempre para a agência do marido, e nunca para a do sr. Strowger. Sentindo-se prejudicado, o sr. Strowger, que era um "engenhocas", resolveu inventar um sistema que eliminasse a necessidade de uma telefonista no estabelecimento de chamadas telefónicas. Inventou o serviço telefónico automático, que tomou o seu nome e o manteve, mesmo depois de muitos aperfeiçoamentos, porque o modo de funcionamento continuou a ser essencialmente o que o sr. Strowger tinha concebido originalmente.

O sistema telefónico Strowger foi de tal forma diferente de tudo quanto se tinha inventado até então, que nenhum engenheiro teria sido capaz de o criar. Só alguém com uma profissão totalmente estranha à engenharia, como a de cangalheiro, teria uma imaginação tão solta, que fosse capaz de se lembrar de conceber um sistema assim. O essencial do seu funcionamento está documentado no pequeno vídeo que se segue. Aquilo mexe tudo. Sobe, desce, roda para a esquerda e roda para a direita, em função dos impulsos elétricos enviados para a central pelo disco do telefone chamador.



As centrais telefónicas automáticas Strowger foram fabricadas aos milhões e foram instaladas em todo o mundo. Portugal também as teve, e muitas. A central telefónica da Rua Andrade Corvo, em Lisboa, que era a maior do país, tinha salas e salas cheias até ao teto de equipamentos semelhantes ao do vídeo. A última central Strowger a ser retirada de serviço em Portugal manteve-se em funcionamento em Alenquer até ao ano 1998.

Comentários: 4

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

É curioso que esta desmesurada engenhoca me pareça arcaica, sendo tão recente...

Recordo-me que a minha mãe se referia às operadoras das centrais telefónicas quando me pedia para encontrar uma morada ou um contacto perdido, através das "meninas do PBX".

Só agora, através do Google, fiquei a conhecer o significado da sigla. Penso que a minha mãe também não o conheceria muito bem :)

Boas Festas e um abraço, Fernando!

19 dezembro, 2021 11:44  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Mesmo depois de concluída a automatização da rede telefónica, havia equipas de telefonistas à disposição do público, para fornecerem serviços de informações, despertar, receber a comunicação de avarias, etc. Agora, o que há, são os malfadados "call centres", de onde nos ligam para interromperem as nossas tarefas e chatearem-nos com parvoíces. Eu evito responder torto, embora me apeteça, porque sei que quem me liga não tem culpa nenhuma: é um(a) jovem trabalhador(a) precário/a, a receber o salário mínimo e contratado/a por uma agência de trabalho temporário para chatear as pessoas. É o capitalismo dito liberal no seu "melhor".

Boas Festas, também, e as melhoras

20 dezembro, 2021 02:25  
Blogger NAMIBIANO FERREIRA escreveu...

Uma postagem super interessante!
A história do cangalheiro é bem apanhada... se fosse engenheiro talvez não teria talento para tal. E claro fez dinheiro como milho...

04 janeiro, 2022 20:45  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Do que eu gosto mesmo, é do toque do telefone no final do vídeo. Nem os mais caros smartphones conseguem imitar um "trriiim" tão puro e cristalino como o deste velhinho telefone analógico.

06 janeiro, 2022 02:45  

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