09 junho 2022

A mina de São Pedro da Cova


Um filme feito há cerca de cem anos sobre a mina de carvão de São Pedro da Cova, Gondomar

Este é um filme mudo de há cem anos, aproximadamente, sobre a mina de carvão de São Pedro da Cova, no concelho de Gondomar, distrito do Porto. O título que lhe puseram no Youtube refere o ano de 1917. Um comentador, porém, contesta este ano e afirma que o filme é de de 1927. Pessoalmente, tendo a concordar com o comentador, porque os modelos de automóveis que se veem no filme parecem ser dos anos 20 e não dos anos 10. Além disso, são bastante numerosos. É pouco provável que houvesse tantos automóveis no centro do Porto em 1917. Na dúvida, diremos que o filme tem 100±5 anos.

O presente filme é promocional. Pretende fazer publicidade à empresa que explorava o carvão de São Pedro da Cova, apresentando-a sob um prisma favorável para os padrões da época. É importante ter este facto em mente, sobretudo quando se verifica que nele não há nada que documente o próprio trabalho de extração do carvão do fundo da mina. Não se veem mineiros agachados no extremo de claustrofóbicas galerias, cuja altura, por vezes, não ultrapassava um metro, se tanto, e aonde o ar puro não chegava. Não os vemos manuseando a maquinaria (e, por vezes, os explosivos), feitos negros da cor do carvão que extraíam, envoltos numa nuvem de pó que se acumulava nos seus pulmões, imersos num ruído ensurdecedor, mergulhados num calor sufocante e respirando um ar deficientemente oxigenado, durante horas a fio. Afinal, falta ao filme o que é mais importante. Se não houvesse heroicos homens-toupeiras a trabalhar nos extremos das galerias em condições atrozes, neste filme não poderíamos ver o carvão sair das entranhas da terra como por milagre.

Comentários: 3

Blogger Ricardo Santos escreveu...

Pois nesta película, publicitária, falta na realidade o mais importnate que são os mineiros a trabalhar. Uma das profissões mais desgastantes para o ser humano. Criadora de doenças e tristeza para aqueles que são mineiros e para as suas famílias.
Fernando obrigado pelo vídeo

10 junho, 2022 18:24  
Blogger Rogério G.V. Pereira escreveu...

" Afinal, falta ao filme o que é mais importante. "

Enquanto ia vendo
ia anotando isso mesmo

11 junho, 2022 11:09  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

A mina de São Pedro da Cova fechou há cerca de 50 anos, por ter acabado o carvão. O mesmo se passou com a mina de carvão do Pejão, no concelho de Castelo de Paiva. Parece que no Pejão se está a fazer um esforço no sentido de preservar a memória de quem deu tudo o que tinha à mina, a começar pela saúde. Em São Pedro da Cova, porém, a antiga mina está ao abandono, mas a memória dos mineiros continua viva na população local. São Pedro da Cova é agora um simples dormitório de rendas baixas da cidade do Porto.

O carvão que se explorava em São Pedro da Cova e no Pejão era antracite, um carvão de grande qualidade, muito negro, muito brilhante e muito duro, que custava a pegar fogo mas que, assim que começava a arder, produzia uma chama azul muitíssimo quente, difícil de apagar. A antracite é praticamente carbono em estado puro, tal como a grafite e... o diamante. Quase toda a antracite é convertida em dióxido de carbono durante a combustão (ou monóxido, se houver escassez de oxigénio), deixando muito poucas cinzas e libertando muito poucos fumos. Era o carvão ideal.

12 junho, 2022 02:24  

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