As Redacções da Guidinha
As "Redacções da Guidinha" foram uns textos de crítica de costumes, sob a forma de redacções escolares sem qualquer pontuação, escritos por uma suposta menina moradora no bairro da Graça, em Lisboa, chamada Guidinha. O verdadeiro autor dos textos não era mais do que o escritor Luis de Sttau Monteiro. Estes textos foram publicados em 1969 e 1970 num suplemento humorístico, chamado "A Mosca", do "Diário de Lisboa", que foi um vespertino que deixou uma marca indelével na história do jornalismo português. O próprio suplemento "A Mosca" era dirigido por um outro excelente escritor, José Cardoso Pires.
Nesse tempo, Marcelo Caetano tinha substituído Salazar à frente do governo e tinha prometido uma abertura política do regime, a que se deu o nome de "Primavera marcelista". Foi no sentido de aproveitar esta efémera abertura que o suplemento "A Mosca" se publicou, procurando dizer a rir algumas das coisas que até então não se podiam dizer, nem a rir nem a chorar.
"As Redacções da Guidinha" foram reunidas em livro e publicadas por Areal Editores, com o código ISBN 9726276195, sendo a edição mais recente datada de 2003. O autor da obra, como disse, é Luis de Sttau Monteiro. Se não for possível encontrar "As Redacções da Guidinha" nas livrarias convencionais, poder-se-á adquiri-las através da Internet.
Nesse tempo, Marcelo Caetano tinha substituído Salazar à frente do governo e tinha prometido uma abertura política do regime, a que se deu o nome de "Primavera marcelista". Foi no sentido de aproveitar esta efémera abertura que o suplemento "A Mosca" se publicou, procurando dizer a rir algumas das coisas que até então não se podiam dizer, nem a rir nem a chorar.
"As Redacções da Guidinha" foram reunidas em livro e publicadas por Areal Editores, com o código ISBN 9726276195, sendo a edição mais recente datada de 2003. O autor da obra, como disse, é Luis de Sttau Monteiro. Se não for possível encontrar "As Redacções da Guidinha" nas livrarias convencionais, poder-se-á adquiri-las através da Internet.
O PAI NATAL
"Tretas tretas tretas a mim é que não me levam mais era o que faltava ou um ou outro é um aldrabão disseram-me que o pai natal descia pela chaminé e eu acendi o fogão para lhe queimar o rabo para ele dar um grito para eu o ver e nicles quem ficou com o rabo a arder fui eu que levei bumba no toutiço por ter gasto gás é só para ver como as coisas são disseram-me que ele trazia presentes do céu e o que ele me trouxe foi uma camisola que eu vi numa montra duma loja em saldo com o preço e tudo isto quer dizer que o Céu fica na Rua dos Fanqueiros ou que me aldrabaram por eu ser criança é o que eu digo mentem à gente mal a gente nasce e depois queixam-se de que a gente em grande queira ir para a política outra coisa que o pai natal me deu foi um compêndio de Ciências Naturais aprovado para o primeiro ano ora abóbora que se eu fosse má até ficava a pensar que o pai natal é o meu pai o que vale é que eu sou boa até ver sim até ver que se me pregam outra partida como esta vão ver como é que eu sou por dentro porque lá por dentro sou má como as cobras se julgam que eu saio à minha Mãe enganam-se lá no fundo eu saio ao meu pai mas não quero que se saiba para salvar o toutiço que se ele adivinha isso é bumba no toutiço até mais não outra malandrice que me fizeram foi darem-me um cavalinho de madeira que o meu avô comprou para levar à maternidade quando eu nasci a pensar que eu era menino mas o diabo do velho quando viu a enfermeira mudar-me a fralda meteu o cavalinho no bolso e foi a correr comprar uma roca de prata porque nesse tempo o plástico ainda era caro e levou o cavalinho para casa para quando viesse um menino e como nunca veio porque em Paris deixaram-se de fazer coisas dessas e agora fazem outras o tal cavalinho foi escondido numa mala muito velha onde eu o encontrei há mais de cinco anos estou farta de brincar com ele sem ninguém saber e vai este ano bumba apareceu-me no sapato como se fosse um presente do pai natal assim não vale abóbora que ou a gente é séria ou não é isto até faz com que se perca o respeito pela família terrestre e pela família celeste que o meu pai queira enganar o pai natal vendendo-lhe cavalinhos velhos e Compêndios de Liceu ainda eu entendo agora que ele os compre se calhar pelo dobro do preço é que não entendo nem à bala são estas coisas que fazem a gente perder a fé e depois espantam-se outra porcaria que me fez o pai natal foi dizer ao meu pai que este ano os presentes eram fracotes por causa da crise que há no Céu mas então se aquilo é igual à Terra para que é que lhe chamam Céu anda a gente a privar-se de coisas para ir para o Céu e chega lá e bumba aquilo é como a Graça ou como o Areeiro eu é que não vou nisso e se as coisas não mudam para o ano faço de conta que não sei da crise e mando uma reclamação para o deputado que me representa na assembleia e o pai natal vai ver como é que as moscas picam para aprender a ser profissional a valer que isto dum pai natal amador não interessa a ninguém e muito menos a esta vossa GUIDINHA que não está cá por ver andar os outros."
Comentários: 14
Olá!
Vim parar ao seu blog, quase por acaso. Dei com um post sobre a minha terra - Minde. Obrigada e bem haja. Parece-me estar aqui um "covano cópio.Vivo no casal grande há já muitos anos, mas nasci no ninhou" Bom Natal.
Estive em pânico vários dias! Não sei o que viram ou leram mas eu não quero ler nem ver! Dormi com o João de um lado, a mãe do outro e a Margarida por perto. Pânico absoluto. Tinha a esperança de ler no matéria qualquer coisa bonita. Ganhei coragem e lá vim espreitar os blogues. O teu foi um dos primeiros, parece-me haver vida...
Só um reparo, a Guida não é quem pensas.
"Ela", muito obrigado pela sua visita e pelo elogio. Aí pelo ano de 1998 ou 99, troquei umas impressões, no newsgroup soc.culture.portuguese (se não me engano), com João Ferreira, que é o autor do ensaio sobre o minderico a que faço referência no meu artigo sobre a "Piação de Minde". Ele (que não é de Minde) tinha então acabado de descobrir a existência da gíria e estava verdadeiramente entusiasmado com ela. Agora, apareceu-me na Web um seu ensaio sobre o assunto. Parece que o entusiasmo dele não foi passageiro...
Paulo Costa, não sei se entendo completamente esta tua intervenção. O teu pânico tem alguma relação com os teus blogs ("Dos Humanos" e "Planalto Central", pelo menos)? É que não se consegue aceder a eles, de maneira nenhuma; somos redireccionados para um sítio chamado "Yourdomain.com" a que se seguem mais umas quantas acções, que eu não sei quais são porque as aborto imediatamente. Parece que alguém conseguiu entrar no Blogger e substituir o conteúdo dos teus blogs. Já fizeram uma coisa do género ao "Abrupto", substituindo-o por um blog pirata, e o Pacheco Pereira teve que trocar uma data de emails com os tipos do Blogger ou da Google, até que lhe repusessem o blog original. Faz como o Pacheco Pereira e queixa-te aos tipos do Blogger, a ver se eles conseguem resolver o problema. Que grande chatice!
A Guidinha.... : )
Boa lembrança!
"(...)o pai natal foi dizer ao meu pai que este ano os presentes eram fracotes por causa da crise que há no Céu mas então se aquilo é igual à Terra para que é que lhe chamam Céu anda a gente a privar-se de coisas para ir para o Céu e chega lá e bumba aquilo é como a Graça ou como o Areeiro(...)"
pela actualidade do texto penso que naquela altura o calendario de Sttau Monteiro ja marcava 2006!
feliz natal para ti amigo e que 2007 seja de facto O ANO para ti.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
A descoberta de blogs tem destas coisa... ás vezes frustrações outras vezes faz-se luz. Não conhecia a Guidinha. Fiquei mais rico. E até a frase da nossa Sophia no final dos comentários é fantástica. Vou continuar a passar por aqui. Abraço
Dora, gostei muito desta sua visita. A Guidinha deixou saudades a muita gente, está visto. O Luis de Sttau Monteiro estava muito inspirado quando a criou.
Salucombo, muito obrigado pelos votos de boas festas. Também desejo que tenhas um óptimo Natal e que o Ano Novo corra muito melhor para ti do que o velho, que te trouxe alguns amargos de boca. Não desanimes nunca e aparece sempre.
Trugia, fico muito contente por saber que o meu blog lhe agradou. A Sophia é um dos meus poetas favoritos e a frase que cito no final do blog foi retirada de um dos seus poemas. Continue a aparecer, que terei muito gosto em vê-lo por cá.
LABARIK-FETO IDA TANIS
Amá, Natál agora besik ona
Kosok-Oan Jezús sei moris dala ida tan,
maibé Bete sei hela iha uma halo ho lona
no ha'u-nia maun nia liman sei fo'er ho raan.
Bete ne'e ha'u-nia belun di'ak liu hotu,
nia tinan hanesan ha'u, ami tama SD hamutuk,
ami tanis bainhira haree nia apá nia iis kotu
enkuantu ahi han sira-nia uma to'o mutuk.
Nia apá mate tanba ema oho,
oho de'it tanba tiu ne'e ema-lorosa'e.
Sira la biban halai ba foho
hanesan dezlokadu sira halai tun-sa'e.
Bete ho nia família viziñu di'ak,
nu'usá imi komesa odi sira derrepente?
Ita hotu iha-ne'e mesak ema kiak...
imi hotu agora laran-dodok, ha'u sente!
Joven sira husi bairru maka sunu,
ha'u-nia maun rasik mós ajuda.
Ba ida-ne'e maka uluk imi funu?
Ha'u baruk, ha'u hakarak vida atu muda.
Imi la bandu, la obriga nia hela iha uma,
imi husik nia sai vadiu la iha edukasaun,
baku malu, taa malu, hanesan futu-manu ruma.
Hanesan ne'e maka imi hakarak harii nasaun?
Amá, ida-ne'e maka futuru ba labarik
iha nasaun foun Timór Lorosa'e?
Se futuru hanesan ne'e duni karik
entaun ha'u hakarak sai malae.
Afonso Busa Metan
Votos de Feliz Natal e Póspero Ano de 2007 ao autor deste blog, assim como a todos os que aqui vão passando
Prezado Afonso Busa Metan, agradeço-lhe o envio do seu poema, mas infelizmente não entendo Tetum. Se o amigo, ou outro leitor deste blog, me traduzir ou, pelo menos, me resumir o conteúdo deste poema, ficarei muito agradecido. Será que ele se refere à situação em que se encontram os jovens timorenses e à violência promovida em Díli por gangs de jovens adeptos das artes marciais? Seja como for, espero muito sinceramente que a paz regresse definitivamente ao martirizado Timor Leste e que a concórdia por fim reine entre todos os timorenses, sejam eles Loromonu ou Lorosa'e.
Caro JotaCê Carranca, obrigado pelos votos de boas festas, que retribuí no seu próprio blog.
Querido amigo,
Não tenho escrito, mas o teu blog é um dos meus caminhos obrigatórios.
Um beijinho e os meus votos de Festas Felizes.
Querida Phwo, muito obrigado pela tua preferência. Sabes, concerteza, que o teu blog é também um dos meus caminhos obrigatórios. Desejos sinceros de Festas Felizes para ti também.
Encontrei no blog Timor Cartoon a tradução do poema em língua Tetum que o amigo Afonso Busa Metan teve a amabilidade de me enviar. A tradução é a seguinte (desculpemos os erros de português; julgo que a palavra malae significa "estrangeiro", não é assim?):
"Uma menina esta a chorar
Mae, o Natal ja esta chegar
O menino Jesus vai nascer mais uma vez,
mas Bete ainda vive na casa feita com lona
e a mao do meu irmao ainda suzo com sangue .
Bete e a minha amiga melhor de todos,
ela tem idade como eu, nos entramos na escola primaria juntos,
nos choramos quando vemos falecimento do pai dela
emquanto o fogo queimar a casa deles ate muito queimado.
O pai dela moreu por causa de pessoas lhe matou,
matou-lhe porque este senhor e de Lorosae.
Eles nao tem oportunidade refugiar para montanha
como outros delocados fuziram de um lugar para outro lugar.
Bete com sua familia e vizinho bom,
como e que voces comeca odi eles de repente?
Nos todos que estamos aqui somos pobres...
voces todos agora mau coracao, eu acho
Os Jovens de bairro que queimar,
o meu irmao propio tambem ajuda.
PAra isto que voces lutaram?
Estou farta, quero mudar minha vida..
Voces nao bando nao obriga ele fica em casa,
voces deixa-lhe ser vadio nao tem educacao,
bater um contra outros, cortar um com outros, como lutas de galos.
Como assim que voces quererem arguer nacao?
Mae, isto e que futuro para criancas
em novo nacao Timor Lorosae?
Se futuro como assim mesmo talvez
entao eu quero ser malae."
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