13 setembro 2006

Amílcar Cabral

Foi só à noite que eu soube que ontem se completaram 82 anos sobre o nascimento de Amílcar Cabral. Não querendo eu deixar passar a efeméride, aqui o recordo, ainda que com um dia de atraso.


No seu blog Água Lisa (6), João Tunes evoca a personalidade de Amílcar Cabral no artigo Lembrando Amílcar Cabral, o Inimigo Libertador, afirmando nomeadamente:

(...) Se não se quiser entrar em fantasias panegíricas ou diabolizantes, Cabral só pode ser historicamente julgado pelo que foi e pelo que fez entre a sua juventude e 1973. E, neste campo, Amílcar Cabral avulta como uma das maiores e mais prolixas inteligências políticas de África e do Mundo em todos os tempos (*). Como homem de cultura, mestre em sínteses de sócio-culturas centrípetas, como político, ideólogo e diplomata, como chefe militar e organizador administrativo, Cabral foi exímio, criativo, exemplar e eficiente. Em tempo algum, os portugueses (alheando-nos da questão da legitimidade de quem, em cada momento, os representou em governo) se bateram, em guerra, contra um líder inimigo tão talentoso, tão persistente e tão eficaz. Talvez porque coincidiu, além das excepcionais capacidades próprias, que este inimigo de guerra, mais que qualquer outro que nos combateu em qualquer outro tempo e lugar, conhecia como os dedos da sua mão a cultura, o ser e o estar dos portugueses, sobretudo as nossas grandezas e misérias, além, é claro, as nossas sempre abundantes mediocridades. De tal forma foi tão bem construída a sua praxis que o seu slogan "combatemos o colonialismo português, não os portugueses" não foi nem figura de retórica nem esguicho de propaganda. E tanto foi assim, que os portugueses, combatendo-o e assassinando-o, em vez de o derrotarem, libertaram-se pela sua luta e pela sua liderança, pois foi muito devido ao PAIGC de Amílcar Cabral que tivemos o 25 de Abril, a democracia e a liberdade.

Recordar hoje Amílcar Cabral, pelo menos no meu caso de português que o combateu na guerra, resume-se a prestar-lhe tributo de homenagem como ilustre Inimigo Libertador.
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(*) - Leia-se esta excelente análise de Carlos Lopes.



O poema que se segue foi escrito por Amílcar Cabral e publicado na Revista "Mensagem", Ano I, nº 6, de Janeiro de 1949:

ROSA

Rosa.
Chamam-te Rosa, minha preta formosa,
E na tua negrura
Teus dentes se mostram sorrindo.
Teu corpo baloiça, caminhas dançando,
Minha preta formosa, lasciva e ridente
Vais cheia de vida, vais cheia de esperança
Em teu corpo correndo a seiva da vida
Tuas carnes gritando
E teus lábios sorrindo...
Mas temo a tua sorte na vida que vives,
Na vida que temos...
Amanhã terás filhos, minha preta formosa
E varizes nas pernas e dores no corpo;
Minha preta formosa já não serás Rosa,
Serás uma negra sem vida e sofrente,
Serás uma negra
E eu temo a sua sorte.
Minha preta formosa não temo a tua sorte,
Que a vida que vives não tarda a findar...
Minha preta formosa, amanhã terás filhos
Mas também amanhã...
... amanhã terás vida!

Comentários: 4

Blogger inominável escreveu...

fico hipnotizada com esta beleza na foto... uma ponta de inveja também... não é o corpu, mas a inocência que espelha... o á-vontade de quem está de bem consigo e com o mundo...

19 outubro, 2006 15:08  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Inominável, esta moça é angolana e pertence à tribo Kuvale (também chamada Mucubal), que vive na província do Namibe, no sudoeste de Angola. A tribo Kuvale é uma das tribos angolanas mais admiradas, tanto pelo orgulho e bravura dos seus homens, que chegam a caçar leões armados apenas de lanças, como pela beleza das suas mulheres, que são consideradas as mais bonitas de Angola.

20 outubro, 2006 00:03  
Anonymous Anónimo escreveu...

Esta Mucubal vive num condomínio onde tambem habita a Welwitchia, o morro Canauia de marmore e macaco-cão, elefantes e não havia missionários batistas, catolicos ou mussulmanos...Se esta etnia resistir ao "etnocídio acelerado e programado" que se verifica em Africa...há 30 anos já vi distribuição do livro verde de Kadafi, e os pensamentos de Enver Oxa, por aquela região...Será que os Mucubais resistem? antº rosinha, alverca

24 outubro, 2006 14:36  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Antº Rosinha, segundo uma entrevista que ouvi há cerca de um ano (mais ou menos), dada por Ruy Duarte de Carvalho, os Mucubais resistem, sim. Como sabe melhor do que eu, eles não se dobram facilmente.

24 outubro, 2006 23:11  

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