Romance ingénuo de duas linhas paralelas
Duas linhas paralelas
Muito paralelamente
Iam passando entre estrelas
Fazendo o que estava escrito:
Caminhando eternamente de infinito a infinito
Seguiam-se passo a passo
Exactas e sempre a par
Pois só num ponto do espaço
Que ninguém sabe onde é
Se podiam encontrar
Falar e tomar café.
Mas farta de andar sozinha
Uma delas certo dia
Voltou-se para a outra linha
Sorriu-lhe e disse-lhe assim:
"Deixa lá a geometria
E anda aqui para o pé de mim...!
Diz a outra: "Nem pensar!
Mas que falta de respeito!
Se quisermos lá chegar
Temos de ir devagarinho
Andando sempre a direito
Cada qual no seu caminho!"
Não se dando por achada
Fica na sua a primeira
E sorrindo amalandrada
Pela calada, sem um grito
Deita a mãozinha matreira
Puxa para si o infinito.
E com ele ali à frente
As duas a murmurar
Olharam-se docemente
E sem fazerem perguntas
Puseram-se a namorar
Seguiram as duas juntas.
Assim nestas poucas linhas
Fica uma estória banal
Com linhas e entrelinhas
E uma moral convergente:
O infinito afinal
Fica aqui ao pé da gente.
(José Fanha, in Eu Sou Português Aqui)
Comentários: 6
Um dos poemas que gosto do Fanha
Prezado Carranca, José Fanha é um homem de uma enorme sensibilidade e ainda por cima escreve de uma forma límpida e clara, que toda a gente entende. É um excelente poeta.
P.S. - Sabia que o edifício onde está instalado o Museu Nacional de Soares dos Reis, aqui no Porto, é chamado Palácio dos Carrancas?
Pedi aos meus alunos que fizessem um desenho a partir deste poema. Em breve deixo aqui o link do Powerpoint que estou a fazer.
Caro JVS,
Obrigado pela visita. Fico então a aguardar notícias suas.
Aqui estão os trabalhos realizados pelos alunos do 7 ano da Escola EB 2,3 Piscinas – Lisboa:
http://edvisolivais.wordpress.com/2010/04/04/romance-ingenuo-de-duas-linhas-paralelas-apresentacao-dos-trabalhos-realizados/
JVS
Muito obrigado pelo link, caro JVS. Gostei muito da apresentação. É claro que nem todos os trabalhos têm igual qualidade, mas alguns estão muito bem "apanhados". Achei muita graça à grande humanização das linhas em alguns dos trabalhos apresentados (o que está plenamente de acordo com o poema) e também à representação, em alguns casos, de linhas de coser saindo de carrinhos de linhas...
Continuação de um bom trabalho
Enviar um comentário