Moinhos de maré
Moinho de maré existente em Mourisca, perto de Setúbal, no estuário do Sado. A estrada que conduz ao moinho está construída sobre o açude. À direita deste vê-se uma nesga da caldeira. (Foto: Suzana Costa)
Agora que tanto se fala na utilização de energias renováveis, convém lembrar o uso que desde há séculos se faz em Portugal de uma energia renovável, que é a energia das marés. Esta energia tem sido utilizada no nosso país para moer cereais, em moinhos especialmente concebidos para esse efeito, que são os moinhos de maré.
Como se sabe, as marés são subidas e descidas periódicas das águas do mar, provocadas pela atracção gravitacional da Lua, em função da sua órbita em volta da Terra. Deixemos de lado, nesta definição, as marés continentais, que são ínfimas, porque a crusta terrestre é muito mais rígida do que a água dos mares (grande novidade!), apesar de sofrer a mesma atracção, e o efeito de maré provocado pela atracção gravitacional do Sol, que é muito pequeno quando comparado com o da Lua. Embora o Sol tenha uma massa incomparavelmente maior do que a Lua, ele está muito mais afastado da Terra e, por isso, o seu efeito de maré é muito mais reduzido, pois a atracção gravitacional entre dois corpos varia na razão inversa do quadrado da distância entre eles, apesar de também variar na razão directa das suas massas.
As marés, que são fenómenos marítimos, estendem-se pelos rios dentro até uma certa distância da sua foz, distância esta que depende da inclinação do leito do rio e da própria amplitude das marés. Esta amplitude não é igual em toda a parte, pois depende da geografia do terreno, das correntes marítimas, etc. Em Portugal Continental, a amplitude das marés varia aproximadamente entre 3,5 e 4 metros, mas há locais do planeta em que ela chega a atingir mais de 12 metros!
Os moinhos de maré são habitualmente construídos em rios, perto da sua foz, onde a acção das marés é mais forte. É aproveitada a existência de uma enseada, isto é, de uma reentrância no terreno, natural ou artificial, onde a água da maré cheia possa ser armazenada. Esta enseada é separada do resto do rio por um açude. No enfiamento do açude fica o próprio edifício do moinho, por baixo do qual existem aberturas para a passagem da água: uma passagem para a água que sobe e outra ou outras para a água que desce, onde se encontram os rodízios que fazem girar as mós.
Quando a maré sobe, a água passa do rio para a enseada (chamada caldeira), onde fica armazenada. Quando a maré baixa, todas as comportas existentes no moinho são fechadas, impedindo que a água que entrou na caldeira volte para o rio. Na maré baixa, verifica-se então uma diferença de nível entre a água que está na caldeira e a água que está no rio. Nesta altura, são abertas as comportas da passagem da água onde estão os rodízios. A água retida na caldeira escoa-se e, ao fazê-lo, faz girar os rodízios e as mós a eles ligadas. O moinho cumpre então a função para que foi construído: fazer farinha.
Em Portugal, existem vários moinhos de maré no Rio Tejo, no Rio Sado e no Rio Arade, pelo menos. É na margem sul do Tejo que se encontra a maior parte deles. Existem sobretudo no concelho do Seixal, embora também haja moinhos de maré no concelho do Barreiro e no da Moita (em Alhos Vedros).
A funcionar, existem dois moinhos, graças à acção das Câmaras Municipais que os compraram e os mantêm. Um deles fica em Corroios, no concelho do Seixal, e outro perto de Estômbar, no concelho algarvio de Lagoa. Tanto um como outro podem ser visitados.
Pessoalmente, não conheço o moinho de Estômbar. Conheço o de Corroios, que foi mandado construir há 600 anos por D. Nuno Álvares Pereira, para abastecer de farinha o Convento do Carmo, em Lisboa. Vale a pena visitá-lo (agora até já se pode ir de metro), mas convém fazê-lo a uma hora em que o moinho esteja a funcionar, isto é, quando a maré estiver baixa. É possível comprar no próprio moinho farinha nele moída, para levar para casa.
(Os desenhos foram retirados do sítio da Associação Nacional de Cruzeiros. Uma descrição do moinho de maré de Corroios está disponível no sítio da Naturlink.)
Ruínas do moinho de maré de Palhais, nas proximidades da cidade do Barreiro (Foto: António Lança)
Comentários: 10
Parabens pelo seu blog. Trata de assuntos muito interessantes e enriquecedores. Quando passar por Corroios irem visitar o seu Moinho.
Cumprimentos,
Igor
Caro Igor, muito obrigado pelas suas amáveis palavras. O moinho de maré de Corroios fica para a esquerda de quem vem dos lados de Almada e do Laranjeiro e para a direita de quem vem da Cruz de Pau. Também se pode lá chegar dando a volta por Miratejo, que é um trajecto mais tranquilo.
Caro amigo
Adorei as imagens do Moinho e as informações. Excelente.
beijos
della
ai, e estes barquinhos coloridos a fazerem-me lembrar os "meus" moliceiros... andas a fazer-me bem à saudade...
Amiga Inominável, é verdade que os barcos do Rio Tejo não têm a elegância de formas dos "teus" moliceiros mas, em questões de pintura, há no Tejo barcos lindíssimos, que pedem meças aos da Ria de Aveiro. Podes ver, por exemplo, estas fotografias que publiquei há cerca de um ano.
Cara amiga della-porther, muito obrigado pela sua visita e pelo seu comentário. Volte sempre.
I found this site using [url=http://google.com]google.com[/url] And i want to thank you for your work. You have done really very good site. Great work, great site! Thank you!
Sorry for offtopic
Who knows where to download XRumer 5.0 Palladium?
Help, please. All recommend this program to effectively advertise on the Internet, this is the best program!
Há pelo menos 2 moinhos de maré no barreiro - o da Caldeira Pequena e o da caldeira grande ??
Um deles já foi comprado há anos à familia Costa para reconstrução e Museu . Quando o poderemos visistar
MC
Caro/a MC
Eu não vivo no Barreiro e por isso não estou em condições de lhe responder cabalmente. No entanto, através de uma pesquisa que fiz com o Google, fiquei a saber que esses dois moinhos de maré de Alburrica, na cidade do Barreiro, vão ser sujeitos a obras. Pode ver uma referência ao assunto nesta página:
https://www.si.ips.pt/ips_si/NOTICIAS_GERAL.ver_noticia?p_nr=5556
Enviar um comentário