África no Sri Lanka
De todas as minorias étnicas existentes no Sri Lanka, a menos conhecida de todas é a dos descendentes dos africanos, que ao longo dos tempos foram levados à força para o país pelos colonizadores portugueses, holandeses e ingleses. Vivem predominantemente na região de Putalão (Puttalam), no oeste do país.
Os membros desta minoria atribuem-se a si próprios a designação de cafrinhas, diminutivo de cafres. Em inglês são chamados kaffirs, designação que eles também aceitam, apesar de na África Austral esta palavra ter um significado pejorativo.
O idioma que os cafrinhas falavam até há tempos era o crioulo indo-português do Sri Lanka, o mesmo idioma falado pelos seus compatriotas burgueses portugueses (descendentes dos portugueses, tamiles, cingaleses, malaios, etc.). Os cafrinhas praticamente já não falam indo-português, por troca com o tamil e o cingalês, que são as línguas dominantes na ilha.
Aconselho vivamente a que se veja a reportagem seguinte sobre os cafrinhas, apesar de ela ser falada e legendada em inglês. É uma excelente reportagem, cheia de humanidade, realizada por Kannan Arunasalam.
Existem contactos entre os cafrinhas e os burgueses portugueses, o que não admira, porque uns e outros são herdeiros de uma mesma tradição linguística. Apesar de agora estar à beira da extinção, o idioma indo-português foi a língua franca usada na ilha desde a chegada dos portugueses até meados do séc. XIX. Ainda que o indo-português venha a desaparecer completamente, muitas palavras de origem portuguesa continuarão mesmo assim a ser usadas quotidianamente no seio da língua cingalesa.
Um ritmo tipicamente africano, em que se baseia muita da música tradicional cafrinha, acabou por se popularizar em todo o país e também na Índia. Este ritmo é chamado baila (um nome de origem portuguesa, como se vê) e pode-se mesmo dizer que ele se tornou numa espécie de ritmo nacional do Sri Lanka, tão grande é a sua popularidade. Muitos dos maiores êxitos da música ligeira do Sri Lanka dos últimos 50 anos são baseados no ritmo baila.
Comentários: 2
Excelente artigo, na sequência do anterior, também.
Obrigado pelo conhecimento, por este excelente nicho de cultura.
Com sua licença, e referência, vou espalha-lo pelos 4 cantos do universo.
Obrigado.
Há alguns meses li um livro publicado nos inícios do séc. XX, chamado "How to see Ceylon", que era uma espécie de guia turístico muito bem feito, melhor do que a maior parte dos guias turísticos atuais. Se algum dia eu visitar o Sri Lanka, o livro irá obrigatoriamente comigo.
O livro fazia uma referência muito passageira a uns tais burghers e à ascendência portuguesa de muitos deles. Isso estimulou a minha curiosidade. Pesquisei na Internet e descobri que naquele país também existe uma minoria de origem africana. O resultado da minha descoberta está aqui. Espero que seja útil a alguém.
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