10 março 2011

O Pulo do Lobo

Início da cascata do Pulo do Lobo, no Rio Guadiana (Foto: Homem de Campos)

O Pulo do Lobo é uma bela e surpreendente cascata existente no Rio Guadiana, situada mais ou menos no local em que este rio entra no concelho de Mértola. O rio, que até aí vinha fluindo pachorrento, por entre as suaves ondulações que moldam a paisagem alentejana, entra subitamente numa zona rochosa e desnivelada. O rio é comprimido pela rocha e começa a saltar, de desnível em desnível, até passar todo ele por um estrangulamento que tem apenas um par de metros de largura, que é o Pulo do Lobo propriamente dito.

Passado o estrangulamento, o rio dá mais uns saltos e continua o seu curso, serpenteando através de um profundo canal de formas caprichosas, que a força das suas águas foi cavando ao longo dos tempos. É a chamada Corredoura, que se estende quase até à vila de Mértola.

O Pulo do Lobo visto do alto, seguido da Corredoura, à esquerda (Foto: Modesto de Mota)

O que mais atrai no Pulo do Lobo não é o desnível total da cascata, que é só de cerca de 15 a 20 metros. É a beleza das formas criadas na rocha pela força das águas. É a própria força das águas, em épocas em que o rio estiver caudaloso, que jorram em jatos fortíssimos e borbulham furiosamente. É a surpresa de, ao chegarmos, encontrarmos de repente um fenómeno cuja existência nada -- absolutamente nada -- faz prever na paisagem envolvente. É a beleza desta mesma paisagem alentejana, de montes, pastos e trigais. É o ar perfumado pelas humildes flores do campo. É o céu vibrantemente azul que tudo cobre. É, enfim, o facto de estarmos ali e desejarmos que aquele momento mágico não acabe nunca mais.

Mas o momento mágico tem de acabar. Mais tarde ou mais cedo temos de nos ir embora, com a nossa alma purificada pelo que ali sentimos e com o nosso corpo gritando de repente um apetite aberto pelo perfume do rosmaninho e do alecrim. Ansiamos almoçar, mas não uma comida qualquer. Ansiamos um almoço que seja o complemento da felicidade que acabámos de sentir naquele local. O que ansiamos almoçar, afinal, é um prato da gastronomia alentejana, que é única e incomparável. Não há outra gastronomia assim no mundo.

Proponho que se vá almoçar a Serpa, de preferência no coração desta vila. E proponho que se coma, por exemplo, um ensopado de borrego, daqueles a sério, confecionado à maneira dos ganhões do Alentejo e regado por um tinto local (também pode ser de Pias), que é um néctar dos deuses. Como entrada, ou então à sobremesa ou em qualquer outra ocasião, não se deve deixar de saborear o queijo de Serpa, acompanhado por loiro pão feito de trigo, também alentejano. Será um dia em cheio.

Pormenor da cascata do Pulo do Lobo (Foto: José Dionísio Ruivo Neca)

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