30 setembro 2011

Escaravelhos de "ouro" e de "prata"

Chrysina aurigans (à esquerda) e Chrysina limbata (à direita) (Foto: Eduardo M. Libby)

As joias mais importantes e valiosas do Antigo Egito continham representações de escaravelhos, que simbolizavam uma divindade solar, o deus Khepri. Eram joias feitas de pedras preciosas e metais nobres.

Nas florestas da Costa Rica, por outro lado, existem escaravelhos que, se não são preciosos, pelo menos parecem. São escaravelhos vivos -- e não joias -- que parecem feitos de ouro e de prata, mas não são. Os escaravelhos dourados são da espécie Chrysina aurigans e os prateados são da espécie Chrysina limbata. Tal como todos os outros escaravelhos do mundo, de qualquer cor e feitio, estes escaravelhos estão cobertos de uma substância dura, chamada quitina. Por incrível que pareça, é esta substância que lhes dá a sua cor dourada e prateada.

Um grupo de cientistas da Universidade da Costa Rica descobriu muito recentemente como é que a cutícula de quitina que cobre estes insetos consegue dar-lhes a sua cor metálica característica. Consegue-o, por um lado, através de um fenómeno de difração da luz, que decompõe a luz solar nas suas componentes, tal como no arco-íris. As cores resultantes desta difração são sujeitas, por sua vez, a reflexões em camadas sobrepostas de quitina, que têm espessuras e estão dispostas de tal maneira que as ondas luminosas sofrem interferências umas com as outras e consigo próprias. Destas interferências resulta o apagamento de umas cores, porque se anulam e assim não são refletidas, e o realce de outras, que saem reforçadas do processo. O somatório de todas as cores que são refletidas corresponde à cor final, que no caso destes escaravelhos é semelhante à do ouro e da prata. Espero não ter sido muito confuso nesta explicação, que é necessariamente simplista.

Ora os cientistas costa-riquenhos descobriram que a cutícula que cobre estes escaravelhos -- e que tem uma espessura de cerca de 10 milésimos de milímetro -- tem cerca de 70 camadas extremamente finas de quitina! Estas camadas não têm todas a mesma espessura; elas são cada vez mais finas à medida que estiverem localizadas mais profundamente. É nestas várias camadas de quitina e nas fronteiras entre elas que se produzem os fenómenos óticos acima referidos.

Agora que se descobriu como é que a Natureza consegue sintetizar, através de estruturas orgânicas, as cores do ouro e da prata, é de esperar que surjam, no futuro, estruturas idênticas a estas feitas pelo homem em diversas aplicações. Tornar-se-á certamente ainda mais válido o ditado que afirma que «nem tudo o que luz é ouro».


Joia do Antigo Egito, com a representação de um escaravelho ao centro

Comentários: 2

Blogger Celina Dutra escreveu...

Fernando,

Bom dia, quase boa tarde! Só conhecia o simbolismo no Egito Antigo. Trouxe de lá, há muitos anos, um pequeno escaravelho de cerâmica. Prendi-o em um prato também de cerâmica para vê-lo sempre.
Suas explicações estão claríssimas. A natureza é fantástica! Os dourados são lindos!
Obrigada!
Girassóis no seu dia e fim de semana!
Beijos

30 setembro, 2011 11:53  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Cara Celina,
A Natureza é realmente fantástica. Um pouco à semelhança destes escaravelhos, as cores das asas das borboletas (há-as tão bonitas!) também são obtidas através da manipulação das ondas luminosas e não através de pigmentos coloridos. No caso das borboletas, a manipulação é feita por meio de minúsculas escamas que cobrem as suas asas. Incrível, não é?

04 outubro, 2011 00:00  

Enviar um comentário