«...a cada um a sua própria morte»
5.
(…)
Estão entregues a centenas de supliciadores tais,
e, agredidas pelo bater de cada hora passada,
circulam solitárias em torno de hospitais
esperando cheias de medo o dia da entrada.
Aí está a morte. Não aquela cujo cumprimento
na infância estranhamente as tocou,
a pequena morte, como ali se designou;
a sua própria morte está nelas como um fruto que passou
verde e sem doçura, sem amadurecimento.
6.
Senhor, dá a cada um a sua própria morte.
Morrer que venha dessa vida
durante a qual amou, sentido encontrou, teve má sorte.
7.
Porque nós somos apenas a casca e a folha.
A grande morte, que cada um em si traz,
é o fruto à volta do qual tudo gira.
Rainer Maria Rilke (1875-1926), in O Livro das Horas
Pormenor de um túmulo no cemitério de Agramonte, Porto (Foto de autor desconhecido)
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