O chocalheiro de Bemposta, Mogadouro
A máscara atual do chocalheiro de Bemposta, feita pelo artesão Joaquim Santos (Foto: Município de Mogadouro)
“
Apesar da sua máscara terrível e medonha que faz ainda arrepiar muita gente, o chocalheiro é uma figura simpática e cheia de significado.”
Vestido de linho grosseiro tingido de preto, o chocalheiro de Bemposta aparece como uma figura tauromórfica.
Nas pontas dos chifres ostenta duas laranjas espetadas; cai-lhe do "queixo uma barbicha de bode; na parte da nuca pende-lhe uma bexiga de porco cheia de vento; na testa tem um disco e, escorrendo pela face, uma pequena serpente; na mão segura uma tenaz e mostrando uma serpente de grande porte rodeada à cintura".
(...)
Dá-se início a todo o processo na véspera com a licitação do fato do chocalheiro.
O mordomo das festas, nomeado em altura própria (festas de S. Pedro, padroeiro da aldeia), abre as portas de sua casa onde todo o processo se desenrola. Os interessados, através de pessoas da sua confiança, ou mesmo os próprios, vão durante a noite e até à meia-noite fazer as suas “mandas” (acto de leiloar o fato do Chocalheiro) de forma a manter-se segredo quanto à identidade do vencedor.
Todos os concorrentes tentam tudo para ganhar o direito de ser o chocalheiro, para cumprimento de uma promessa.
Depois de terminar as mandas, pela meia-noite, os mordomos oferecem uma sobreceia a todos os participantes. O chocalheiro será aquele que mais mandou e mantém-se anónimo, regressando a sua casa ou ficando em casa do mordomo dissimulado.
A juventude passa essa noite junto da casa do mordomo, tentando ver chegar o candidato a mordomo, para o identificar, que debaixo de um manto ou usando vários estratagemas, teria que chegar sem ser reconhecido.
Cumpre-se assim a tradição, nos dias 26 de Dezembro, sai o chocalheiro “manso” e 1 de Janeiro o “bravo”, revertendo toda a receita recolhida pelo chocalheiro à volta da aldeia e de Lamoso, a favor de Nossa Senhora das Neves e do Menino Jesus, respectivamente.
No dia 26 de Dezembro o Chocalheiro “manso”, na companhia dos mordomos e conduzido por um deles, recebe esmola, que ninguém recusa dar e agradece com uma vénia, pois não pode falar para não ser reconhecido. Antigamente nem toda a gente tinha dinheiro disponível, uma maioria entregava o que tinha de melhor para o seu sustento: fatias de pão, fumeiro, fruta (laranja), ovos, etc., recolhidos em dois cestos barreleiros.
José Pereira e Manuel Fernandes, in Bemposta, onde pode ser lido o texto completo
Trecho de um vídeo feito para a televisão por Carlos Brandão Lucas
Comentários: 0
Enviar um comentário