04 setembro 2012

Emmanuel Nunes (1941-2012)



Durante a minha adolescência e juventude, fui sócio da Juventude Musical Portuguesa. Sinto-me muito grato a esta instituição, porque ela me abriu os ouvidos para géneros musicais que, só por mim, eu não seria capaz de ouvir e de gostar.

Nomeadamente no campo da música de vanguarda, a Juventude Musical teve um papel de extraordinário relevo, pois trouxe ao Porto alguns dos autores e intérpretes da maior importância que havia nesse tempo. Até trouxe a esta cidade o norte-americano John Cage, acompanhado por Merce Cunningham e a sua companhia de bailado!

Quanto à música portuguesa contemporânea, a Juventude Musical deu-me a conhecer o trabalho que então vinha sendo desenvolvido por Jorge Peixinho, Cândido Lima, Filipe Pires, Manuel Faria e outros. Deu-me a conhecer, também, a música de Emmanuel Nunes, um compositor que então começava a ser falado e que faleceu no passado dia 2 de setembro.

Não é fácil gostar-se de música contemporânea. Nada fácil. Exige de nós um desprendimento muito grande e requer uma atenção muito concentrada. Se nós não fizermos um esforço para ouvi-la como se tivéssemos acabado de nascer, deixando que cada som penetre até ao fundo de nós mesmos; se não deixarmos que esse som provoque dentro de nós sentimentos e emoções, como alegria, tristeza, amor, raiva, etc.; se não permitirmos que esse som nos faça "ver" cores, formas, linhas, volumes, gentes, objetos, clarões, figuras geométricas, etc.; se não deixarmos que esse som suscite em nós estímulos nos outros sentidos também, como cheiros, sabores, carícias, arrepios e outros, então a música contemporânea será para nós uma mera cacofonia sem sentido.

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