23 setembro 2012

Vozes e ritmos da floresta

Rio Mpivie, no Parque Nacional do Loango, Gabão (Foto: Rhett A. Butler)

Quando sobrevoamos uma floresta equatorial, que se parece com um imenso tapete verde estendendo-se diante de nós a perder de vista, perguntamo-nos se será possível alguém viver debaixo de uma tão compacta massa vegetal. A resposta é sim.

Quando abrimos penosamente caminho, a golpes de catana, através do incrível emaranhado de árvores, lianas, ramos e demais vegetação, característico deste tipo de floresta (que é tão densa que não se consegue ver uma pessoa que estiver a mais de um metro e meio de distância!), perguntamo-nos se é possível alguém conseguir arranjar espaço para viver num tal ambiente. A resposta é sim.

Na verdade, e muito embora ela seja um meio muito mais frágil do que a sua espantosa pujança possa sugerir, a floresta equatorial abriga e sustenta comunidades de seres humanos desde há muitos milhares de anos.

No caso da África central, as comunidades humanas mais antigas que vivem na floresta equatorial são compostas por pessoas de muito pequena estatura, que vivem tradicionalmente da caça e da recoleção e a que se dá o nome genérico de pigmeus. Além de, frequentemente, este nome ter uma conotação depreciativa, ele é enganador, pois abrange sob uma mesma designação comunidades humanas que apresentam uma enorme diversidade genética.

Entre estas comunidades de primeiros habitantes da floresta, ditos pigmeus, contam-se os Baka ou Bayaka, que vivem na República do Congo, Gabão, Camarões e República Centro-Africana. Apesar da sua reduzida estatura, os Baka são pessoas a 100%, cujo comportamento em nada difere do dos restantes seres humanos, como é por demais evidente no vídeo que se segue.



De entre as manifestações culturais dos Baka ou Bayaka, destaca-se uma forma de canto polifónico, que apresenta alternâncias entre a voz natural e o falsete, como no canto tirolês (yodel). O resultado é de uma grande complexidade e extraordinária beleza, como se pode ouvir a seguir.


Outra notável manifestação musical deste povo consiste no uso da água dos rios como tambores. Batendo na superfície da água com as mãos, os Baka conseguem produzir ritmos complexos e de belo efeito, a que se dá o nome de liquindi.






Curiosamente, a dezenas de milhares de quilómetros de distância, quase nos antípodas de África, há outras pessoas que também batucam na água de modo idêntico ao dos Baka. Vivem, nomeadamente, em Vanuatu e nas Ilhas Salomão, que são estados insulares independentes situados a norte da Nova Zelândia. O vídeo que se segue mostra uma batucada na água do Oceano Pacífico em Vanuatu.

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