Aldeia Galega da Merceana
O largo principal de Aldeia Galega da Merceana, concelho de Alenquer (Foto: Patrícia Caldeira) |
A mim, parece-me extraordinária a ignorância que as pessoas de Lisboa têm do norte do respetivo distrito. Quando muito, conhecem Torres Vedras, é claro, e eventualmente a Praia de Santa Cruz. Quanto ao resto, o desconhecimento é quase total. Cadaval, Alenquer, Merceana, Sobral de Monte Agraço ou mesmo Arruda dos Vinhos são nomes que para o lisboeta comum pouco ou nada dizem. São terras de gente saloia, pelas quais o alfacinha pouco se interessa.
Há no entanto muito para ver em toda aquela região, desde logo a paisagem, que é quase totalmente rural e de uma enorme beleza. É uma paisagem muito repousante, com os seus campos, hortas e pomares muito bem cuidados, estendendo-se por cabeços de vertentes suaves, exceto a imponente Serra do Montejunto. É uma paisagem de curvas férteis e femininas, direi mesmo sensuais.
É verdade que o inverno é uma estação que não convida a passeios, mas mesmo no inverno a região é de uma enorme beleza, embora não tanta como na primavera, naturalmente. A região a norte de Lisboa, no inverno, apresenta-se geralmente muito verde, muito fresca e muito tenra, porque chove com frequência e as geadas, se as há, não chegam a queimar as ervas.
Não é só a paisagem que há para ver na região saloia em apreço, pois também há monumentos. É verdade que não os há grandiosos e imponentes, salvo o convento de Mafra, mas há, por exemplo, um conjunto de igrejas manuelinas e renascentistas a merecerem a nossa visita, em Arruda dos Vinhos, em São Quintino (nos arredores de Sobral de Monte Agraço), em Espiçandeira (perto de Alenquer), etc.
E que dizer das aldeias, tão lindas e tão brancas? Destas, permito-me destacar Aldeia Galega da Merceana, no concelho de Alenquer, que possui um dos mais belos largos de aldeia que eu já vi. Ao centro, um pelourinho manuelino, a atestar a importância da aldeia no passado, como sede de concelho que foi. A um lado, a igreja matriz, com um portal também manuelino. Em frente a ela, a pequena igreja da Misericórdia. Um pouco mais para o lado, um chafariz com um painel de azulejos azuis e brancos. Em volta, várias casas antigas e muros brancos. Enfim, um conjunto arquitetónico harmonioso como poucos. Tudo isto, que é tão belo na sua simplicidade saloia, está a uns escassos cinquenta quilómetros de Lisboa, mais quilómetro, menos quilómetro. Quantas pessoas em Lisboa conhecem Aldeia Galega da Merceana?
Comentários: 2
Fernando,
Excelente texto, uma escrita clara, bela e apelativa.
Dá mesmo vontade de sair por aí ao encontro da calma e da beleza rural.
Obrigado
Obrigado digo eu, Namibiano. Bom Ano Novo para si e para os seus.
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