Bicho do Mato
Angola, pelo Duo N'gola
Esta canção é tão antiga, que eu nem sequer me lembrava de me lembrar dela! Mas agora que a voltei a ouvir, a sua recordação emergiu das profundezas da minha memória. Há quantos anos!
O que escrevi no parágrafo anterior vem a propósito da triste notícia, agora divulgada, do falecimento do angolano Rui Legot, que constituiu o Duo N'gola juntamente com Henrique Rosa Lopes, lá pelos finais da década de 50, talvez, do século passado. Este duo foi, por isso, um pioneiro na introdução da música angolana em Portugal, abrindo os caminhos do êxito ao Duo Ouro Negro, Lilly Tchiumba, Rui Mingas, etc.
Esta canção que aqui se ouve e que se chama "Angola", mas que também é conhecida como "Bicho do Mato", foi uma das canções mais divulgadas do Duo N'gola em Portugal. Uma outra canção do duo que teve uma certa divulgação na Metrópole colonial foi "Mona Kilumba" (título que se pode traduzir por "Menina"), de que é autor João Videira Santos.
A canção chamada "Angola", que é da autoria de Henrique Rosa Lopes, dá-nos conta do aparecimento de um sentimento nacional entre as populações rurais de Angola, involuntariamente promovido pelo regime colonial de Salazar através do ensino. Apesar da retórica colonial que era veiculada pelos professores, os alunos descobriam nas aulas que havia "uma terra com o nome de Angola" e que essa terra era a sua própria. Daí até ao surgimento de um sentimento nacional era só mais um passo.
Já agora, aproveito para acrescentar que um outro meio de disseminação de um sentimento nacional entre os angolanos foi o serviço militar. Os jovens angolanos que eram incorporados nas fileiras do Exército Português, vindos do norte, do sul, do leste, do oeste e também do centro da colónia, entravam em contacto uns com os outros, reconheciam-se no que os unia e deixavam de se considerar bacongos, ganguelas ou cuanhamas, para se tornarem só angolanos. As diferenças de língua, de cultura e outras que havia entre eles eram muito menos importantes do que as semelhanças, resultantes de um mesmo substrato cultural, que era de raiz bantu, e de uma mesma condição social, que era a de colonizados.
Comentários: 9
Sabes? Sou tal como "bicho do mato".
Quando eu era criança fui muitas vezes chamado "bicho do mato", porque era uma criança tímida, em contraste com os meus primos, que eram muito atrevidos.
No meu caso, é por quase sempre ter vivido entre bichos e vegetação. É meu habitat natural.
Aliás, não me sinto bem em selvas de pedras. Não mesmo.
Como sempre postagens interessantes.
Não tenho vindo visitá-lo pois neste momento só tenho acesso à net via telemóvel. É muito pequeno para deixar comentarios, irrita um pouco a vista.
abraços
Amigo Namibiano, não se incomode. Eu sei (desconfio, melhor dizendo) que mais tarde ou mais cedo aparece por aqui, assim como eu visito sempre os seus blogs, mesmo quando não deixo comentários. Um abraço
Obrigada por este artigo, Fernando Ribeiro. Gostaria de usar um trecho desta canção para a epígrafe um livro. Sabe de quem é a letra? brancaclaradasneves@gmail.com
Minha prezada Branca,
O que consegui saber sobre a autoria desta canção, é que ela é de Henrique Rosa Lopes, um dos membros do Duo N'Gola. Esta é a informação que consta na contracapa do disco, que pode ser acedida em https://www.discogs.com/release/12764365-Duo-NGola-Angola. Logo, julgo poder concluir que Henrique Rosa Lopes é o autor da música e também da letra, já que é o único nome indicado.
O Duo Ngola era constituido por Henrique Rosa Lopes e Rui Legot
Henrique Rosa Lopes, é o autor da composição "Angola".
Aliás, ele é autor de muitas outras composições do Duo Ngola.
Mais tarde, gravou diversos discos com o no de HenriK Langele.
Ao contrário do que consta em diversos sites sobre musica, a composição "Mona Kilumba" é de minha autoria (letra e musica).
Ainda para o Duo Ngola, escrevi o poema "Euridice" que Henrique Rosa Lopes musicou e o Duo gravou.
Ao vosso dispôr sobre qualquer informação ácerca do Duo Ngola com o qual convivi de perto.
Cumprimentos
João Videira Santos
Prezado João Videira Santos,
Muito obrigado pelas suas achegas, que acabei de acrescentar a este post e que vieram enriquecê-lo ainda mais. Esteja à sua vontade se quiser voltar a dizer de sua justiça neste meu blog. Será bem-vindo.
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