31 março 2015

Os índios Karajá

(Foto: Povo Karajas)


Os índios Karajá, que a si próprios se denominam Iny (palavra que significa "Nós"), são um povo indígena brasileiro que habita desde há séculos nas margens do Rio Araguaia, nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso. O primeiro contacto de que se tem conhecimento entre os Karajá e homens brancos ocorreu em 1658, ano em que o padre jesuíta Tomé Ribeiro se encontrou com os Karajá do Baixo Araguaia. A partir do séc. XVIII e até aos dias de hoje, os Karajá têm estado em contacto quase permanente com a sociedade "branca".


(Foto de autor desconhecido)


A respeito da origem mitológica deste povo, escreveu Manuel Ferreira Lima Filho, antropólogo e professor da Universidade Federal de Goiás:

O mito de origem dos Karajá conta que eles moravam numa aldeia, no fundo do rio, onde viviam e formavam a comunidade dos Berahatxi Mahadu, ou povo do fundo das águas. Satisfeitos e gordos, habitavam um espaço restrito e frio. Interessado em conhecer a superfície, um jovem Karajá encontrou uma passagem, inysedena, lugar da mãe da gente (Toral, 1992), na Ilha do Bananal. Fascinado pelas praias e riquezas do Araguaia e pela existência de muito espaço para correr e morar, o jovem reuniu outros Karajá e subiram até a superfície.

Tempos depois, encontraram a morte e as doenças. Tentaram voltar, mas a passagem estava fechada, e guardada por uma grande cobra, por ordem de Koboi, chefe do povo do fundo das águas. Resolveram então se espalhar pelo Araguaia, rio acima e rio abaixo. Com Kynyxiwe, o herói mitológico que viveu entre eles, conheceram os peixes e muitas coisas boas do Araguaia.

Depois de muitas peripécias, o herói casou-se com uma moça Karajá e foi morar na aldeia do céu, cujo povo, os Biu Mahadu, ensinou os Karajá a fazer roças.

Existe uma correspondência simbólica entre a distribuição vertical dos referidos povos míticos e as atuais aldeias Karajá ao longo do vale do rio Araguaia. Os Xambioá são os Iraru Mahadu, o Povo de Baixo, ao norte do Araguaia. Os Karajá da ponta sul da ilha e os de Aruanã são alguns dos representantes do Povo de Cima, ou Ibóó Mahadu, e os Javaé, segundo alguns autores, são o Povo do Meio ou Itua Mahadu (Petesch, 1986 e Rodrigues, 1993). Esta distribuição das aldeias ao longo do Araguaia tem correspondência com a distribuição das casas numa única aldeia, como Santa Isabel, por exemplo, cujas casas formam duas linhas retas paralelas. Se imaginarmos estas duas retas paralelas de casas cortadas por duas transversais, formam-se três segmentos: as casas de cima (rio acima), as casas do meio e as casas de baixo (rio abaixo).

No ritual de iniciação masculina, conhecido como Hetohoky ou Casa Grande, os homens também se dividem em homens de cima, homens de baixo e homens do meio e, na disposição espacial das casas rituais, igualmente tem-se a casa pequena (rio abaixo), a casa grande (rio acima) e casa de Aruanã, que fica sempre no meio destas. Portanto, a localização das aldeias Karajá possui uma razão de ser nesse ou naquele local com relação ao Araguaia, assim como a disposição das casas de moradia, dos cemitérios, das casas rituais, segundo um simbolismo próprio à cultura karajá.

Manuel Ferreira Lima Filho, in Povos Indígenas do Brasil


(Foto: Chriswana Iny)

Comentários: 6

Blogger Um Jeito Manso escreveu...

E que bonitos e serenos eles são... E aquelas flores lindas, que belos brincos fazem! Que bom começar o dia assim.

Obrigada!

31 março, 2015 09:03  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Cara UJM, não são flores, são penas! Se reparar bem, verá que são arranjos de penas em forma de flores.

01 abril, 2015 03:39  
Blogger Chama a Mamãe! escreveu...

Por que teimam em acabar com os indígenas? Temos tanto a aprender com eles. Tanto, tanto.

01 abril, 2015 14:52  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Afinal, quem descobriu o Brasil foram eles, há milhares de anos. E em 1500 descobriram Pedro Álvares Cabral.

02 abril, 2015 02:28  
Blogger Chama a Mamãe! escreveu...

Eu também penso da mesma forma.Não foram os portugueses os descobridores do Brasil. Eles foram os INVASORES.

02 abril, 2015 14:53  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Ao contrário do que sucedeu nas colónias portuguesas em África, em que os colonos portugueses regressaram a Portugal no momento da independência dessas colónias, os portugueses que invadiram e colonizaram o Brasil não regressaram a Portugal juntamente com a corte de D. João VI. Os seus descendentes continuam no Brasil e têm a nacionalidade brasileira. Não estão em Portugal e já não são portugueses.

03 abril, 2015 03:39  

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