Emboscada
Corpos que se arrastam
e se consomem
na suja lama das picadas
e nos estilhaços das granadas
que explodem.
— Os rebentamentos
são o compasso
tétrico
da sinfonia “Morte”!
—O fogo intenso
cruzado
é o ritmo macabro
no patético bailado.
— Um homem tomba
Ei-lo que jaz
inerte, morto,
vencido!
— Outro homem grita
vendo cair a seu lado
um companheiro soldado:
“Ah grandes filhos da puta!”
“ Mataram o meu amigo!”
(E um rosto de sangue manchado)
“Cambada de terroristas!”
“Hei-de matar-vos a todos!”
(E um cheiro a sangue queimado)
— E as lágrimas amargas de raiva
rasgam sulcos vermelhos
num sujo rosto de pólvora!
É uma guerra que se declara:
Não por um povo oprimido
nem por uma Nação ofendida!
Mas por um homem ferido
num labirinto perdido
entre uma morte e uma vida!
…
—Transforma-se o oprimido
em instrumento opressor.
Nasce num peito uma guerra!
E, lá longe…
Na sua terra
o abutre, o carrasco,
o nazi,
a peste,
enchendo o ventre de carne
escreve:
“DITOSA PÁTRIA QUE TAIS FILHOS DESTE”!
António Calvinho, Trinta Facadas de Raiva, Associação dos Deficientes das Forças Armadas, Lisboa
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Coluna militar portuguesa no norte de Angola, no tempo da guerra colonial (Foto de autor desconhecido) |
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