Natal à Beira-Rio
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado…
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia…
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira (1927–1996)
Uma figura em terracota, das cerca de 500 que Machado de Castro (1731–1822) criou para o presépio da Basílica da Estrela, em Lisboa, o maior presépio português e também, certamente, o mais belo (Foto: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura) |
Comentários: 2
Belo poema.
Que tenhas um Feliz Natal!
Muito obrigado. Outro tanto lhe desejo, minha amiga.
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