Mar
Mar
Nosso caminho
Nossa estrada…
Mar
Nosso confidente
E companheiro…
Mar
Nossa casa
E cemitério…
Mar!
Há no teu fundo
Esqueletos brancos
De corpos outrora negros…
Há esqueletos livres
De corpos outrora presos…
(Tu devoraste o ferro das correntes
E puliste os ossos…)
Há esqueletos de patrões e escravos,
Lado a lado!
…………………………………
E há um grito no Mar, continuamente,
Grito que nasceu e quedou morto
Nas mandíbulas cerradas
E falanges destroçadas
Dos esqueletos!
Mário António (1934–1989), poeta angolano
Museu Nacional da Escravatura, Luanda, Angola. Por esta capela do séc. XVII, chamada Capela da Casa Grande e situada no Morro da Cruz, em Luanda, passaram milhares e milhares de escravos. Nela, os escravos eram batizados antes de serem embarcados nos navios negreiros (Foto: Sapo Angola) |
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