Peristilo ajardinado e mosaico polícromo nas ruínas romanas de Conímbriga (Foto de autor desconhecido)
A cidade do Porto fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Portus Cale, de que tomou o nome. A cidade de Lisboa fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Olisipo, de que tomou o nome. A cidade de Braga fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Bracara Augusta, de que tomou o nome. A cidade de Coimbra fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Æminium. Porquê Æminium? Então o nome Coimbra não vem de Conímbriga?
Conímbriga foi uma povoação antiquíssima, fundada, pelo menos, na Idade do Cobre, se é que ela não existia já na Idade da Pedra. O nome Conímbriga é de origem celta, como o de todas as povoações terminadas em "briga": Tongóbriga (perto do Marco de Canaveses), Cetóbriga (em Troia, em frente a Setúbal), Miróbriga (perto de Santiago do Cacém), Lacóbriga (que deu origem à cidade de Lagos) e muitas outras. Portugal é o país com maior percentagem de topónimos celtas da Europa, com exceção do Reino Unido e da República da Irlanda.
Conímbriga terá sido conquistada pelos Romanos em 138 A.C. e a sua romanização iniciou-se, sobretudo, no tempo do imperador César Augusto, o mesmo Augusto que era imperador de Roma quando Jesus Cristo nasceu. Durante o domínio romano, Conímbriga tornou-se uma cidade rica e importante, graças à sua localização estratégica na estrada que ligava Bracara Augusta (Braga) a Olisipo (Lisboa).
Mosaico romano em Conímbriga (Foto: Chris)
No séc. V, como é sabido, deu-se a queda do Império Romano, às mãos de povos bárbaros que o invadiram a partir do Norte e do Este. O território que corresponde ao Portugal atual foi invadido, numa primeira vaga, por três (nada menos do que três!) povos bárbaros, que ainda por cima eram dos mais temidos de todos: Suevos, Vândalos e Alanos. Os Suevos e os Vândalos eram germânicos, enquanto os Alanos eram caucasianos. Aqui chegados, estes bárbaros dividiram o território entre si, mas logo de seguida procuraram apoderar-se das terras uns dos outros, guerreando-se mutuamente. Destes combates resultou a vitória final dos Suevos sobre os Vândalos e os Alanos. Os Suevos ficaram cá, enquanto os outros dois povos se dirigiram para o sul da Península Ibérica, isto é, para a região que passou a chamar-se Vandália, nome este que evoluiu até à presente designação de Andaluzia. Da Andaluzia os Vândalos e Alanos atravessaram o estreito de Gibraltar e instalaram-se no Norte de África, onde fundaram o reino dos Vândalos, que se estendeu desde Marrocos até à Líbia atuais.
Os Suevos, que ficaram senhores da situação neste extremo ocidental da Península Ibérica, trataram de se apoderar das cidades deste território e das riquezas nelas existentes. Conímbriga não escapou à cobiça dos Suevos, tendo sido por eles pilhada e destruída no ano 468. A maior parte dos habitantes da cidade procurou refúgio numa povoação situada a perto de 20 quilómetros de distância e sobranceira ao Rio Mondego, chamada Æminium. Entre estes refugiados estava o bispo de Conímbriga. Como em Æminium passou a residir o bispo de Conímbriga, então a cidade deixou de se chamar Æminium para passar a chamar-se Coimbra, uma simplificação do nome Conímbriga.
Mosaico romano em Conímbriga (Foto: Chris)
O cronista Paulo Orósio, que provavelmente era natural de Braga e viveu os acontecimentos ocorridos naquela época, testemunhou que os Suevos rapidamente trocaram a espada pelo arado. Quis ele dizer com isto que os Suevos acabaram por se estabelecer pacificamente nesta faixa de território, trocando a arte da guerra pela agricultura, que aliás devia ser a sua atividade principal lá na Germânia de onde saíram. Muitos séculos mais tarde, o etnólogo Jorge Dias, num trabalho que publicou em 1948, revelou que o arado tradicional da região de Entre‑Douro‑e‑Minho é de tipo germânico.
Os Suevos fundaram um reino próprio, com capital em Bracara Augusta, a atual cidade de Braga. O reino dos Suevos foi passando pouco a pouco a chamar-se também reino de Portucale, tomando assim o nome da sua cidade portuária mais importante, a atual cidade do Porto. O território ocupado pelo reino dos Suevos compreendia toda a atual Galiza e a parte norte e centro do atual Portugal, estendendo-se até ao Rio Tejo e, por vezes, mais para sul ainda, até ao atual Algarve. Mais tarde o reino dos Suevos foi conquistado pelos Visigodos, um outro povo germânico entretanto chegado à Península, e estes, por sua vez, acabaram por ser derrotados pelos Árabes. Mas isto já não tem nada a ver com Conímbriga.
Mosaico romano em Conímbriga (Foto de autor desconhecido)