O jogo do ta
Jogo do ta, um jogo tradicional dos índios Kalapalo, que vivem no Parque Indígena do Xingu, Brasil
Brincar, conviver e divertir-se é próprio de todos os seres humanos, seja nas paragens mais geladas da Sibéria, seja nas zonas mais quentes de África. Onde quer que haja crianças ou, mesmo, adultos, há brincadeiras, jogos e diversões. Sempre e em toda a parte.
Existem jogos e brincadeiras numas partes do mundo que apresentam semelhanças espantosas com outros jogos e com outras brincadeiras de outras partes do mundo, habitadas por povos aparentemente muito diferentes. Os bosquímanos (também chamados Khoisan) da África Austral, por exemplo, têm uma brincadeira que apresenta semelhanças notáveis com a do "Bom Barqueiro" em Portugal. Só não cantam «— Bom barqueiro, bom barqueiro, / deixa-me passar. / Tenho filhos pequeninos / p'ra acabar de criar. / — Passarás, passarás, / mas algum deixarás. / Se não for o da frente, / há de ser o de trás.» Mas o resto da brincadeira é igual, incluindo a medição de forças no final. Não admira. A raça humana é uma só, o engenho humano é o mesmo em toda a parte e, por isso, não é de espantar que povos distantes e aparentemente muito diferentes acabem por ter jogos e brincadeiras semelhantes. Somos todos irmãos uns dos outros.
A brincadeira que se vê neste vídeo não tem equivalente na Europa dos nossos dias, tanto quanto eu sei. Na Europa abandonou-se o emprego do arco e da flecha desde que se generalizou o uso das armas de fogo e uma brincadeira deste tipo deixou de fazer sentido. Mas quem sabe se na Idade Média ou em épocas anteriores não terá existido na Europa um jogo semelhante a este, destinado a treinar a pontaria e a rapidez de reflexos com um arco e com uma flecha?
Esta brincadeira do povo indígena Kalapalo, do Brasil, consiste em tentar acertar com uma flecha numa rodela de palha envolvida pela casca verde de uma árvore chamada embira. Para tanto, formam-se duas equipas que se vão confrontar, as quais se dispõem em linha, a uma distância considerável uma da outra. Um membro de uma das equipas atira a rodela, chamada ta, em direção da equipa adversária, a qual terá que acertar com uma seta na rodela que passa, rolando, diante de si. Se algum jogador da equipa adversária conseguir acertar na rodela, o jogador que a tiver lançado é expulso do jogo e é substituído por um outro elemento da sua equipa, que volta a atirar a rodela. Se nenhum jogador da equipa adversária tiver conseguido acertar na rodela, invertem-se os papéis e caberá a um elemento da segunda equipa lançar a rodela na direção da primeira.
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