20 junho 2018

Um grito de alerta



Benki Piyãko Ashaninka é o líder indígena (chamado cacique no Brasil) dos habitantes de etnia Ashaninka que vivem na bacia do Rio Amónia, na região do Alto Juruá, estado do Acre, Brasil. É costume, entre os indígenas brasileiros, usar o nome da sua tribo como último apelido (sobrenome no Brasil). O povo Ashaninka vive repartido entre o Brasil e o Peru.

O cacique Benki Piyãko Ashaninka tem vindo a receber ameaças de morte por parte de madeireiros, por causa da sua defesa da floresta amazónica. Estas ameaças devem ser levadas muito a sério, pois foi precisamente no Acre que o seringueiro Chico Mendes foi assassinado. A vida de Benki Piyãko Ashaninka corre, portanto, sério risco.

O texto que se segue, e que partilho com todo o gosto, é da autoria de Benki Piyãko Ashaninka e foi publicado numa sua página no Facebook.

Quero falar algumas palavras que representam o meu sonho de vida. Sou Benki, menino, filho da terra, representado pelo meu pai Antônio e minha mãe Francisca. A floresta para mim é parte de um ciclo de vida que tenho como Ashaninka, que me banho nos rios e respiro o ar puro das flores, trabalho de dia e descanso à noite, como as frutas, e canto com os pássaros e os animais. Minha alegria me dá força de enfrentar o mundo para ajudar o Planeta criando um plano estratégico para desenvolver uma sustentabilidade e um equilíbrio para a Humanidade.

Nós Ashaninka temos uma preocupação pelo que está acontecendo no mundo. Já temos muitas comprovações em pesquisas que apontam os problemas causados pelo desmatamento, pelos rios poluídos, pela mineração de ouro, extração de petróleo, criação de sementes modificadas, construção de estradas e barragens, poluição causada pelas indústrias e pelo lixo.

As políticas de governo agora nos levam a uma preocupação ainda maior, com seus empreendimentos para criação de barragens, destruição da floresta, extração de petróleo, minérios, redução de terras indígenas, investimento para a criação de gado e plantio de monoculturas com uso de venenos, destruindo nossos rios. O que vamos fazer se um governo não sabe refletir sobre seus planos socioeconômicos, levando o país para um desastre humano? Sei que nós, Ashaninka, estamos mostrando um pouco para o mundo nossa preocupação e levando projetos para ajudar a gerar sustentabilidade econômica e maior equilíbrio humano, com projetos sociais, para as escolas, gerando consciência de como manter um planeta limpo e mais rico para a Humanidade; plantando floresta e cuidando da terra como parte de nossa vida.

Queremos que as nações do mundo deem um grito de alerta para nosso governo acordar e voltar um pouco para trás. Para que admita o erro cometido que está matando a todos nós. Esta mensagem vem da Terra, como um pedido para a Humanidade entender que somos passageiros e não podemos olhar apenas para nós mesmos, mas temos que olhar para as futuras gerações e o que vamos deixar para eles. Temos que pensar nos nossos filhos e na Terra. Não podemos deixar um país pobre e envenenado, como já está acontecendo. Hoje já podemos ver os desastres acontecendo, pessoas emigrando de seus países em busca de água para beber e comida para comer. Vemos a guerra pelo dinheiro e a próxima será pela água e pela comida.

Prestem atenção no que falo. Vamos esperar ou mudar a história? Junte-se a nós!

Benki Piyako Ashaninka , filho da terra

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