O Auriga de Delfos
Auriga de Delfos é o nome de uma escultura grega de bronze, com 1,82 metros de altura, feita por volta do ano 470 A.C. (antes de Cristo) e descoberta em 1896 num antigo santuário dedicado a Apolo, em Delfos, Grécia. Encontra-se presentemente no Museu Arqueológico de Delfos.
O Auriga de Delfos representa um condutor de carros puxados por cavalos (um auriga), que terá vencido uma corrida de carros nos Jogos Pítios. Estes jogos eram os segundos jogos mais importantes de toda a Grécia Antiga, logo a seguir aos Jogos Olímpicos, e realizavam-se de quatro em quatro anos em Delfos. Esta escultura devia representar um auriga a conduzir o seu carro durante a volta triunfal de consagração, como vencedor, no fim de uma corrida, com as rédeas dos cavalos seguras na sua mão direita, ainda suado, mas já com a respiração normalizada.
O Auriga de Delfos é uma escultura representativa de um estilo intermédio na arte da Grécia Antiga, chamado Estilo Severo, que fez a transição entre o Estilo Arcaico, hirto e rígido, e o Estilo Clássico, harmonioso e natural. Nesta obra em concreto, a parte da túnica que do peito desce até aos pés, verticalmente e sem qualquer sugestão de movimento, é representativa do Estilo Arcaico. O resto da escultura, cheio de naturalidade e harmonia, já representa o Estilo Clássico, mostrando um auriga vencedor, altivo e orgulhoso do seu feito, mas sereno e contido nas emoções de acordo com o ideal clássico expresso na frase «Tudo com perfeita moderação».
A estátua do Auriga de Delfos não devia limitar-se a representar apenas o auriga propriamente dito, mas também devia ser complementada por um conjunto de outras esculturas, também elas de bronze, das quais resta muito pouco: as do carro que o auriga conduzia, as dos cavalos que estavam atrelados ao carro e, provavelmente, as de um ou dois tratadores dos cavalos. De todo este conjunto, quase só sobreviveu até aos nossos dias a estátua do próprio auriga, à qual falta apenas o braço esquerdo. No restante, ela apresenta-se-nos espantosamente completa e é verdadeiramente admirável do ponto de vista do engenho e da arte.
Também a qualidade técnica desta escultura de bronze é notável. Ela foi feita por moldagem, segundo o método da cera perdida, através do qual é possível reproduzir com total fidelidade os mais pequenos pormenores que estiverem presentes no molde. Este método dá bons resultados em esculturas de pequena dimensão, mas não em esculturas grandes como esta, que deve ter sido fundida em partes separadas, as quais no fim devem ter sido unidas umas às outras por soldadura. Seja como for, o resultado final é admirável.
Admirável também é a técnica usada para a representação dos olhos, que estão incrustados no bronze da estátua. Os olhos são feitos de calcedónia, que é uma variedade de quartzo translúcido. O aspeto gorduroso da calcedónia presta-se bem à representação da esclerótica, que é a parte branca dos olhos. A íris e a pupila foram obtidas por processos químicos cuidadosamente aplicados a zonas específicas da calcedónia. O resultado é espantoso: os olhos do auriga parecem ter vida! Só lhes falta pestanejar.
Por fim, não podemos deixar de reparar nos pés do auriga, que são de um realismo que impressiona. São uns pés maltratados, de alguém que costumava andar descalço.
Não há dúvida de que a estátua do Auriga de Delfos é uma das mais importantes esculturas de toda a arte da Grécia Antiga. É a estátua de alguém que viveu há dois mil e quinhentos anos e, no entanto, apresenta-se-nos impressionantemente humano. Parece que está vivo e respira, aqui e agora neste século XXI depois de Cristo. É um milagre que só a Arte com A maiúsculo consegue realizar.
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