13 junho 2025

Vila Flor


A Igreja Matriz de Vila Flor (Foto: Pedro Domingues)
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Vila Flor, apesar de ser sede de concelho, é uma vila pequena, onde quase tudo está praticamente ao alcance da mão. Estendemos um braço e tocamos na chamada "Fonte Romana", que de facto não é romana, porque no tempo dos romanos Vila Flor nem sequer existia. Voltamos a estender um braço e tocamos no Arco de D. Dinis, que é um arco ogival de pedra, erguido no ar quase sem sustentação e é o que resta da antiga muralha da vila, mandada construir pelo Rei-Lavrador. Estendemos outra vez um braço e tocamos no Museu Berta Cabral, que nunca cheguei a visitar e sobre o qual, por isso, não estou em condições de opinar. De novo estendemos um braço e tocamos na Igreja Matriz, que só por si justifica plenamente uma deslocação até Vila Flor.


Pormenor da fachada principal da Igreja Matriz de Vila Flor (Foto de autor desconhecido)
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A Igreja Matriz de Vila Flor é dedicada a São Bartolomeu e foi construída no séc. XVIII, em substituição de uma outra que anteriormente teria existido no mesmo local e que se teria desfeito em ruínas. O melhor que a igreja atual tem para mostrar não está no seu interior, mas sim cá fora, à vista de toda a gente. É verdade que lá dentro há altares com talha dourada barroca de excelente qualidade artística. Porém, o que realmente me enche a alma na Igreja Matriz de Vila Flor é o seu exterior, com particular destaque para a fachada principal. Dizem os entendidos que a igreja é barroca e a sua fachada tem elementos maneiristas. Até poderia ser ao contrário ou não ser nada disto, porque o estilo é o que menos importa. O que importa é a grande e original beleza que esta fachada tem. Aposto que em nenhuma outra parte do mundo encontramos uma fachada assim. Uma vez vista, nunca mais se esquece.


Portal lateral da Igreja Matriz de Vila Flor (Foto: Paula Noé)
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A chamada "Fonte Romana" de Vila Flor seria uma fonte banal se não lhe estivesse associado um mirante do séc. XVI, com uma abóbada de tijolo assente em colunelos de pedra. Com que finalidade terão feito este mirante, se a vista que se tem dele não é ampla? A mim, parece-me que este mirante foi feito para que as pessoas tivessem uma sombra que as abrigasse da torreira do sol, quando levavam o seu gado à fonte e aguardavam que ele matasse a sede. Vila Flor fica no coração da Terra Quente transmontana e os seus verões são verdadeiramente sufocantes. Qualquer sombra, por mais pequena que seja, é sempre bem-vinda em Vila Flor.


A "Fonte Romana" de Vila Flor (Foto: Pedro Domingues)
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Como Vila Flor fica na Terra Quente, a agricultura que à sua volta se pratica é do tipo mediterrânico, com amendoais, olivais, vinhedos, pomares, etc. Basta subir ao santuário de Nossa Senhora da Assunção, junto a Vilas Boas, ou descer ao fertilíssimo Vale da Vilariça, para nos encontrarmos rodeados por uma paisagem que é completamente diferente da da vizinha Terra Fria, caracterizada por castanheiros e campos de centeio. Em Vila Flor, quase poderíamos dizer que nos encontramos em pleno Algarve, em vez de Trás-os-Montes.


O Arco de D. Dinis, em Vila Flor (Foto: Aníbal Gonçalves)
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Comentários: 2

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Lindíssima, esta pequena vila que nunca conheci.

Um abraço, Fernando

13 junho, 2025 10:57  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Eu posso estar muito enganado, mas parece-me que a ideia que as pessoas que vivem na Grande Lisboa têm de Trás-os-Montes é geralmente a de um território pobre, rude e pedregoso, à semelhança do que é uma boa parte do distrito da Guarda. De facto, Trás-os-Montes só é assim no planalto do Barroso e pouco mais.

O próprio aspeto da Terra Fria transmontana não corresponde a esta ideia. Por exemplo, se nos encontrarmos em Mogadouro, que fica no Planalto Mirandês (em plena Terra Fria), e olharmos à nossa volta, julgaremos estar no Alentejo. É verdade que os campos que rodeiam Mogadouro são de centeio e não de trigo, mas o aspeto que eles nos apresentam é quase o mesmo. Aliás, gosto muito de Mogadouro, que é uma vila muito airosa e que me faz sentir em casa.

Já a Terra Quente faz-me lembrar o Algarve, mais propriamente a Serra Algarvia e o Barrocal, porque em Trás-os-Montes não há mar. Para mim, a vila mais "algarvia" de toda a Terra Quente transmontana é Freixo de Espada-à-Cinta. Só não tem as lindas chaminés das casas algarvias, mas se olharmos em volta ver-nos-emos rodeados de amendoeiras iguaizinhas às do Algarve.

15 junho, 2025 02:08  

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