17 março 2018

Stephen Hawking (1942–2018)


«Podem ouvir-me? Foi um tempo glorioso estar vivo e fazer investigação em Física Teórica. A nossa visão do universo mudou muito nos últimos 50 anos e sinto-me feliz se tiver conseguido fazer uma pequena contribuição para tal. O facto de que nós, humanos — que somos, nós próprios, meros conjuntos de partículas fundamentais da natureza —, tenhamos sido capazes de nos aproximarmos da compreensão das leis que nos governam, assim como ao universo, é um grande triunfo. Quero partilhar a minha excitação e entusiasmo com esta procura. Portanto, lembrem-se de olhar para as estrelas e não para os pés. Tentem compreender o que veem e perguntem-se sobre o que faz o universo existir. Sejam curiosos e, por muito difícil que a vida possa parecer, há sempre algo que podem fazer e conseguir ter êxito. É importante que não desistam. Obrigado por me escutarem.»Stephen Hawking (1942–2018)

Já praticamente foi dito tudo o que havia para se dizer sobre Stephen Hawking, a sua genialidade, a sua doença neurodegenerativa e a sua incrível força de vontade para superá-la, recusando-se a deixar-se ficar preso num corpo imóvel e grotesco, como um vegetal. Quase totalmente impossibilitado de comunicar com o mundo à sua volta, Stephen Hawking, em vez de se fechar sobre si mesmo, conseguiu abranger o Universo todo! Não se dedicou apenas à sua pessoa, à sua terra natal, ao seu país, ao seu planeta, mas ao Universo TODO, em todas as suas dimensões espácio-temporais!

Stephen Hawking foi um físico teórico, como só a sua doença lhe permitia ser. Formulou diversas teorias a partir do seu fulgurante raciocínio, de entre as quais sobressai a teoria de que os buracos negros, afinal, não serão tão negros como se diz, isto é, não serão as singularidades cuja atração gravitacional tudo absorve, incluindo a luz, como se diz. Segundo Hawking, os buracos negros também conseguem emitir energia cá para fora até, em última instância, acabarem por desaparecer. Nesta sua teoria, Hawking aliou a gravidade à eletrodinâmica quântica, segundo a qual o vazio absoluto não existe na realidade, pois estão constantemente a aparecer, a partir do nada, pares de partículas virtuais, que logo a seguir se aniquilam mutuamente e desaparecem. Quer isto dizer que constantemente aparecem e desaparecem, a partir do vazio, pares de quarks e antiquarks, eletrões e antieletrões (ou positrões), etc. Se um par destas partículas surgir precisamente na linha do "horizonte" de eventos de um buraco negro, poderá acontecer que uma dessas partículas seja imediatamente absorvida pelo próprio buraco negro, enquanto a outra partícula conseguiria escapar à atração e seria lançada para o espaço, impossibilitada de se unir à sua parceira (que o buraco negro "engoliu") para desaparecer com ela. Esta emissão de partículas a partir do "horizonte" de um buraco negro recebeu o nome de "radiação Hawking". O próprio Hawking previu igualmente que seria impossível detetar esta radiação, por qualquer meio que seja, por ser incrivelmente lenta.

É verdade que tudo isto não passa de uma teoria, saída do cérebro privilegiado de Stephen Hawking, juntamente com outras teorias por ele formuladas, como uma que diz que, afinal, é possível recuperar informação de um buraco negro. Como teorias que são, estas ideias podem estar certas ou podem estar erradas. Será possível que no futuro (que certamente não será próximo) se virá a conseguir comprovar a sua veracidade? Lembremo-nos de um outro génio da Física, Albert Einstein. Como consequência da sua Teoria da Relatividade Generalizada, Einstein tinha previsto, no ano 1916, a existência de ondas gravitacionais. Noventa e nove anos depois, mais precisamente no dia 14 de setembro de 2015, foi possível detetar, pela primeira vez, ondas gravitacionais provenientes da fusão de dois buracos negros. Foi preciso esperar praticamente um século para se concluir que, também neste caso, Einstein estava certo. As ondas gravitacionais existem mesmo! E a radiação Hawking? Existirá também? Fica no ar a pergunta, para a qual ninguém tem ainda uma resposta.

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