26 agosto 2018

Maqāmāt de Al-Ḥarīrī


Discussão nas proximidades de uma aldeia. Ilustração de Yahyā ibn Mahmūd al-Wāsitī, 1237. Biblioteca Nacional, Paris, França

Maqāmāt (مقامات, em português "Assembleias") de Al-Ḥarīrī é um livro escrito por Abū Muḥammad al-Qāsim ibn ʿAlī al-Ḥarīrī (1054–1122), natural de Basra, no atual Iraque. Contém 50 histórias relativamente curtas em prosa e verso, as quais narram as peripécias vividas por Abū Zayd, alegadamente natural do norte da Síria.

O narrador deste livro conta os seus encontros com Abū Zayd, um artista e vagabundo que se serve de uma grande eloquência, capacidade de falar para assembleias numerosas, domínio da gramática árabe e vastos conhecimentos de poesia para, sob disfarce e de forma desonesta, acabar por fugir com o dinheiro do crédulo narrador, depois de o envolver em situações embaraçosas, difíceis e até violentas.

Logo tornado muito popular, graças ao humor, às aventuras e à erudição que apresenta, este livro foi objeto, ao longo da Idade Média, de várias edições manuscritas e ilustradas, qual delas a mais deslumbrante.


Desfile da cavalaria abássida por ocasião do fim do Ramadão. Ilustração de Yahyā ibn Mahmūd al-Wāsitī, 1237. Biblioteca Nacional, Paris, França


Representação de uma taberna, onde se vê uma tocadora de alaúde, assim como Abū Zayd e outros presentes com uma taça de vinho na mão. Ilustração de um artista desconhecido da cidade do Cairo, 1334. Biblioteca Nacional Austríaca, Viena, Áustria


Boda de casamento na mansão de um pedinte no Cairo. Ilustração de um artista iraquiano desconhecido, 1230. Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa das Ciências, Sampetersburgo, Rússia

Comentários: 2

Anonymous Alfacinha escreveu...

Em todo em caso são ilustrações lindas
um abraço

26 agosto, 2018 07:11  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

As ilustrações são realmente lindas, caro Alfacinha. Resolvi escolher estas, pertencentes a três livros diferentes, como poderia ter escolhido outras igualmente lindas.

Note-se que estas ilustrações foram feitas durante os califados dos abássidas (com capital em Bagdad) e dos mamelucos (com capital no Cairo), isto é, foram feitas por muçulmanos vivendo numa sociedade muçulmana. E contudo elas mostram-nos representações de pessoas e de animais, ao contrário do que se vê na generalidade da arte islâmica, que é abstrata e de base geométrica. «Então o Alcorão não proíbe as representações de seres vivos?», perguntar-se-á. Explicitamente, o Alcorão não as proíbe, mas os teólogos islâmicos deduziram uma tal proibição, dado estar expressa no livro sagrado do Islão uma fortíssima condenação da idolatria. Para um muçulmano, só existe um Deus, que é uno e indivisível, sem família nem filhos (esta é uma referência ao cristianismo, com o seu dogma da Santíssima Trindade e a sua proclamação de Jesus Cristo como filho de Deus). Como os deuses dos idólatras são representados por imagens, então os teólogos islâmicos proíbem as imagens. De qualquer modo, existem representações de seres humanos e de animais na arte islâmica, como aqui se vê, e até em manuscritos do Alcorão feitos nos primeiros séculos do Islamismo, em que se observam, inclusivamente, representações do próprio profeta Maomé e do arcanjo Gabriel.

O que o Alcorão proíbe de forma inequívoca é o consumo de bebidas alcoólicas, isso sim. No entanto, a terceira ilustração que publico mostra uma cena de uma taberna, onde as personagens têm uma taça de vinho na mão e apresentam os rostos vermelhos pela bebida. Isto é que é pecado perante o Islão. No entanto, esta ilustração revela-nos que havia tabernas na própria capital do império mameluco, a cidade do Cairo.

27 agosto, 2018 00:25  

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