19 novembro 2018

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca (1894–1930)


Comentários: 3

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Tão belo, este soneto da Florbela...

Obrigada, Fernando.

Abraço

20 novembro, 2018 11:35  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Todos os sonetos de Florbela Espanca são belos, mas este é dos mais belos, na minha modesta opinião.

Confesso que tive uma certa dificuldade em desligar este soneto da canção que os Trovante gravaram com base nele. A dado momento, dei por mim a trautear a canção dentro da minha cabeça, enquanto lia o soneto. Eu não nego que a música é muito bonita, como quase todas as dos Trovante, mas não é música para este soneto, não tem o arrebatamento que a poesia de Florbela requer. Achei por isso preferível publicar só as palavras, sem a música.

Obrigado pelo seu comentário.

21 novembro, 2018 01:56  
Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Conheço e gosto muito da canção dos Trovante, mas a poesia tem, sobretudo para mim que sou sinesteta, uma sonoridade muito própria. Gosto muito de lê-la assim, só na musicalidade das palavras que a compõem.

21 novembro, 2018 13:57  

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