07 janeiro 2020

A fortaleza de Juromenha


Vista aérea da fortaleza de Juromenha, concelho de Alandroal (Foto: Duarte Fernandes Pinto)

Há ruínas e ruínas. Há ruínas antigas, cheias de dignidade, que atraem multidões de turistas, e há ruínas velhas, que são a própria imagem da decadência e do abandono e pelas quais ninguém se interessa. A fortaleza de Juromenha pertence a esta segunda categoria. Ela é a verdadeira representação viva do abandono a que tem sido votado o interior de Portugal Continental em geral e o interior do Alentejo em particular.

Juromenha, que D. Afonso Henriques conquistara aos mouros em 1166, juntamente com Moura e Serpa, desempenhou ao longo dos séculos um importantíssimo papel na defesa do território português, contra os mouros, primeiro, e contra os espanhóis, depois. A sua origem perde-se na noite dos tempos, sendo a sua fundação atribuída a galo-celtas, adoradores de Endovélico e outros deuses locais. Passou pelas mãos de romanos, de mouros, de portugueses, outra vez pela de mouros e pela de portugueses mais uma vez.


Vista do interior da fortaleza de Juromenha (Foto: Maria Ana BS)

A fortaleza, tal como existe agora em Juromenha, foi edificada no séc. XVII, por ocasião da Guerra da Restauração, no local onde antes tinha existido uma fortificação mourisca, primeiro, e um castelo medieval, depois, mandado erguer pelo rei D. Dinis. Em 1659, uma terrível explosão de um paiol de pólvora causou a morte de cerca de cem pessoas.

A seguir, a fortaleza de Juromenha voltou a mudar de mãos, tendo sido ocupada pela Espanha em 1662, durante a Guerra da Restauração, passado para o domínio português em 1668, voltado a ser conquistada pelos espanhóis durante a chamada "Guerra das Laranjas", em 1801, e regressado à soberania portuguesa em 1808. Por fim, a evolução da tecnologia militar acabou por torná-la irrelevante e ditou o seu abandono definitivo em 1920.


O interior da igreja matriz de Juromenha encontra-se neste miserável estado (Foto: António Neves)

O que agora se vê na fortaleza de Juromenha é confrangedor. Tudo o que havia para roubar, já foi roubado. Tudo o que havia para vandalizar, já foi vandalizado. O que resta, vai caindo aos bocados por efeito da passagem do tempo. Em 2018, ruiu uma das torres da fortaleza. A igreja matriz, então, é um exemplo particularmente eloquente da decadência de Juromenha. Por que se espera para transformar estas ruínas velhas e desprezadas numas ruínas antigas e dignificadas? A região é lindíssima, o rio Guadiana é convidativo e o Alentejo precisa de gente nova como de pão para a boca.


O rio Guadiana espreguiça-se aos pés da fortaleza de Juromenha (Foto de autor desconhecido)

Comentários: 2

Blogger Rogério G.V. Pereira escreveu...

Fizeste-me ter saudades de lá voltar...

08 janeiro, 2020 00:59  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Uma das coisas que mais me impressionaram na fortaleza de Juromenha foi o silêncio. Nem o pio de uma ave se ouvia. O silêncio acentuava ainda mais a sensação de desolação e abandono daquelas ruínas.

08 janeiro, 2020 17:45  

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