14 julho 2020

A Fábrica dos Sons, de António Victorino d'Almeida


A Fábrica dos Sons para Orquestra e Narrador, op. 45, de António Victorino d'Almeida, pela Orquestra Sinfónica "Tonkünstler" da Baixa Áustria (de Viena e Sankt Pölten), dirigida por António Victorino d'Almeida, e narração de Maria de Medeiros

Comentários: 2

Blogger Ricardo Santos escreveu...

Esta obra do António Victorino d'Almeida é algo de bonito. Aliás o maestro foi em tempos ums dos grandes pianistas mundial e é um grande compositor.
Obrigado pela lembrança do Victorino d'Almeida !

14 julho, 2020 18:47  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

A peça de António Victorino d'Almeida que eu tencionava publicar neste espaço era a Catedral da Angústia. Quando fui procurá-la no Google, apareceu-me esta Fábrica dos Sons, que eu tenho ideia de ter ouvido há muitos anos, interpretada ao piano pelo próprio autor. Creio que a ouvi em Afife, Viana do Castelo, no ano 1983, num memorável serão passado num castro existente nas imediações daquela localidade minhota, em que os Trovante participaram e em que Carlos Paredes também deveria ter participado, mas não compareceu. Como a Fábrica dos Sons é uma obra um pouco menos "experimentalista" do que a Catedral da Angústia, tendo uma sonoridade propositadamente "chaplinesca" aqui e além, acabei por partilhar a Fábrica dos Sons neste post.

António Victorino d'Almeida é um músico de formação clássica, mas no entanto é irreverente e até provocador por temperamento. Aderiu às correntes mais vanguardistas da música do séc. XX, de que a Catedral da Angústia é, na minha opinião pessoal, uma das suas mais inspiradas obras. Porém, a música de vanguarda foi (e continua a ser) recusada pelo público em geral, que a considera uma cacofonia sem pés nem cabeça. A Fábrica dos Sons terá sido, então, uma tentativa, por parte de Victorino d'Almeida, de despertar algum interesse do público, usando uma certa sonoridade "chaplinesca" na peça, mas sem renegar a vanguarda musical que perfilha.

Gosto muito de ambas as peças. Gosto muito da Catedral da Angústia e gosto muito da Fábrica dos Sons. E gosto muito também, e sobretudo, dos improvisos feitos por ele e por Carlos Paredes em simultâneo. A este respeito, convém dizer o seguinte:

Naquela já longínqua noite passada em Afife de que falo acima, esperava-se que Carlos Paredes também atuasse perante o público que se encontrava espalhado pelas ruínas do castro. Estava previsto que ele tocasse de improviso com António Victorino d'Almeida, cada qual no seu instrumento, Carlos Paredes à guitarra e Victorino d'Almeida ao piano. Mas Carlos Paredes era um homem extremamente tímido e no último momento não teve coragem para enfrentar o público. Explicando com mais pormenor, Carlos Paredes saiu de Lisboa de propósito para atuar em Afife, mas quando chegou a Viana do Castelo (depois de ter percorrido 400 km de estrada!), faltou-lhe a coragem para enfrentar o público que o aguardava uns escassos 15 km mais à frente... Ficou então António Victorino d'Almeida sozinho a completar o serão. Como Victorino d'Almeida tinha de sobra o descaramento que faltava a Carlos Paredes, ele terá então tocado a Fábrica dos Sons ao piano, com muita conversa e muitas piadas à mistura no lugar da narração. Mesmo sem Carlos Paredes, foi uma noite memorável.

Para que se saiba do que estou a falar, seguem-se duas gravações que encontrei no Youtube:

- A Catedral da Angústia (https://www.youtube.com/watch?v=V8t77KdTGrI);

- Carlos Paredes e António Victorino d'Almeida tocando completamente de improviso; algo semelhante deveria ter acontecido em Afife, mas não aconteceu (https://www.youtube.com/watch?v=GE3715wT7Hs).

Já agora, e para concluir com um pouco de bom-humor, António Victorino d'Almeida, no Zip-Zip, tocou ao piano um pequeno excerto da Valsa de Ravel com os cotovelos! (https://www.youtube.com/watch?v=tSh4PXLY4PI)

16 julho, 2020 02:39  

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