09 agosto 2020

COVID-19: o Brasil soma cem mil mortos e continua a somar


O carismático cacique (chefe tribal) Aritana Yawalapiti, do povo indígena brasileiro Yawalapiti, foi uma das muitas vítimas da pandemia COVID-19. Contraiu a doença na sua própria aldeia, no Parque Indígena do Xingu, de onde foi levado para a pequena cidade de Canarana, no Mato Grosso, onde não existiam condições para tratar o seu grave estado. De Canarana, o cacique Aritana foi então transportado para Goiânia, onde ficou internado num hospital após uma viagem de automóvel de mais de 700 km. Acabou por falecer no dia 5 de agosto de 2020. Quem o conheceu pessoalmente, elogia a sua sabedoria e o seu uso preferencial da diplomacia para a resolução de conflitos. Era um dos mais respeitados líderes indígenas de todo o Brasil (Foto: Renato Soares?)



MINHA HOMENAGEM AO QUERIDO ARITANA YAWALAPITI

Quando menino escutava a musica de abertura de uma novela em preto e branco chamada "Aritana". Achava fascinante os povos indígenas e sua luta para salvar a aldeia dos invasores. O tempo passou e um dia sentado na sala da casa de Orlando Villas Bôas, vejo entrar pela porta o grande cacique Aritana. Olhou para mim e sorriu. Eu falante que sou, emudeci de emoção e silenciei. Respirei fundo e fiz apenas uma pergunta: "Aritana, me leva para o Xingu?!"

Ele riu pois achou engraçado do jeito que eu falei. Orlando deu uma gargalhada e disse, "Leva ele e não traga de volta não!". Rimos e conversamos durante horas e naquele dia nasceu nossa amizade. Aritana foi um homem especial e amado por toda sua gente. Neste momento os peixes no rio Xingu choram, as onças na mata choram, os passarinhos deixaram de voar neste dia triste. Triste ficamos aqui na terra dos viventes. Minhas lentes e minhas maquinas se trancaram na escuridão pois sem a luz não há fotografia. Segue em paz sua jornada para o Ivati encontrar-se com os seus e contar novas historias.


Renato Soares, fotógrafo brasileiro



Existem índios isolados no Brasil, que também estão à mercê da pandemia COVID-19. O isolamento destes índios não é total. Eles podem nunca ter visto um branco ou um negro, mas contactam com índios de povos vizinhos, que já não vivem isolados e que podem transmitir-lhes a doença. É o caso do povo Yanomami (na imagem), em cujos territórios ainda habitam índios isolados e aonde a pandemia já chegou (Foto: Joédson Alves/EFE, na região de Surucucu, município de Alto Alegre, em Roraima, Brasil)

Comentários: 3

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Aqui, a História repete-se...já vimos acontecer o mesmo com a varíola e até com a gripe comum. Que Aritana repouse em paz no seu Ivati.

Abraço.

09 agosto, 2020 10:42  
Blogger Ricardo Santos escreveu...

Somente espero que alguém tenha piedade deste Povo que vive num país riquíssimo, mas somente para alguns !!! :(((

09 agosto, 2020 21:24  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Pois é, meus amigos. Se já era mau ter um presidente incompetente e fascista, o Brasil é agora atingido pela pandemia do coronavírus de uma forma brutal. Como se costuma dizer, «um mal nunca vem só». Que Deus (se existir) tenha piedade do Brasil.

Por aquilo que consegui averiguar sobre a forma de governo dos povos indígenas do Brasil, um cacique não é um chefe absoluto a quem todos devam obedecer. As decisões importantes sobre a vida de uma tribo ou de uma aldeia não são tomadas pelo cacique, mas sim por um conselho de anciãos, do qual o cacique também faz parte por inerência de funções. Uma vez tomadas, as decisões são levadas à prática pelo cacique, que se responsabiliza pela sua execução. O cacique não é um ditador, mas sim um coordenador e um executor.

No vídeo seguinte podemos ouvir o falecido cacique Aritana Yawalapiti expressando a sua preocupação com o destruição da floresta, com as alterações climáticas e com o envenenamento dos rios por pesticidas (a que ele chama agrotóxicos) aplicados aos campos de soja que envolvem o Xingu.

https://www.youtube.com/watch?v=oa3uRopeLr8

15 agosto, 2020 02:16  

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