22 novembro 2020

Meu amor da Rua Onze

Tantas juras nos trocamos,
Tantas promessas fizemos,
Tantos beijos roubamos,
Tantos abraços nos demos.

Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais mentir.

Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais fingir.

Era tão grande e tão belo
Nosso romance de amor
Que ainda sinto o calor
Das juras que nos trocamos.

Era tão bela, tão doce
Nossa maneira de amar
Que ainda pairam no ar
As promessas que fizemos.

Nossa maneira de amar
era tão doida, tão louca
Qu'inda me queimam a boca
Os beijos que nos roubamos.

Tanta loucura e doidice
Tinha o nosso amor desfeito
Que ainda sinto no peito
Os abraços que nos demos.

E agora
Tudo acabou.
Terminou
Nosso romance.

Quando te vejo passar
Com o teu andar
Senhoril,
Sinto nascer

E crescer
Uma saudade infinita
Do teu corpo gentil
De escultura
Cor de bronze,
Meu amor da Rua Onze.

Aires de Almeida Santos (1922-1991), poeta angolano



(Foto: Jessé Manuel)

Comentários: 8

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Aqui está um excelente poema de um poeta que desconhecia.
Obrigada por mo ter apresentado, Fernando.

Abraço

23 novembro, 2020 08:34  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Maria João,
Angola é um país que tem uma plêiade de excelentes poetas de língua portuguesa. Não me refiro só a Agostinho Neto, mas a muitos mais, dos mais diversos quadrantes políticos e sociais. Aires de Almeida Santos foi um deles.

A título de exemplo, permito-me remetê-la para o seguinte poema de Alda Lara, poetisa angolana que nasceu em 1930 e faleceu em 1962. Só viveu 32 anos.

TESTAMENTO

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes
Que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,

Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

24 novembro, 2020 02:23  
Anonymous Zé Kahango escreveu...

Um grande abraço!

08 dezembro, 2020 20:12  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Caro Zé Kahango,
Agradeço a sua visita e peço-lhe desculpa por não ter vencido a preguiça e deixado uma mensagem no seu blog Angola Profunda, que reativou. Pode ter a certeza de que o acompanharei, sempre que trouxer novidades. O Angola Profunda está na minha lista de blogs preferidos desde a primeira hora.

09 dezembro, 2020 02:46  
Blogger Maria escreveu...

Aires de Almeida Santos faleceu em 1992

30 outubro, 2023 04:15  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Prezada Maria, agradeço o seu reparo, mas noto que a Infopedia, que me parece ser uma fonte de informação minimamente digna de crédito, afirma que Aires de Almeida Santos faleceu em 1991. Além disso, o site Lusofonia Poética adianta que ele morreu no dia 3 de setembro de 1991.

Aqui:
https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$aires-de-almeida-santos
https://www.lusofoniapoetica.com/angola/aires-almeida-santos

30 outubro, 2023 14:34  
Anonymous Anónimo escreveu...

Em qual manual consta esse lindo texto?

29 agosto, 2024 22:13  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Este poema de Aires de Almeida Santos faz parte de um livro também chamado "Meu Amor da Rua Onze", que foi publicado em 1987, mas já tinha figurado antes em diversos manuais e antologias. É um clássico da poesia angolana, que continua a ser publicado e reproduzido sem parar, com todo o merecimento.

31 agosto, 2024 01:39  

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