30 janeiro 2021

Música de Angola


Canto tradicional, por um grupo de senhoras do Bailundo, província do Huambo

Manuelé, por Sabu Guimarães

Malalanza ("Laranjas"), por Carlos Burity

Nvula Ieza Kiá ("A Chuva Já Chegou") e Humbiumbi (nome de uma ave de penas negras), duas canções de Filipe Mukenga, pelos cantores brasileiros Gilberto Gil e Djavan

Comentários: 7

Blogger Ricardo Santos escreveu...

Conheço alguns cantores e cantoras dos povos palops. Alguns com muita qualidade, independentemente da sua origem humilde e eventualmente impossibilidade de estudos académicos na área musical. Daqui já conhecia de ouvir Carlos Burity, e obviamente, o brasileiro Djavan. Obrigado pela divulgação Fernando.

31 janeiro, 2021 21:44  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Muito poucos artistas musicais angolanos se tornaram conhecidos em Portugal. O caso mais notável é, certamente, o do Duo Ouro Negro, mas também se tornaram conhecidos Rui Mingas e Bonga. Lily Tchiumba também poderá ser incluida na lista, se bem que talvez tenha conseguido menos popularidade do que os outros. Tudo começou, no entanto, com a atuação perante as câmaras da televisão do conjunto Ngola Ritmos, tendo Lourdes van Dunem como vocalista, em 1964 (https://www.youtube.com/watch?v=5TCM-31nBO8). Foram eles quem abriu as portas da então Metrópole colonial aos restantes.

A seguir, em meados da década de 60 aconteceu uma profunda remodelação da Emissora Oficial de Angola, com a criação de um canal de rádio oficial dedicado unicamente à transmissão de música angolana, e só de música angolana, chamado "Voz de Angola". Assistiu-se então a uma "explosão" musical, com dezenas e dezenas de novos intérpretes e o estabelecimento de um género musical a que se deu o nome de semba. Os anos finais da colonização são ainda hoje considerados os anos de ouro da música popular angolana, em que pontificaram nomes como o de Elias diá Kimuezu (https://www.youtube.com/watch?v=6_emNmPvsnI; as imagens do vídeo não têm relação nenhuma com a canção), Belita Palma (https://www.youtube.com/watch?v=_sDWt2ICzNo), Fernando Sofia Rosa (https://www.youtube.com/watch?v=g5IdXeGTNZ8), o músico cego Minguito (https://www.youtube.com/watch?v=OKvX1clT5Uc), o conjunto "Os Kiezos" https://www.youtube.com/watch?v=_AUtvaE2fUY, o conjunto Ngoma Jazz, com nítidas influências da música congolesa (https://www.youtube.com/watch?v=TAmpT0yKHCY), Prado Paim (https://www.youtube.com/watch?v=hj-OquYNQwk) e muitíssimos mais.

Como foi possível que, deste enorme acervo musical popular existente no momento em que Angola ascendia à independência, se tenha chegado à indigência musical angolana atual, em que a kizomba não é mais do que um zouk de 5.ª categoria e o kuduro é uma degenerescência de um ritmo tradicional de Malange? O que aconteceu à criatividade musical dos angolanos?

02 fevereiro, 2021 02:52  
Blogger Ricardo Santos escreveu...

Muito obrigado pela elucidativa resposta Fernando, e também, pelos links.
Abraço

02 fevereiro, 2021 14:07  
Blogger Carlos Romão escreveu...

Saudades de uma parte da minha juventude em Angola. O canto tradicional do Bailundo fez-me lembrar umas gravações que por lá fiz, mais para leste, em Dala, no sul da Lunda. Tenho de ver o que resta delas nas cassetes que tenho guardadas.

06 fevereiro, 2021 19:13  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Carlos Romão, eu também fiz gravações em Zemba, no norte de Angola. A cassete está em péssimo estado. Há cerca de dez anos tentei passar o seu conteúdo para o computador, mas ela partia-se de cada vez que a punha a tocar, ficando ainda mais danificada do que já estava. Mesmo assim, consegui recuperar duas canções. No ano passado, disposto a digitalizar o resto do conteúdo, comprei um novo gravador numa loja de chineses e, com a ajuda deste gravador, consegui recuperar o resto da cassete. Tenho três ou quatro canções no Youtube, mas as estatísticas indicam-me que praticamente ninguém se mostra interessado em ouvir aquilo. Desisti de passar o resto para o Youtube. Elas estão todas numa conta que tenho no Podomatic. Se quiser ouvi-las, aponte para https://www.podomatic.com/podcasts/s-ribeiro. Um abraço.

08 fevereiro, 2021 02:35  
Blogger Carlos Romão escreveu...

Fernando Ribeiro, apesar das gravações terem as marcas do tempo, como refere, a agradável sonoridade africana está lá. As que fiz são de batucadas populares que aconteciam todas as sextas-feiras, numa povoação chamada Txixileje, próxima do quartel onde estive. Eu sentia uma grande atracção por aqueles sons que se ouviam no quartel, durante a noite, na imensidão da savana. Fui lá inúmeras vezes e uma ou outra vez levei um gravador, um Grundig que era um primor. Os músicos não eram grande coisa. Enquanto uns tocavam pequenos batuques, havia os que usavam uns grandes bidões que tinham sido deixados por lá pela JAEA, durante a asfaltagem da estrada que ligava Luso a Henrique de Carvalho (actuais Luena e Saurimo). Mas era uma grande festa. Só eu e um camarada militar, que era de Gondomar, é que nos aventurávamos naquilo. Talvez por lidarmos com militares africanos, ele com Grupos Especiais e eu com catangueses, militares secessionistas do Catanga, refugiados em Angola, que constituíam o FNLC, o Front National de Libération du Congo. Mas isso é outra história... Um abraço

21 fevereiro, 2021 20:06  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Carlos Romão, onde eu estive, no norte de Angola, só havia tropa regular do Exército Português. Parece que havia GEs em Nambuangongo, mas eu nunca fiz operações com eles. A minha companhia era composta por militares portugueses ("metropolitanos") e também angolanos, uns e outros a cumprirem o serviço militar obrigatório, tal como eu. O pelotão que comandei incluía dois primeiros-cabos e onze soldados angolanos, todos negros menos um, que era mestiço embora aparentasse ser branco. Tenho as maiores saudades deles. Ensinaram-me montanhas e montanhas de coisas sobre Angola e sobre África em geral, a ponto de me fazerem sentir quase tão angolano como eles.

Na região dos Dembos, onde estive durante a primeira metade da minha comissão militar, praticamente não havia batucadas. A esmagadora maioria da população local vivia escondida na mata, junto dos guerrilheiros da FNLA, e nunca fazia batuques, para que estes não denunciassem a sua localização à tropa portuguesa. A escassa população que vivia do lado português, por seu lado, tinha que pedir autorização para fazer um batuque, a qual só era concedida quando o comandante estivesse bem disposto, e mesmo assim tinha que acabar às dez ou onze da noite. Nestes batuques não eram tocados tambores, mas sim bidões de gasolina vazios, que faziam um som horrível.

A seguir, passei a segunda metade da minha comissão militar junto à fronteira norte de Angola, perto de Maquela do Zombo, e aí, sim, havia batucadas com fartura. Havia noites em que se ouviam dois, três ou quatro batuques simultâneos em sanzalas diferentes, realizados num e no outro lado da fronteira. Os batuques dos bacongos eram uma coisa digna de se presenciar, pois eram tocados tambores africanos verdadeiros, maravilhosamente esculpidos e que produziam um belíssimo som retumbante. A energia que era aplicada no toque destes tambores era verdadeiramente assombrosa. Os batuques duravam toda a noite e só acabavam depois de o sol ter nascido. Também fiz gravações para uma cassete, mas infelizmente esta estragou-se completamente. Tenho-a guardada, mas não a posso tocar, pois está torcida e retorcida e partida em vários pontos. Não sou capaz de a recuperar.

24 fevereiro, 2021 03:09