21 março 2021

As mãos pressentem a leveza rubra do lume

As mãos pressentem a leveza rubra do lume
repetem gestos semelhantes a corolas de flores
voos de pássaro ferido no marulho da alba
ou ficam assim azuis
queimadas pela secular idade desta luz
encalhada como um barco nos confins do olhar

ergues de novo as cansadas e sábias mãos
tocas o vazio de muitos dias sem desejo e
o amargor húmido das noites e tanta ignorância
tanto ouro sonhado sobre a pele tanta treva
quase nada

Al Berto (1948–1997)
(Foto: Getty)

Comentários: 3

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Al Berto, sombrio, não é um dos meus poetas favoritos mas concedo-lhe um lugar entre os mais laboriosos representantes da espécie.

Um abraço, Fernando

22 março, 2021 09:28  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Al Berto foi nitidamente um poeta do séc. XX, exprimindo uma desesperança evidente nos seus versos. Não esqueçamos que foi no exílio que ele viveu os anos de chumbo dos finais da ditadura de Salazar e Caetano, que pareciam não ter fim. Isso reflete-se na sua poesia. Al Berto foi um poeta sombrio, como a Maria João muito bem diz, desajustado e desesperado. Parece-me que tem direito a ocupar um lugar importante na literatura portuguesa do último século.

Um grande abraço virtual

23 março, 2021 02:39  
Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Absolutamente de acordo, Fernando! Nem por um segundo duvido de que mereça ocupar um lugar de destaque na literatura portuguesa do séc. XX.

Limitei-me a dizer que não o contava entre os meus favoritos, nem me passou pela cabeça tentar reduzir a importância e a irrefutável qualidade da sua obra.

Outro grande abraço virtual

25 março, 2021 10:08  

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