eu quero escrever coisas verdes
eu quero escrever coisas verdes
verdes
como as folhas desta floresta molhada
verdes
como teus olhos
que só a saudade deixa ver
verdes
como a menina duma trança só
que soletra em português sa-po sa-po
verdes
como a cobra esguia que me surpreendeu
naquela cubata sem outra história
verdes
como a manhã azul
que acaba de nascer
eu quero escrever coisas verdes
Arlindo Barbeitos (1940-2021), poeta angolano
Em Tempué, Luchazes, Moxico, Angola (Foto: Mauro Sérgio)
Comentários: 2
Eu quero ler coisas verdes
desse verde angolano
em versos perenes
como folhas
da cor de olhos
Rogério,
O verde angolano Arlindo Barbeitos foi um poeta de primeira água. Os seus versos são todos curtos, como este, mas cheios de significado. Tenho um livro dele que comprei há muitos anos, chamado "Angola, Angolê, Angolema", que é muito bom. Este poema, porém, foi respigado da internet.
Eu não sei se Arlindo Barbeitos chegou a ser guerrilheiro do MPLA. Pelo menos, era para ser, mas foi atingido por uma tuberculose, que o obrigou a tomar o rumo de um país do leste europeu a fim de ser tratado convenientemente. Ficou curado da tuberculose, mas agora não resistiu à covid-19, que o matou há poucos meses. A sua morte é uma grande perda para a Poesia.
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